Não cabe o homem no retrato.
Nem pode um homem ser descrito. O homem só cabe no poema, se o poema couber numa metáfora.
Se assim não for, algumas de suas partes, por exemplo:
sentimentos, sonhos, memórias, emoções turvas, pequenas afetividades... cairão no vazio das palavras. Inútil será qualquer gaiola, prisão, masmorra...
Como a água, o homem escorre pelo ralo, vaza, perfura, evapora no silêncio do que não foi dito,
porque é impossível falar do homem, prender um homem, calar um homem, enunciar um homem...
Assim estou aqui, pretensamente apresentando-me, como se fora possível.
Estendo a minha mão, mas é apenas a minha mão.
No calor do sangue que ali pulsa, esconde-se sorrateiro o homem.
Mas de qualquer forma, fica minha mão estendida para o cumprimento dos que aqui chegarem...
M.AMERICO