sábado, 28 de março de 2015

O AVC DO JOSÉ DIRCEU

Duras são as palavras  do "selva brasilis"... É possível ter compaixão de quem miserabilizou a vida de milhões de brasileiros? O dinheiro que sangrou pelas veias abertas desse país latino-americano, deixou de ser usado para políticas públicas de saúde, segurança, saneamento básico, educação... E milhões de brasileiros continuaram o seu ciclo de atrasos em setores básicos da nação, deixando o povo ao desamparo do mínimo indispensável para alguns restos de dignidade.
Então, retorno a minha interrogação inicial: é possível compaixão por quem desprezou uma nação inteira pela ambição desmesurada? É possível compaixão por quem perdeu qualquer sombra de escrúpulos e saqueou o dinheiro público, para locupletar-se de prazeres mundanos?
Sim... Talvez seja possível a compaixão, pelos que compreendem a breve e efêmera passagem do homem pela terra, e sabe que não adianta acumular riquezas pela simples razão de que não poderá levá-las a lugar algum. Toda a ambição se esfarela diante da vida que se estende por dois pontos: antes o desconhecido e depois o desconhecido... 
A vida é apenas uma travessia entre infinitos. A miserável vida de políticos fraudadores do bem público, da "res publica", por si apenas já é digna de compaixão, pois alimenta-se do medo permanente do futuro, do que possa acontecer ante a descoberta do roubo.
E aí sobram exemplos da destruição do orgulho, da vaidade, da ambição de tantos políticos, de tantos ditadores que tropeçaram ao longo do caminho da improbidade, da falta de caráter, da indignidade de suas vidas, dos retratos que sobram para a posteridade.
A compaixão não é apenas um ato da vida cristã, mas também representa a sensibilidade humana dos que percebem a fragilidade, a fraqueza, a debilidade da vida. Apenas um fio entre eternidades...
A saciedade da fortuna despreza os pequenos prazeres que a vida nos dá de graça. A riqueza satura os sentidos, nos transforma em caçadores de estranhos resíduos dos nossos instintos, que ainda sobrevivem sob a nossa delicada capa de cultura, de civilização
A compreensão de que a vida nos é dada para a realização de alguns misteriosos desígnios, nos força a compaixão por todos os seres vivos, da nossa espécie ou não.
Compaixão, o mais digno dos sentimentos.

28 de março de 2015
m.americo

terça-feira, 24 de março de 2015

O MISTERIOSO LIVRO ESCRITO EM IDIOMA INDECIFRÁVEL


Foto: Simon Worrall
O Manuscrito de Voynich apresenta linguagem e ilustrações indecifráveis
Um livro escrito em um idioma que não existe e ilustrado com plantas e criaturas nunca vistas é um dos grandes mistérios da Bibilioteca Beinecke de Manuscritos e Livros Raros da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
O livro é conhecido como Manuscrito de Voynich, uma homenagem ao comerciante de livros usados Wilfrid Voynich, polonês naturalizado britânico que teria descoberto o misterioso livro na Itália, em 1912.
Desde então, o texto se transformou em obsessão de vários especialistas e gerou muitas teorias, algumas científicas e outras mais absurdas.
"Minha favorita é a que fala que (o livro) é um diário ilustrado de um adolescente extraterrestre que o esqueceu na Terra antes de partir", disse em tom de piada o curador da Biblioteca Beinecke, Ray Clements.
O manuscrito é, na verdade, um livro pequeno, do tamanho de uma das reedições de clássicos da literatura que geralmente são impressos pela editora Penguin.
A capa é frágil, feita de couro desbotado, da cor de marfim desgastado.
Ao todo são 240 páginas ilustradas. Os desenhos parecem coisas descritas em visões alucinógenas, plantas estranhas, símbolos astrológicos, criaturas em forma de medusas e o que parece ser uma lagosta.
Em uma das imagens pode-se ver um grupo de mulheres nuas de pele muito pálida, que deslizam pelo que parece ser um tobogã de água.
O texto está escrito com tinta cor marrom e me faz recordar a descrições do idioma dos elfos, criação do escritor inglês J.R.R. Tolkien, autor de livros como O Hobbit eO Senhor dos Anéis.

Fuga para a Inglaterra

Wilfrid Voynich nasceu em 1865, era de origem polonesa e vivia na Lituânia, território que, na época, pertencia ao Império Russo. Ele foi preso e enviado para a Sibéria por exercer atividades revolucionárias.
Foto: Simon Worrall
Desenhos já foram relacionados a vegetação da América Central
Voynich conseguiu escapar da Sibéria através da Manchúria e fugiu para a Inglaterra.
Em Londres, ele estabeleceu uma livraria especializada em textos de segunda mão, que acabou se convertendo em um centro onde se reuniam os exilados políticos que viviam na capital britânica - e atraía nomes como Karl Marx.
Voynich afirmava que encontrou o manuscrito em um seminário jesuíta, nos arredores de Roma, chamado Villa Madragone.
No manuscrito estava anexado o que parecia ser uma carta escrita em 1665 por Johannes Marcus Marci, um físico do Sacro Império Romano.
A carta dizia que o livro chegou a pertencer a Rodolfo 2º, imperador do Sacro Império Romano (1576-1612) e que provavelmente seria obra do alquimista inglês Roger Bacon.
Outros dois possíveis autores que estariam envolvidos com o manuscrito seriam John Dee, mago e astrólogo da rainha Elizabeth 1ª, e um dos seguidores de Dee, Eward Kelley.
Voynich se referiu ao livro como "o manuscrito com a mensagem codificada de Roger Bacon".

Atração

Desde então, o manuscrito se transformou em um imã de mentes brilhantes.
Foto: Simon Worrall
Muitos acreditam que o livro não passa de uma falsificação
O americano William Friedman, um dos grandes criptógrafos do século 20 e que criou a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês), a instituição que recentemente teve grande destaque no mundo graças às denúncias de espionagem de Edward Snowden, passou 30 anos de sua vida tentando decifrar o código do manuscrito.
E as novas teorias sobre o misterioso livro se multiplicam.
Um botânico aposentado dos Estados Unidos disse recentemente que algumas das plantas eram originárias da América Central. Já um especialista britânico garantiu que, depois de aplicar seus conhecimentos em linguística, conseguiu traduzir dez palavras.

Falsificação

No entanto, é possível que o próprio Wilfrid Voynich tenha falsificado o livro.
Um dos artifícios mais comuns na história da falsificação é o de um comerciante de livros raros que "descobre" um manuscrito desconhecido.
Voynich é conhecido por ter este "toque mágico". Afirma-se que ele teria adquirido uma grande quantidade de pergaminho e que aplicou seu bom conhecimento de química, obtido na Universidade de Moscou, para produzir tintas com pigmentos parecidos com os usados na Idade Média.
É possível que, ao ter falsificado o manuscrito, Voynich fez o que muitos falsificadores já tinham feito: criou um segundo documento para validar o primeiro e dar a ele uma origem plausível.
Mas, até que sejam feitas análises e exames das tintas e pigmentos do manuscrito, o mistério deste livro continuará seduzindo atuais e futuros "Voynicologistas".
E até agora só se conseguiu determinar que o couro data do século 15.
24 de março de 2015

domingo, 15 de março de 2015

Ô, VÉIO! VAMOS FALAR DOS VÉIOS?

É véi para lá. Véi pra cá. Fala aí, véio! 
No pobre linguajar que se instala na nossa população o vocativo "Véi" virou uma daquelas pragas - de gíria e de muleta oral e verbal - que ninguém sabe onde começou nem quando vai acabar. 
O problema é que a rapaziada não sabe nem que o tal Véi/ véio que eles chamam significa velho: dito com uma certa preguiça, sarcasmo e ironia característica da geração net, velho virou véi. Todo mundo é véi hoje, sem lembrar que vai mesmo ser véio um dia e precisar de alguém, de algo

Antes era tia/tio. Vá lá, mas se usam para me chamar já levam pernada. Agora é Véio, isso, Véio, aquilo. Eles - os velhos, os idosos, os anciões - portanto, estão na boca do povo. Não dá para dar um passo sem ouvir o Véio em alguma boca por aí, até nas entrevistas. Mas, véio, seria legal que também estivessem nas suas cabeças, com mais gente pensando sobre isso, cuidando disso, falando sobre isso. O Brasil tem mais de 20,6 milhões e já outros muitos quebrados de idosos, 13% da população. Em 50 anos, quando creio que não estarei aqui para contar e ser mais um neste número ao qual logo logo pertencerei, serão mais de 58 milhões de idosos. Cada vez mais vivendo mais, causando, consumindo, querendo votar, podendo ser votado. (Aqui eu estou tentando valorizá-los nesse aspecto, mais junto aos políticos, para que se voltem ao assunto, já que gostam de dinheiro, poder e ...de votos! para ter dinheiro e poder).

Os velhos são fontes de luz e conhecimento, e podem colaborar com a sociedade até o finzinho de suas vidas, desde que ajudados, mais preservados, respeitados. E pode ter certeza: é o que querem fazer; até tentam, mas ainda são desprezados. Vejo casos de arrepiar de destratos, abandono e desinteresses por mais velhos, violência contra eles (outro dia um babaca universitário de merda quase matou um de porrada porque reclamou do barulho). Não há políticas públicas, atendimento. A maioria dos analfabetos vive no Nordeste e é idosa. Grande parte sem uma moradia adequada, sem recursos básicos e infraestrutura sanitária decente. Muita gente querendo beliscar seus caraminguás.

É difícil envelhecer. Sem dinheiro, então, mais ainda. Sem apoio, quase impossível. E estou afirmando com isso que não é só para eles que não há atenção. Cada vez é mais difícil para as famílias cuidarem de seus idosos. Remédios pela hora da morte. Planos de saúde sádicos e caros, muito caros. Mais fácil escalar uma montanha no Nepal do que poder pagar por um. Sem investimentos em casas de repouso, clínica para os que sofrem de males incuráveis, cuidadores bons, raros, caros e disputados, inflacionados. Não têm calçadas seguras para caminhar, equipamentos disponíveis, políticas públicas, orientação social, proteção legal, não têm, não têm, não têm também. É preciso tudo, mas principalmente com agilidade. O tempo urge. Carimba URGENTE no assunto.

Vivemos, nós, familiares, filhos ou filhas - e estou falando de muitas pessoas da minha geração que estão passando por esse dilema, um momento particularmente difícil, o fim, já que ninguém fica para semente e não inventaram a tal poção da juventude e nem ninguém aí tem pai ou mãe vampiro, imortal. Para nós, cada dia é uma surpresa, uma aventura, um compasso, um passo à frente na madeira do trampolim. A gente assiste (e ouve) dores, reza, sopra aqui e ali, ama, protege, chega a pedir a Deus que pare as tais dores, ou até, que se possível fosse, as transfira todas para nós. Por que não se fala nisso? Por que não somos notados? Nem os véios de verdade, nem nós, os que estamos com eles. Parecemos invisíveis, e muitos de nós cuidamos de idosos que já não sabem nem mais quem somos, ou são mais frágeis que louça fina. Sempre há um que fique com a responsa, carregue mais, se sacrifique mais, tente segurar o relógio do tempo.

Essa semana meu pai fez 97 anos. 97. Tem noção? 35 mil, 405 dias. 849 mil e 720 horas. Começo do século passado, uma guerra mundial, várias revoluções e rebeldias, proibições e liberações, ganhos e perdas. Não, ele não fala sobre isso, porque o que passou de dificuldades para sobreviver desde a infância, vindo de paragens até hoje esquecidas do Amazonas, pulando de cidade em cidade, não mais o interessa. Ou prefere esquecer, o que compreendo porque foi uma vida toda difícil. O pouco que sei são informações esporádicas -só gosta de lembrar que comia jacaré e tartaruga, essa inclusive fornecia o prato com o seu casco. Da família, dos muitos irmãos, nada sobrou, que eu saiba. Minha avó, índia com nome dado de pedra preciosa, Esmeralda, morreu dando à luz a mais um caboquinho, que seria um tio se o tivesse conhecido, num barquinho no meio do Rio Negro. Do avô, o português, nada sei.

Com algumas capenguices, lúcido, mas com dores em todo o corpo e o constante lamento delas que não há como contornar a não ser com analgésicos paliativos. Trabalhou até os 90 anos de idade, desde os 10 anos, mas recebe hoje - e com toda sorte de obstáculos e dificuldades impostas por INSS e bancos - um salário mínimo. O mesmo que as parideiras do Bolsa Família recebem e, em geral, só começando nove meses antes pela parte boa.

Vivo o que falo. Mantenho meu pai vivo, da melhor forma que posso, me renegando outros prazeres; assim tentei manter minha mãe até o fim. Sobre o assunto, fui olhar o que o governo está fazendo e encontrei um mundo cor de rosa, cheio de cargos com nomes quilométricos, tipo "Coordenadora do Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso", fora burocratas declarando que estão fazendo algo. Tive um ataque de riso quando li um desses burrôs do aparelhamento festejando estarmos na 31ª posição no ranking dos países que oferecem melhor qualidade de vida e bem-estar a pessoas com mais de 60 anos, segundo o Global AgeWatch. E enjoei de vez quando li um outro falando no programa de atendimento domiciliar e cuidado hospitalar garantido. Em qual país? - por favor, me diga!

Deus tá vendo. Deus tá vendo. E, como logo gírias e expressões são rapidamente substituídas e essa semana, Véi!, apareceu mais uma, acho mesmo que no geral, ainda, quando pensam nos mais velhos, pensam mesmo só como aquela fala do comendador no último capítulo da novela, ao balear seu inimigo:

- "Morre fela da pota!"


São Paulo, 461 anos de idade, muitas dores e decrepitudes, 2015.
15 de março de 2015
Marly Gonçalves

quarta-feira, 11 de março de 2015

terça-feira, 10 de março de 2015

O QUE VOCÊ QUER SER QUANDO MORRER - ÁRVORE OU VINIL? PARTE 2


“Quando eu morrer, quero virar árvore” é um comentário comum dos empolgados com o anúncio de um projeto italiano chamado “The Capsula Mundi”. Desenvolvido por dois designers, Anna Citelli e Raoul Bretzel, consiste na substituição de caixões por cápsulas biodegradáveis, em formato de ovo. O corpo é enterrado em posição fetal, dentro dessas cápsulas, e servirão de nutrientes para uma árvore que crescerá a partir de sua decomposição. 


Pode-se plantar uma semente de árvore ou a própria árvore em cima do casulo. O site do projeto disponibiliza algumas opções de árvores para escolha, dependendo da região, e afirma que “a árvore representa a união entre a terra e o céu, o material e o imaterial, o corpo e a alma”.

Ainda não funciona na prática, porque as leis italianas não permitem esse tipo de enterro. Quando houver a permissão, seu objetivo é criar um cemitério cheio de árvores ao invés dos túmulos tradicionais. E oferecer um impacto positivo no meio ambiente, já que estaríamos adicionando uma árvore no mundo ao invés de usarmos uma para fazer o caixão.

Outra ideia inovadora é a opção de “virar um vinil” ao morrer. Os restos mortais são prensados num disco de vinil que toca músicas de sua escolha. O pacote básico custa U$3.000 dólares e inclui decoração e gravação de até 30 discos com duração máxima de 24 minutos cada, 12 minutos cada lado. 
Pode-se gravar depoimentos, sua própria voz, o testamento falado, músicas ou mesmo nada, para apenas escutar o som produzido pelas cinzas no vinil. O site da empresa que faz esse tipo de serviço diz: “quando o disco da vida finalmente chega ao fim, não seria bom mantê-lo rodando por toda a eternidade?”.

Opções alternativas para o destino de nossos restos mortais têm surgido a cada dia, e podem ser utilizadas para animais de estimação também. No post O que você quer ser quando morrer”, exploro alguma delas. Citei a transformação de cinzas em diamantes (para fazer um colar ou uma anel, por exemplo) ou em tinta para a pintura de um quadro escolhido ainda em vida (ter o vovô pendurado na sala, misturado ao “O Beijo” de Klimt, por exemplo). Também é possível mandar suas cinzas para o espaço. Veja as empresas que fazem esse tipo de serviço e os custos no post.

Acredito que a tendência de escolhermos o que será feito com nossos restos mortais está relacionada à abertura da discussão sobre o tema da morte. A própria possibilidade de editarmos um blog como o “Morte sem Tabu” mostra que esse assunto já pode ser debatido hoje com maior naturalidade.

Há a possibilidade de pensarmos na morte e no morrer além do que um discurso religioso proporciona e assim surgem ideias próprias sobre rituais fúnebres. A religião se coloca não mais como algo pré-determinado e de conceitos inquestionáveis, mas abre a possibilidade para certa autonomia. Assim, quem sabe podemos personalizar nossa ideia de morte, recortando informações de várias fontes, misturando dogmas, religião com filosofia e ciência, e permitindo a expressão de desejos pessoais, sem o rótulo de profano ou desrespeito que existia antigamente.

10 de março de 2015
Camila, Morte sem Tabu

O QUE VOCÊ QUER SER QUANDO MORRER?

Novas alternativas surgem para o destino do corpo após a morte. São métodos que se propõem a serem mais ecológicos, como a biocremação, ou possibilitar a reutilização dos tecidos, como a plastificação,  mumificação ou criogenia (congelamento). Há também alternativas criativas para o destino das cinzas, como uma empresa especializada em levá-las ao espaço ou jogá-las na superfície da lua, e outra que as transformam em diamantes e quadros. Brincando com o título desse post, você pode virar uma múmia, uma joia, um quadro, um astronauta, ou desaparecer na natureza. São possibilidades mais acessíveis do que se imagina. Confira abaixo.

Legado acadêmico
Esse não é novo, mas é uma alternativa: Pode-se doar o corpo para estudo científico. Ele vai, por exemplo, para o Laboratório de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) a ser estudado pelos alunos de graduação e pós-graduação em Anatomia Humana. Veja como doar o corpo e perguntas mais frequentes nesse link. Também veja informações no site da prefeitura de SP, via esse link.

Biocremação
É um processo que ganha popularidade nos Estados Unidos. Ele se baseia em liquefazer o corpo, com hidróxido de potássio. A cremação ocorre com água e não fogo, por isso é chamado de “Flameless Cremation” (cremação sem fumaça). Os ossos, que não se tornam líquidos no processo, são cremados no processo normal. É mais ecológico, por soltar 75% menos dióxido de carbono na atmosfera e usa 30% menos energia, mas é mais caro. A funerária Anderson-MacQueen, na Flórida, já está usando o modelo de liquefação e coloca o impacto ambiental como sua maior justificativa. Outra forma que se propõe a ser uma alternativa mais ecológica é o “Promession”, já disponível na Grã Bretanha. Criado por Susanne Wiigh-Masak, ele congela o corpo a -18°C e depois o imerge em nitrogênio líquido a -196°C. O corpo se despedaça e os metais, como obturações dentárias e próteses, são extraídos e reciclados.

Criogenia
O futuro está aqui. A criogenia, congelamento do corpo, é um processo muito caro e ainda não é visto como uma alternativa real. Mas existem instituições procurando avançar nesse sentido. A ONG Alcor, nos Estados Unidos, congela corpos de pessoas com doenças incuráveis na expectativa de que no futuro, quando a cura for encontrada, a pessoa seja reavivada. Parece filme de ficção científica, mas a organização existe e já tem mil membros.

Plastificação
Outra maneira de preservar o corpo é a plastificação. Ela foi criada por Gunther Von Hagens e é possível doar o corpo através desse site para ser plastificado e usado em escolas de anatomia ou em  exposições como a que chegou ao Brasil em 2007, “Corpo Humano: Real e Fascinante”. A exposição foi polêmica e muitos se surpreendiam em ver o corpo humano do avesso, de forma tão real. O próximo pode ser o seu.

Mumificação
Se você é apaixonado pelos egípcios e não entende porque não existe mais o hábito de mumificar corpos, conheça a Summum (org) ou Summum (EUA), uma ONG americana especializada em mumificação. Apresentam-se como a única instituição especializada em mumificação moderna no mundo e fazem o serviço com pessoas e animais. A mumificação de pessoas custa US$67.000 e a de um gato de 4kg, por exemplo, US$4.000. Algumas agências funerárias americanas já oferecem essa opção, em parceria com a Summun.

Cinzas siderais
Ter suas cinzas lançadas no espaço não é tão inacessível quanto se imagina. A empresa americana Celestis, é especializada em levar as cinzas do morto para o espaço. Já fizeram 13 lançamentos, cada um levando várias urnas. Um deles, em 2009, levou as cinzas do criador de Star Trek Gene Roddenberry e sua esposa. Os custos partem de US$1.000 e dependem do tipo de lançamento: no mais barato, as cinzas passeiam ao redor da Terra e voltam para a família, nos mais caros, partindo de US$12.500, as cinzas são lançadas na órbita da Terra, na órbita ou superfície da lua ou no espaço profundo. Seu sonho de ser astronauta agora pode ser realizado, só que depois da morte.

Jóia rara
Uma empresa suíça, Argodanza, inovou ao transformar as cinzas em diamantes, possibilitando parentes e amigos levarem um  pedaço do ente querido em forma de pingentes, pulseiras ou anéis. No Brasil, ela trabalha em parceria com o Crematório Vaticano, em Santa Catarina. A descrição do procedimento e perguntas frequentes podem ser conferidas aqui.
O Cemitério e Crematório Horto da Paz em Itapecerica da Serra (SP) cria diamantes a partir do cabelo do falecido. São três opções de cores: champanhe, azul e incolor. Os valores  começam em R$1.800 (0,05 pontos, cor champanhe) até R$14.000 (0,70 pontos, cor champanhe).A alquimia é feita em parceria com a empresa Brilho Infinito, submetendo-se o carbono do cabelo a altas pressões e temperaturas. Um vídeo sobre esse serviço pode ser visto aqui, clicando em “ Diamantes Brilho Infinito” na aba esquerda.

Obra de arte
O Cemitério e Crematório Horto da Paz também oferece a transformação das cinzas em quadros. O método é chamado de arte Picto-Crematória. A artista plástica Cláudia Eleutério mistura as cinzas da cremação à tinta e pinta um quadro de preferência da família ou que o falecido escolheu antes de morrer. Um quadro custa em média, R$ 4.000 reais (tela de 50 X 70cm e moldura padrão) Um vídeo sobre essa técnica pode ser conferido aqui, clicando em “arte picto-crematória” na aba esquerda. Imagine ser fã de Gustav Klimt e pedir para ser eternizado nos contornos de “O Beijo” junto com sua esposa. Romântico, não?

10 de março de 2015
Camila, morte sem tabu

sábado, 7 de março de 2015

PIAZZOLLA


 
Ouvi novamente uma música antológica que deveria ser considerada Patrimonio Cultural da humanidade:  "Adios Nonino" em uma gravação em CD com o bandoneon de Astor Piazzolla. Só não fui às lágrimas (novamente) porque de tanto ouvi-la, lágrimas correlatas já não há, além do mais, Piazzolla a compôs em homenagem a seu pai, doente e prostrado em seu leito. Deixo as lágrimas, se as houver, a quem quiser por acaso me prantear no futuro, que espero ainda longínquo, colocando em um portátil qualquer um MP3 de  Adios Nonino.
 
Se vivo estivesse, Piazzolla estaria completando 94 anos em 2015. Talvez não tivesse a destreza e a força necessária para extrair do seu bandoneon essas melodias e acordes inigualáveis, inimitáveis e indescritíveis, de melodias que vão fundo na alma, daquela mistura inesperada e inusitada de tango com puro jazz!
Ou talvez, uma vez que era um homem forte, bem talhado até nos seus últimos dias, fosse ainda melhor no sanfonar de seu bandoneon, igual a um senhor, já bem idoso, que ouvi tocando com imensa maestria em Buenos Aires,  em um show de uma casa noturna chamada "Señor Tango". Quando foi anunciado que o dito cujo era um dos últimos participantes do grupo de Piazzolla, quase não acreditei até ao minuto em que o velhinho puxou os primeiros acordes piazzollianos do bandoneon. Aí valeu a noite, valeu o ingresso e meu ouvido me guardou uma memória imorredoura! Escusado dizer que ele tocou justamente o "Adiós Nonino", um avô prestando uma homenagem a seu pai, o Nono.

De onde Piazzolla tirou a ideia de misturar tango com jazz e apostar que daria certo? Sabemos que essas misturas de ritmos nunca emplacam, a não ser como passageira novidade. Por essas bandas já tentaram misturar samba com be-bop, sertanejo com rock, old american standards com bossa nova mas não emplacou nem emplaca. Piazzolla fez a mágica da mistura funcionar e ser aceita para sempre! Como começou? Quando na década de 20, ainda criança, foi com sua família argentina morar em Nova York. Lá, interessando-se por música, ganhou de seu pai um presente: seu primeiro bandoneon. 
 
O pai, percebendo suas habilidades musicais, contratou nada mais nada menos que Bela Wide, um professor que foi aluno de Rachmaninov, compositor clássico russo. Com o DNA do tango nas veias e o gosto pelo jazz que por essa época nascia com músicos famosos nos Estados Unidos, eis o resultado: uma música única, pungente como o tango mas ao mesmo tempo alegre e diversificada como o jazz. Canções com marca registrada, com a grife piazzollana.
 
07 de março de 2015
saco de gatos