O Natal hoje parece um espelho quebrado: cada caco reflete um sentido diferente.
Cristão, ou pagão? A resposta honesta: os dois. E talvez o problema não seja essa mistura, mas o esquecimento do porquê.
Do lado pagão, o Natal nasce muito antes do cristianismo. Povos antigos celebravam o solstício de inverno no hemisfério norte: o retorno gradual da luz, a vitória simbólica do sol sobre a escuridão. Festas como a Saturnália romana, exaltavam abundância, troca de presentes, suspensão das hierarquias. Comer, beber, festejar - sobreviver ao inverno já era motivo sagrado.
O cristianismo, ao se expandir, fez algo estratégico e simbólico: ressignificou essa data. Não se sabe o dia exato do nascimento de Jesus. O 25 de dezembro foi escolhido porque já era um tempo de festa. A mensagem cristã foi clara: "a verdadeira luz que vence as trevas não é o sol, mas o amor encarnado".
Aí está o coração cristão do Natal:
- Deus se faz frágil
- o divino nasce pobre
- a esperança vem em forma de criança
- o amor substitui o poder
O problema não é a árvore, a ceia ou os presentes. O problema é quando o símbolo engole o sentido.
Hoje o Natal virou sobretudo:
> consumo compulsivo
> obrigação social de felicidade
> marketing emocional
> excesso que esconde o vazios
E nisso, tanto o espírito cristão quanto o pagão se perdem. O pagão celebrava o ciclo da vida; o cristão celebrava a vida como dom. Nós celebramos o cartão de crédito.
Talvez o sentido perdido do Natal não esteja em escolher entre Cristo ou o paganismo, mas em recuperar algo que ambos tinham em comum: o tempo sagrado de pausa, partilha e reconexão humana.
Natal não é sobre comprar mais. É sobre precisar de menos.
Não é sobre luzes externas É sobre acender alguma coisa por dentro.
E aí devolvo a pergunta quase filosófica:
"o Natal perdeu o sentido... ou fomos nós que nos afastamos dele?" Ou, como escreveu Machado de Assis, no "Soneto de Natal": "mudaria o Natal, ou mudei eu?"
24 de dezembro, véspera do Natal do Cristo.
prof. mario moura
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