segunda-feira, 26 de abril de 2010

LIVRE ARBÍTRIO OU DETERMINISMO TRÁGICO?

Verdade verdadeira é que carregamos uma propensão natural, uma índole, que se manifesta em todas as circunstâncias da vida, mesmo quando contraria o bom senso. Não está na esfera da nossa decisão conter o impulso que revela a nossa natureza.

Significa afirmar que carregamos na existência um caráter imutável, que sempre nos predisporia a reações automáticas diante de circunstâncias determinadas. Estaríamos, assim, condenados a repetir atitudes como respostas aos eventos significativos na nossa vida? Macarrão não acredita nisso, denominando essa imutabilidade um “determinismo trágico” da existência. Já Alfinete, tecendo considerações sobre a criminalidade, ou seja, sobre as psicopatias que determinam atitudes involuntárias e inconseqüentes, acredita que alguns grupos de pessoas carregam esse caráter imutável. Restringe, no entanto, na sua exposição, que a imutabilidade é um traço distintivo que não abrange a totalidade do grupo humano.

Ouvi as ponderações do Macarrão e do Alfinete. Pautavam por colocar, dentro do problema do possível determinismo do caráter humano, posições opostas: Macarrão não concebia a inexistência do “livre arbítrio”; Alfinete restringia o determinismo às psicopatias, sem negar, por conseqüência, a liberdade de decisão, de escolha, aos demais agrupamentos humanos. Ressalvava, ainda, que o repertório das psicopatias era amplo, o que delongava as diversas esferas do determinismo.

Uma discussão e tanto, que me levou a lembrança de um pequeno conto, eu diria uma fábula, cuja alegoria trata exatamente desta questão. Seríamos vítimas de um determinismo inelutável?

“Era uma vez um escorpião que estava na beira de um rio, quando a vegetação da margem começou a queimar. Ele ficou desesperado, pois, se pulasse na água, morreria afogado e, se permanecesse onde estava, morreria queimado. Nisso, viu um sapo que estava preparando-se para saltar no rio e, assim, livrar-se do fogo. Pediu-lhe, então, que o transportasse nas costas para o outro lado. O sapo respondeu-lhe que não faria de jeito nenhum o que ele estava solicitando, porque ele poderia dar-lhe uma ferroada, levando-o à morte por envenenamento. O escorpião retrucou que o sapo precisaria guiar-se pela lógica; ele não poderia dar-lhe uma ferroada, pois, se o sapo morresse, ele também morreria, porque se afogaria. O sapo disse que o escorpião estava certo e concordou em levá-lo até a outra margem. No meio do rio o escorpião pica o sapo. Este, sentindo a ação do veneno, vira-se para aquele e diz que só gostaria de entender os motivos que fizeram que ele o picasse, já que o ato era prejudicial também ao escorpião. Este, então, reponde que simplesmente não podia negar a sua natureza.”

O que nos conta essa fábula? O óbvio ululante: a imutabilidade da índole do ser humano.

M. AMERICO