quarta-feira, 30 de junho de 2010

UMA QUESTÃO ECOLÓGICA E HUMANA...

Em qualquer cantinho de jornais, revistas, panfletos, pacotes de salsichas, pacotinhos de preservativos e outras refinadas embalagens, encontramos um alerta: "este produto preserva o meio-ambiente. Ajude-nos a conservá-lo!" Mas parece que virou coisa de cinema, quero dizer, a gente vê, talvez alguns se divirtam e outros fiquem sérios, e outros ainda, nem se dão ao trabalho de ler, ou melhor de ver...
E o planetinha vai girando, girando, girando... Até quando? Não sei... resta saber quantos de nós, humanos, sobraremos para contar o que aconteceu. Mas todos nós somos a favor de uma economia "limpa". Discursamos, gritamos, tomamos partido, mas continuamos a nossa vidinha de barata, confiantes de que também seremos os remanescentes de um mundo em chamas, sim, porque pouco ou nada fazemos: continuamos a consumir plásticos, combustíveis poluentes, destruindo o meio-ambiente, mas vejam bem: tudo com muito elegância, com muita discrição.

Dizem, ainda não me interei dos fatos, que as baratas, elegantemente chamadas de 'periplanetas', são os mais antigos habitantes do nosso planetinha. Ela e os abestos.
Não vou garantir que seja verdade, embora as baratinhas tenham a maior intimidade com a gente, e vivam buscando sempre o nosso lar, como velhas amigas. Quando encontramos uma, podemos perceber que elas ficam nos olhando, balaçando aquelas anteninhas de rádio, como se estivessem nos cumprimentando: bom dia! Volta e meia, apesar do tóxico que inalamos junto com elas, quando dedetizamos nosso sacrossanto lar, nos deparamos ainda com elas, e cada dia surgem mais resistentes, e até vejo alguma felicidade nos seus olhinhos...
Como os escorpiões, somos os seus maiores inimigos, embora elas continuem pensando o contrário. Enfim, como as periplanetas, também cometemos os nossos equívocos... Ah! Sim! Quantos de nós sobraremos? Nós e as baratinhas? Creio, pela lei das conseqüências, que os que por aqui restarem, sequer terão a memória do acontecido. É bom, porque não escreverão uma história, contando que os responsáveis foram os extraterrestres...

M. AMERICO

COPA 2010 AFRICA DO SUL

Perdoem o mau gosto, mas não posso deixar calar o grito que urra no meu peito. Tempos de Copa! Tempos de África e de seus estádios magníficos! Quantos milhões de dólares? Não faço a menor idéia! A bola rola nos gramados verdes; as vuvuzelas gritam, as torcidas berram, as imagens coloridas e carnavalescas enfeitam as arquibancadas. O mundo ficou menor, encolheu, ficou do tamanho de um estádio de futebol.
No momento em que assisto aos jogos, penso na miséria dos desvalidos, morrendo de fome: homens, mulheres, jovens, crianças... Esqueléticos em que a pele mal cobre os ossos. Olhos enormes na face que desenha o contorno do crânio, a cavidade ocular, o malar... Olhoa enormes e assustados.
A jabulani bate dum lado e do outro. Mas um lado sombrio está imóvel, magro, sem cores, quase morto, não fosse um leve sopro de vida.

A bola rola, mas há um lado, que fica fora dos verdes gramados, que está imóvel.

A jabulani, que em IsiZulu significa celebrar, celebração, voa sobre os verdes gramados, mas não há celebração na aridez de uma terra ressequida. Há fome, há miséria, há sofrimento. Na verdade, há tortura.

Mas o que se pode fazer com esses Países, que promovem um verdadeiro e gigantesco espetáculo, onde a fartura e a abundância de recursos não faltam para que o show continue, anunciando - será ironia? "África hope".

Eles não querem comprar uma "consciência", eles não aceitam servir-se de um pouco de "humanidade", no grandioso banquete em que celebram a riqueza!

O mundo real não cabe no espetáculo circense!
O mundo circense é um mundo de festas, um mundo multicolorido, um mundo de trombetas! A zoeira e a fantasia compõe a multidão. Lá fora, o silêncio da fome, da peste, da morte, do agouro. Na arquibancada as bandeiras nacionais se agitam, irmanadas na conquista de um troféu.

Da minha janela, assisto o desfile de automóveis, movendo-se no trânsito, carregando, todos eles a bandeira do Brasil. A "pátria de chuteiras" esqueceu as enchentes do Nordeste, esparramando a miséria. As vuvuzelas falaram mais alto, e sufocaram a dor e o desamparo de milhares de pessoas desabrigadas e mais pobres. Nesse momento, a pátria está unida em torno da Copa. Viva a Copa 2010!!!

Viva a "pátria de chuteiras"!!! Viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu!!!
Depois da Copa... Bem, depois a mesmice e novas ilusões... Vamos discutir o desempenho da seleção, os jogos, os gols, o mal-humor do Dunga... Vamos traçar teorias, afinal o Brasil tem milhões de técnicos, vamos nos preparar para os próximos 4 anos. Mas tudo numa boa, com uma cerveja gelada, tira-gostos... E começamos uma nova vida, e como não temos a Copa, voltados para o Brasileirão, para as eleições, para as enchentes, para o novo modelo de automóvel etc... Envolvidos que estamos com as nossas próprias misérias.

M. AMERICO

domingo, 27 de junho de 2010

JOSÉ SARAMAGO

NA ILHA POR VEZES HABITADA

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,

 manhãs e madrugadas em que não precisamos de


morrer.


Então sabemos tudo do que foi e será.


O mundo aparece explicado definitivamente e entra


em nós uma grande serenidade, e dizem-se as


palavras que a significam.


Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas


mãos.


Com doçura.


Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a


vontade e os limites.


Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o


sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do


mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos


ossos dela.


Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres


como a água, a pedra e a raiz.


Cada um de nós é por enquanto a vida.


Isso nos baste.


Não me Peçam Razões...
Não me peçam razões, que não as tenho,

Ou darei quantas queiram: bem sabemos

Que razões são palavras, todas nascem

Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda

A força de maré que me enche o peito,

Este estar mal no mundo e nesta lei:

Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,

Deste modo de amar e destruir:

Quando a noite é de mais é que amanhece

A cor de primavera que há-de vir.

postado por m. americo

A MAIORIDADE PENAL E A VIOLÊNCIA DO MENOR


É voz corrente a discussão sobre o problema da redução da maioridade penal. Projetos no Congresso, polêmica nos transportes coletivos, nos bares e botecos da vida. Alarmados com a violência e a criminalidade de menores, a sociedade recorre ao que lhe parece mais coerente: a punição do menor.

Mas quem é o menor no mundo do crime?

Ando por uma Avenida do Rio de Janeiro. Sábado, quase 5 horas da tarde. Ainda faz um calor já quase suportável. Sob uma marquise, em frente a calçada de uma loja comercial, uma criança, idade por volta de 13 ou 14 anos, deitada em cima de uma folha de papelão. Sujo, maltrapilho, solitário no seu sono público, nada o incomoda. Mas o que mais poderia incomodá-lo? As pessoas passam, ignorando aquela criança jogada na calçada. Alguns reclamam de atrapalhar o trânsito dos pedestres; outros olham com certo receio. Ouço alguém comentar: deve estar drogado... A maioria ignora. Paro e observo a reação dos passantes. Uma senhora de idade avançada, tem o olhar de compaixão. Para diante dele por momentos. Deixa passar um sentimento de tristeza, nos seus olhos cansados. Retoma o seu caminho. Sigo-a com o olhar, enquanto se move lentamente, até perder-se na multidão.

Mas quem é o menor no mundo do crime?

Restaurante universitário. Colegas de turma conversando. Um deles diz, referindo-se a algum crime recente: “não importa quantos anos tenha! É criminoso e como tal, deve ser punido!”. "Puni-lo? Isso significa jogá-lo numa cela, onde irá aperfeiçoar-se e associar-se a quadrilhas? Esse negócio  é que significa “punição legal”? Alguém do grupo replica: “Se o sistema penitenciário não oferece as condições ideais para o menor criminoso, já estamos em outra esfera...” Da ponta da mesa, uma acadêmica fala: “E a escola não seria uma forma melhor de recuperá-lo, se o Estado e a Sociedade tivessem verdadeira intenção de discutir melhor o assunto? Investir em educação, não seria um caminho melhor e mais condizente com os direitos humanos da criança, do que discutir projetos de redução da maioridade penal?” Sigo em frente, imaginando como é grande a sensibilidade de um coração feminino.

Da janela do carro, somente consigo enxergar as pequeninas mãos, segurando uma caixa de balas, no meio do trânsito. Miúda, seu rosto não alcança o vidro do carro. Não vejo suas feições, não posso adivinhar sua idade, mas imagino que sua pequena e incipiente vida tem a dramática e gigantesca dimensão da miséria. Abre o sinal. Sigo em frente e olho pelo retrovisor. Lá está ela driblando os carros que ignoram aquela pequena vendedora ambulante, quase perdida no asfalto.

Mas quem é o menor no mundo do crime?

Há milhões de jovens sem trabalho, sem vida social decente, sem escola. Nessa multidão, milhares de crianças de rua abandonadas, e outras tantas viciadas, prostituídas, envolvidas com o tráfico, com a contravenção, com o crime. Como responder a uma urgência dessa ordem? Como recolocar a criança como uma esperança de futuro e não um problema criminal? Por que não discutir projetos educacionais includentes da infância marginalizada, maiores investimentos em escolas, em oficinas pedagógicas? Por que não discutir projetos para a maioridade educacional, com formação geral e profissional, projetos de vida e ambientação cultural, música, esportes e tantas outras possibilidades educacionais, através de aldeias pedagógicas? É preciso olhar cada criança como a responsabilidade de cada cidadão que vira o rosto, e apenas procura proteger-se atrás de projetos estúpidos, quando deveriam propor modelos de proteção às crianças abandonadas.

Mas quem é o menor no mundo do crime?

Hoje a maioridade penal se dá quando a pessoa completa 18 anos, já que o critério adotado foi o critério etário, que estabelece uma idade definida como a fronteira que divide a compreensão dos atos e fatos sociais, podendo ser responsabilizado por eles. Antes desse marco, não é capaz de entender a sua conduta, para assumir a responsabilidade dos seus atos.

Na verdade, trata-se de uma ficção. Convencionou-se que exatamente à zero hora do dia anterior ao seu aniversário, quando a pessoa completa 18 anos, magicamente aquele indivíduo passa a compreender tudo o que faz, ao contrário do minuto anterior, quando ainda não havia completado a maioridade, não compreendendo os fatos de uma realidade social. Uma ficção jurídica, que já não atende a modernidade.

Suponhamos que a maioridade penal fosse rebaixada para 16 anos, asseverando-se que um jovem de 16 anos e um dia, que mata, deveria ser tratado como se adulto fosse, isto é, tratando-o como maior para efeitos penais, e tal se daria com o rebaixamento da maioridade penal brasileira.

Esse raciocínio releva o mesmo equívoco anterior, pois magicamente o jovem com 15 anos e a um dia de completar 16, não entenderia sua conduta; mas um dia depois, ao completar 16 anos, passaria a compreender o caráter criminoso de sua ação.

Alguns países encontraram um critério talvez mais justo e adequado, ao propor a verificação, caso a caso. Ao apurar se a criatura, ao cometer um delito, poderia entender o caráter criminoso do ato praticado, através da aplicação de critérios metodológicos interdisciplinares, envolvendo exames psicológicos, psiquiátricos, sociológicos e jurídicos. Tais países determinaram uma idade mínima, bastante baixa, por exemplo, 12 anos e a partir desse patamar, atribuir-se-ia responsabilidade penal, desde que o indivíduo entendesse o feito, submetido que seria a verificação realizada naquele exame. Trata-se do critério bio-etário ou bio-psicológico.

Um país continental como o nosso, não poderá fixar uma idade cronológica para todas as suas Regiões, considerando-se as diferenças sócio-econômicas reinantes. Um jovem de 15 anos de idade, de um grande centro urbano, sujeito a todos os apelos de escolarização, informação e tecnologia, não pode ser comparado a outro de 15 anos, nascido e criado em ambientes desprovidos de qualquer recurso cultural, que não tem acesso a qualquer meio de escolarização e informação; digamos para exemplificar, plantando milho e capinando do nascer ao por do sol. Qualquer legislação que os iguale pelo critério de maioridade cronológica, seria absurda e injusta, além de ignorar as discrepâncias culturais.

Assim, retomo o critério de que se discutam projetos de natureza cultural e educacional; que se discutam projetos econômicos voltados para a educação e a todos os aspectos que gravitam em torno da pobreza. Que se tenha mais respeito pela cidadania da criança e do jovem.

M. AMERICO

quinta-feira, 24 de junho de 2010

COPA 2010 BRASIUUUUUUUUUUUUULLLL...

O mundo parou. Uma bola imobilizou pessoas, paralisou todas as ações que não sejam aquelas que fazem rolar uma bola. A Jabulani ganhou a coroa de Miss Universo. E gerou polêmica: por que a Adidas e não a Nike? Sob forte crítica dos jogadores da seleção brasileira, que qualificaram a Jabulani como muito ruim, como “bola de mercado”, ainda mal rolada nos gramados dos estádios. E veio a desconfiança de que as críticas, originavam-se dos patrocinados pela Nike. Mas tudo bem... Os jogos sucedem-se com vitórias e derrotas. Os hinos nacionais enchem os estádios da África do Sul e a ovação das torcidas do mundo inteiro, casadas com a novidade das vuvuzelas lotando as arquibancadas dos estádios, lembra a arena romana, onde vida e morte ficam suspensas nos fios do destino. É o futebol arrebatando as almas e transformando-se na própria pátria, como se fosse uma guerra, onde o gol elege o herói do momento, o conquistador, o grande centurião. Lembro-me da famosa frase de Nelson Rodrigues, quando disse que “o futebol é a pátria de chuteiras”. Mas os tempos são outros. O futebol, quando ainda era apenas um esporte a mais entre os esportes,e engatinhava nos corações dos torcedores, guardava uma aura de paixão. Mas uma paixão romântica, não a paixão das violentas torcidas organizadas, em que pesa menos o orgulho da conquista de um título, do que a intolerância com a vitória do clube adversário.

Nos tempos ditos modernos, o futebol ganhou o ‘status’ de empresa. Hoje é o futebol-empresa. Há toda uma mídia a serviço da criação de mitos. Dela depende a ascensão ou a queda de um jogador, de um técnico, de um preparador físico; fabricam-se ídolos e preços; valoriza-se a venda de alguns jogadores, valores astronômicos que os Clubes embolsam, repassando parte da fortuna aos heróis do momento. Mitos forjados, muitas vezes de modo artificial, uma espécie de bolsa de valores, que beneficia os chamados Cartolas. Alguns escândalos já ganharam as páginas esportivas de jornais.

Hoje há uma verdadeira diáspora de jogadores. Quando vemos a formação de uma Seleção, poucos são os jogadores que atuam no Brasil: fulano, no Barcelona, beltrano no Manchester, sicrano sei lá onde... Muitos senão quase todos, talvez discordem do que escrevo. Mas o endeusamento excessivo que assisto no meu país, o estrelismo dos ‘craques’, faz com que enxergue o futebol como um grande negócio, não mais como uma apaixonante disputa, em que o esforço sobre-humano, a habilidade, a destreza e o controle de uma bola, servem a glória de um Clube ou de um país. Essa dança ‘garrinchiana’ que projeta o corpo do atleta num verdadeiro balé mágico, um fantástico movimento operístico de onze atores brincando no gramado verde de um estádio, pelo simples prazer de fazer rolar a ‘criança’, já desapareceu. Coisas de antanho.

O que lamento, é que o encantamento e a magia, tenham se transformado numa grande feira em que se negocia e se descaracteriza o amor a uma camisa, seja de um time, seja de uma seleção. O desempenho fica a reboque de que os olheiros internacionais possam fazer ofertas mirabolantes ao Clube, pelo passe de um jogador. O que se fala ao pé do ouvido, no processo seletivo daqueles que vão compor a gloriosa seleção, é que há toda uma negociação atrás dos palcos, para que tal jogador participe e possa, a partir do momento em que integrou a seleção, ganhar imediatamente um valor muito acima do que realmente receberia, integrando um Clube. Evidente que não se aplica a todos os jogadores, o que seria absurdo. Mas se inclui um ou outro, parte de uma negociação em que todos ganham... Perde apenas o futebol. Ganham os Cartolas.

M. AMERICO

sábado, 5 de junho de 2010

A IGREJA MARADONIANA

Não se tem o direito de ignorar o quanto vale a cidadania em países latino-americanos. Também não podemos ignorar a necessidade catártica de um povo oprimido. E a opressão pode vir de diferentes modos, como a fome, por exemplo, ou a doença, o desemprego, a miserabilidade de comunidades abandonadas à própria sorte... A opressão pode chegar da brutalidade de regimes autoritários, de que a nossa história tem um farto repertório. Não saberia escolher que modelo opressivo seria pior. Ditaduras? Fome? Miséria absoluta? Confesso que é muito difícil, para mim, apontar qual dos males seria o pior. Cada um traz a morte anunciada, a violação dos direitos humanos, a castração da palavra política, o assassinato da cidadania.
Nesses momentos de dor e violação, o povo sempre encontra a porta de emergência, por onde escapar, tanto quanto possível, ileso, buscando subtrair-se da dor.
O que teria começado como uma brincadeira despretensiosa, acabou por tornar-se uma coisa séria.
Em 1998, fundou-se a IGREJA dedicada aos deus, com o número 10 no meio, MARADONA. A paixão pelo jogador argentino transformou-se em RELIGIÃO com mais de 100 mil adeptos em todo o mundo.
Poderá parecer estranho a muitos, ou exótico, uma iniciativa tão estrambótica. Mas há uma explicação, diria mesmo histórica, para esse acontecimento.
Maradona está no centro de um momento emocional do argentino, a um período de felicidade, depois de um sofrimento brutal causado pela crueldade de uma Ditadura, que assassinou a cidadania, que violou de todas as formas os direitos humanos, que esmagou a voz de um povo com a tortura e o sequestro.
Maradona transformou o futebol, que é um esporte coletivo, além de uma paixão nacional, em um ato individual, um ato 'salvacionista'. Como fênix, ele fez renascer no povo um estado de graça, "fez ressurgir a esperança nos corações argentinos, com o seu brilhante gol de mão (La mano de Dios ou D 10 S) diante da Inglaterra, na Copa do Mundo de 1986" - disse Herman Amez, um dos fundadores da Igreja Maradoniana.
Os seguidores dessa igreja, dessa nova religião, encontram-se duas vezes por ano em Buenos Aires.
A primeira reunião é na Páscoa, festejada em 22 de junho, dia da vitória de 2 a 1  contra os ingleses, na Copa de 86. O segundo encontro é no dia do aniversário de Dios, quero dizer de Diego Maradona. em 30 de outubro, quando celebram o NATAL.
Seria um fato bizarro, e verdadeiramente não deixa de sê-lo, uma igreja fundada para a deificação de um jogador de futebol. Mas colocadas as coisas numa perspectiva meramente humana, percebemos que há algo mais sério, além de uma simples bizarrice: a catarse de um povo, para calar o sofrimento padecido na cruz de uma ditadura.
Como dizia o poeta, e sempre que me defronto com acontecimentos que escapam ao senso comum, "há mais coisas entre o céu e a terra, do que sonha a nossa vã filosofia."

M. AMERICO