quarta-feira, 31 de março de 2010

TEMPO DE RENOVAÇÃO

O corpo é a nossa casa. Nele habitamos e é nele somente, que podemos construir o maior dos bens: a saúde. Não adianta falar de 'felicidade' ou qualquer outra forma de realização pessoal, se não possuirmos a condição fundamental da vida que é a saúde.
Não atinamos com a sua importância, porque quando a possuímos, ela é de alguma forma, invisível. Como dizia o mago Jefa (Dr. Jorge Adoum), "A ordem é invisível."
De fato, quando entramos em algum lugar, não nos damos conta de imediato, de certo prazer que nos invade e nos proporciona uma sensação de organização, de beleza, a sensação de que o conforto, o bem-estar, é inerente ao espaço.
Quando chegamos a algum lugar em que a desordem predomina, de imediato percebemos o desarranjo dos objetos, um descompasso, uma geometria caótica, e nos damos conta da desagradável sensação de que alguma coisa se perdeu. O desconforto, o impulso de nos afastarmos, a repulsa e o desejo de distanciamento apoderam-se de nós. Logo identificamnos a causa.
A ordem ou a desordem é apenas o reflexo interior do homem, e o modo inerente de percebermos o mundo. Organizamos o exterior segundo a nossa ordem interna. E nem sempre a nossa ordem interior reflete o sentido de harmonia. Ela é um padrão mental e emocional, e como tal, varia de individuo para individuo.
Assim também a nossa casa, o corpo. Ele refletirá a nossa condição interna. Inútil pensar que poderia ser diferente. Somos o que comemos, somos o que sentimos, somos o que pensamos.
A saúde é uma condição inerente ao nosso modo de vida. Podemos possuí-la, podemos melhorá-la, podemos perdê-la.  O modo como percebemos a importância e a delicadeza  do sistema que nos proporciona a vida, é a chave de como vivemos.
Refazer os caminhos, corrigir os erros, disciplinar hábitos, inovar padrões mais sadios de comportamento, esse é o caminho da renovação.
Quando despertamos para a renovação é sinal de que algo maior já está acontecendo. Maturidade, sofrimento, consciência... o que quer que seja! O importante é que acordamos para as nossas limitações, e que precisamos corrigir o rumo para encontrarmos a paz.
Creio que a condição fundamental para a "felicidade" é a saúde. Muitos correm atrás dos bens materiais, como prêmio único da vida. Acreditam que lá está o essencial para a realização da sua existência.
Não percebem que "o essencial é ínvisível para os olhos."
Quebrar velhos padrões que integram a natureza humana, ou a sociedade dos homens, não é fácil, como possa parecer a muitos. Há que se ter coragem para crer e realizar...
A propósito da renovação, vou contar uma parábola.
A águia é a ave que possui a maior longevidade da espécie. Chega a viver 70 anos. Mas para chegar a essa idade, aos 40 anos ela tem que tomar uma séria e difícil decisão.
Nessa fase da vida, ela está com as unhas compridas e flexíveis e não consegue mais agarrar as presas de que se alimenta. O bico, alongado e pontiagudo, se curva. Apontando contra o peito estão as asas, envelhecidas e pesadas, em função da grossura das penas. E voar já é tão difícil !
A águia só tem duas alternativas: morrer ou enfrentar um doloroso processo de renovação, que irá durar 150 dias.
Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e se recolher em um ninho próximo a um paredão, onde ela não precise voar. Após encontrar esse lugar, a águia começa a bater com o bico em uma parede até conseguir arrancá-lo. Depois de arrancá-lo, espera nascer um novo bico com o qual vai em seguida arrancar suas unhas.
Quando as novas unhas começam a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas. E só após cinco meses, sai para o grandioso vôo de renovação e para viver mais 30 anos.
Também em nossas vidas, devemos em determinados momentos, recolher-nos ao silêncio e a meditação, para iniciarmos o nosso processo de renovação. Arrancando velhas lembranças que nos adoecem, velhos padrões, velhas tradições que nos amarram ao sofrimento inútil, velhas emoções que somente nos causam doença e dor.
Somente livres do peso que nos impedia de voar, cumpriremos o ritual da nossa renovação.

M.AMERICO

terça-feira, 30 de março de 2010

AS FRONTEIRAS DOS NOSSOS SONHOS...

Se acreditarmos nos limites que os 'padrões' procuram inculcar em nossas mentes, acabaremos restritos e confinados ao espaço medíocre da descrença em nossos misteriosos poderes.
Costumo afirmar que somos maiores do que orginariamente imaginamos.
Ao limitarmos a nossa visão de mundo ao acanhado horizonte de uma fronteira produzida inconscientemente, e muitas vezes conscientemente, porque nos cega a fantasia de uma realidade que supomos máxima e além da qual parece impossível divisar qualquer possibilidade de vida mais rica, mais inteligente, permitimos que o melhor de nós se afogue na banalidade fabricada e instituída pelo cotidiano, pela seqüência mundana "que-vai-movendo-a-vida-pra-lugar-nenhum'.
Não devemos aceitar que a grande onda que avassala valores, referências, arraste no seu bojo o que realmente somos.

O grande estardalhaço que procura abafar as nossas vozes, que procura calar as melhores vozes, passará e não deixará senão cinzas. Não somos do tamanho que nos querem fazer crer. Não somos tolos para acreditar nas 'verdades' que tentam nos empurrar goela abaixo. E a realidade nos mostra a cada momento, que não podemos crer que seja bom e belo o que assistimos à nossa volta.
Não podemos aceitar que a miséria de tantos seja um fato 'natural'. Não podemos admitir que somos melhores que os demais e por isso merecemos o que temos... Não podemos continuar acreditando que o planetinha Terra seja "o melhor dos mundos possíveis", como pensava o Doutor Pangloss, de Voltaire, para que o nariz existia para o apoio do óculos.
É tempo de acordar! Ou então, o que nos restará será o sono dos injustos...
"Carpa aprende a crescer" é uma parábola belíssima! Diria que é a parábola da libertação, a parábola da 'rebelião' contra a mediocridade, contra o acanhamento espiritual, contra a miserável condição humana que por séculos vimos nos impondo. Então, vai aqui a parábola:

A CARPA APRENDE A CRESCER
A carpa janonesa (koi) tem a capacidade natural de crescer de acordo com o tamanho do seu ambiente. Assim, num pequeno tanque, ela geralmente não passa de cinco ou sete centímetros, mas pode atingir três vezes mais este tamanho, se colocada num lago.
Da mesma maneira, as pessoas têm a tendência de crescer de acordo com o ambiente que as cerca. Só que neste caso, não estamos falando de características físicas, mas de desenvolvimento emocional, espiritual e intelectual.
Enquanto a carpa é obrigada, para seu próprio bem, a aceitar os limites do seu mundo, nós estamos livres para estabelecer as fronteiras de nossos sonhos. Se somos um peixe maior do que o tanque em que fomos criados, ao invés de nos adaptarmos a ele, deveríamos buscar o oceano, mesmo que a adaptação inicial seja desconfortável e dolorosa.

M. AMERICO

segunda-feira, 29 de março de 2010

RETRATO TRÊS POR QUATRO

Não cabe o homem no retrato.
Nem pode um homem ser descrito. O homem só cabe no poema, se o poema couber numa metáfora.
Se assim não for, algumas de suas partes, por exemplo:
sentimentos, sonhos, memórias, emoções turvas, pequenas afetividades... cairão no vazio das palavras.  Inútil será qualquer gaiola, prisão, masmorra...
Como a água, o homem escorre pelo ralo, vaza, perfura, evapora no silêncio do que não foi dito,
porque é impossível falar do homem, prender um homem, calar um homem, enunciar um homem...

Assim estou aqui, pretensamente apresentando-me, como se fora possível.
Estendo a minha mão, mas é apenas a minha mão.
No calor do sangue que ali pulsa, esconde-se sorrateiro o homem.
Mas de qualquer forma, fica minha mão estendida para o cumprimento dos que aqui chegarem...

M.AMERICO