Acredito que todos somos acometidos, em determinados momentos, de um certo vago sentimento, que chega do nada, e começa a nos cutucar, quase como cócegas, e nos provoca uma certa inquietude.
Aí, do nada também, iniciamos um monólogo, enquanto olhamos da janela, a agitação dos homens, o movimento incessante com aquele aspecto de urgência, que hoje assola-nos de todos os lados.
E o que penso eu, do alto de um quinto andar, olhando a vida corrida, lá embaixo?
Penso na inexatidão dos acontecimentos, e como eles ocorrem, assim, tão repentinamente, alterando tudo ao nosso derredor.
Estava tudo em seus lugares, silenciosamente posto, dando-nos a impressão de que nos observam, ou nos vigiam, ao tempo em que participam dessa ordem invisível, só percebida quando algo se quebra, e que somos nós, na realidade, que a criamos, a ordem.
Nada parece merecer ser levada a sério. Tudo fica com cara de efêmero, de que está sempre acabando de passar...
E vamos de roldão nesses vagos pensamentos, desordenadamente organizados, mas que estão colados, pensamentos após pensamentos, como se buscassem a impossível unidade nesse caldeirão de efemeridades!
Somos passageiros de um planeta, mergulhado na imensidão cósmica! E foi num lance maluco de Carl Sagan, que ao virar a câmera do voyager, tirou aquela foto que poeticamente chamou de "pálido ponto azul", que parece suspenso num raio de luz"...
Uma vez vista a foto, não podemos mais ser os mesmos! Tudo se modifica, tudo ganha uma novo sentido, tudo se ajusta a uma nova proporção.
Percebemos, instantaneamente, a misericórdia de nossas vidas.
Para que não fique muito obscuro, o que quis dizer com "misericórdia de nossas vidas", recorro a etimologia:
miserícórdia
"é a junção de duas palavras em latim: miseratio(miséria)+cordis(coração).
Assim pode-se se entender literalmente, como "o coração que se debruça sobre a miséria (humana)", ou coração compadecido, ou compadecimento".
E daí, a metáfora desafia a poética do coração de cada um...
prof.mario moura
18 de novembro de 2024