terça-feira, 23 de dezembro de 2025

CONTO: DOMUS, UMA METROPOLE DO FUTURO

CONTO: DOMUS, UMA METRÓPOLE DO FUTURO SUBTÍTULO 

A crise de identidade da sociedade de Domus, levanta a suspeita de que ela vive uma simulação, semelhante ao que supõe o filme MATRIX. O ano é 2100. A população do planeta aproxima-se de 350 bilhões. O meio-ambiente está totalmente degradado, dependendo de tecnologias sofisticadas, para permitir a exitência de vida. A água é distribuída racionadamente à população, sob rígido controle, dada a escassez acentuada dos lençois freáticos, cujas fontes estão contaminadas, pelo modelo de produção industrial.

Lucas passou a chamar aquela inquietação de o ruído. Não era um som audível, mas uma dissonância persistente entre o que os sentidos percebiam e o que a razão aceitava. Domus — a maior metrópole já concebida — funcionava com precisão excessiva: o clima artificial nunca errava, os ciclos de luz obedeciam a padrões matemáticos perfeitos, e até as emoções coletivas pareciam oscilar dentro de margens previsíveis. Para uma sociedade supostamente caótica, havia ordem demais.

A cidade erguia-se em camadas. No topo, as Cúpulas Altas, onde a elite administrativa e científica vivia sob jardins sintéticos e céus holográficos. Abaixo, os Anéis Médios, onde residia a maioria produtiva: técnicos, educadores, operadores de sistemas. No nível mais profundo, quase invisível aos mapas oficiais, estavam os Subníveis


CONTO: DOMUS, UMA METRÓPOLE DO FUTURO SUBTÍTULO 

A crise de identidade da sociedade de Domus, levanta a suspeita de que ela vive uma simulação, semelhante ao que supõe o filme MATRIX. 
O ano é 2100. A população do planeta aproxima-se de 350 bilhões. 
O meio-ambiente está totalmente degradado, dependendo de tecnologias sofisticadas, para permitir a exitência de vida. A água é distribuída racionadamente à população, sob rígido controle, dada a escassez acentuada dos lençois freáticos, cujas fontes estão contaminadas, pelo modelo de produção industrial. 
Lucas, um professor universitário, preocupado com a hipótese de que vivemos em uma simulação, resolve pesquisar e levantar a possibilidade de que tal simulação oculta outros propósitos, de natureza política, e que tal propósito envolve a tese reducionista da população, através da disseminação de patógenos com forte poder de extermínio.

Lucas passou a chamar aquela inquietação de o ruído. Não era um som audível, mas uma dissonância persistente entre o que os sentidos percebiam e o que a razão aceitava. 
Domus — a maior metrópole já concebida — funcionava com precisão excessiva: o clima artificial nunca errava, os ciclos de luz obedeciam a padrões matemáticos perfeitos, e até as emoções coletivas pareciam oscilar dentro de margens previsíveis. Para uma sociedade supostamente caótica, havia ordem demais.

A cidade erguia-se em camadas. No topo, as Cúpulas Altas, onde a elite administrativa e científica vivia sob jardins sintéticos e céus holográficos. Abaixo, os Anéis Médios, onde residia a maioria produtiva: técnicos, educadores, operadores de sistemas. 
No nível mais profundo, quase invisível aos mapas oficiais, estavam os Subníveis, habitados por corpos cansados e identidades fragmentadas — pessoas que raramente apareciam nas estatísticas, mas que inexplicavelmente desapareciam com frequência.

Lucas lecionava Filosofia da Tecnologia na Universidade Central de Domus. Em sala, ensinava Platão, Descartes e Baudrillard; fora dela, colecionava relatórios apagados, bancos de dados incompletos e registros médicos contraditórios. O que o inquietava não era apenas a hipótese da simulação — essa já circulava como rumor acadêmico tolerado —, mas o padrão de falhas: surtos localizados, sempre nos Subníveis, sempre precedidos por atualizações obrigatórias dos sistemas de suporte à vida.

As autoridades chamavam de “ajustes sanitários”. Lucas chamava de ensaio.

Em noites silenciosas, conectava-se a redes paralelas, espaços não indexados pela malha oficial de Domus. Ali encontrou Mara, uma engenheira de biossistemas afastada após questionar protocolos de contenção populacional. 
Foi ela quem lhe mostrou algo decisivo: modelos estatísticos que demonstravam que a taxa de mortalidade não era um efeito colateral do colapso ambiental, mas uma variável planejada. A população crescia demais, rápido demais, e a simulação — se existia — precisava corrigir o excesso.

— Não é apenas controle — disse Mara, sua imagem tremulando na interface clandestina. — É curadoria da espécie.

A ideia era perturbadora: a simulação não servia apenas para manter a ordem social, mas para testar limites, selecionar comportamentos, observar reações diante da escassez, do medo e da morte. Os patógenos não eram armas no sentido clássico, mas ferramentas de ajuste, ativadas quando determinados limiares eram ultrapassados.

Lucas percebeu então o verdadeiro perigo. Se Domus era uma simulação, alguém — ou algo — estava observando. E se ele estivesse certo, sua investigação já fazia parte do experimento.

Na manhã seguinte, ao entrar na universidade, notou algo diferente. Os painéis informativos repetiam a mesma frase em todos os níveis da cidade:

“A estabilidade depende da sua colaboração.”

Lucas sentiu o ruído crescer.



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