domingo, 11 de abril de 2010

REFLEXÕES EM TORNO DE UM TEMA ETERNO

O que somos decorre em grande parte do que pensamos, e se o que pensamos não nos conduz a compreensão de determinados problemas, com certeza há uma boa razão para julgar que nossos pensamentos não são apropriados, que a nossa realidade mental e espiritual são inadequadas para a compreensão de questões, que pairam acima do plano lógico, formal, racional. Por exemplo: Jesus.
Os Evangelhos não contam muito, ou melhor pouco falam ou quase nada, acerca do "Eu" de Jesus. Razão porque era chamado de Cristo e o identificavam com o Logos Eterno.
O que se diz que Jesus teria pronunciado em suas parábolas, foi a ele atribuído pelos autores dos Evangelhos, sinóticos, e que "Jesus não identificou suas experiências e pensamento teológico com as opiniões populares locais".
Nesse assunto, como em muitos outros, não há provas consistentes que permitam uma resposta sem ambigüidade. O número e a qualidade dos documentos biográficos subsistentes são de tal ordem que não podemos conhecer qual era, verdadeiramente, a personalidade residual de Jesus.
Os cristão acreditam que houve apenas um Avatar, somente um Avatar. A doutrina cristã diferencia-se da indiana, e também das doutrinas do Extremo Oriente, na medida em que afirma esse dogma: houve somente um Avatar: Jesus Cristo, a encarnação da Divindade como homem.
Krishna é a encarnação de Brahman, Gautama, Buda, que os mahayanistas chamam de Dharmakaya, a Mente, a Base Espiritual. Note-se: não o homem, a encarnação do homem como Divindade, mas a Mente.
A história cristã está maculada pelo dogma de um único Avatar. A mobilização do mundo cristão para o enfrentamento em sangrentas cruzadas, guerras entre seitas religiosas, inquisição e perseguições a qualquer pessoa ou instituição que se opusesse aos preceitos, ainda que retrógrados e cientificamente improváveis do cristianismo institucionalizado, alimentou o massacre obstinado e cego do imperialismo sectário, mais do que a história do Budismo e do Hiduísmo.
Doutrinas absurdas e idólatras garantindo a divina natureza dos Estados soberanos e seus dirigentes, levam orientais e ocidentais às guerras políticas. Mas por não acreditarem numa Revelação exclusiva, ou na divindade de uma organização eclesiástica, não conta a história com massacres em nome da religião, o que encontramos com muita freqüência no Cristianismo. Não entro no mérito da moralidade pública no Ocidente, bem mais baixa do que no Oriente.
Não teria sentido, por uma questão de espaço e paciência, analisar aspectos mais profundos da questão. Pretendo registrar apenas, aspectos que possam encaminhar o leitor a uma reflexão. Muitas vezes é preciso ser sucinto, para que o pensamento crítico possa desenvolver-se mais livremente.
É uma história complexa. O autor do quarto Evangelho afirma que o verbo se fêz carne. O Divino se fêz homem, e o homem manifestou-se historicamente. Sob esse aspecto, é interessante considerar o desenvolvimento do Budismo. O "Mahayana expressa o universal, enquanto o Hinayana não pode libertar-se do fato histórico".
No Budismo, as questões do fato histórico não têm  significação religiosa.
No Ocidente, as diversas seitas místicas trabalharam para libertar o Cristianismo da sua servidão ao fato histórico, ou em sentido mais estrito, libertar-se o Cristianismo daquela multiplicidade de notícias e conclusões fantasiosas, que em diferentes épocas foram aceitas como uma verdade histórica. Infelizmente, porém, a influência dos místicos não venceu o poder da Instituição Cristã, cujos relatos insistem em basear-se nos fatos históricos, presumíveis.
Nesse contexto, é suficiente chamar a atenção para uma das mais amargas ironias da História.

"A teologia cristã, especialmemte a das igrejas ocidentais, foi o produto de mentes imbuídas do legalismo judaico e romano. Em todos os múltiplos exemplos, as introspecções imediatas do Avatar e do santo teocentrado eram racionalizadas num sistema, não pelos filósofos, mas pelos causídicos especuladores e juristas metafísicos." (Aldous Huxley)

A classe dos jurisconsultos, era abominada por Jesus. Estavam mais distanciados do Reino dos Céus e mais impermeáveis às verdades do Cristo, do que qualquer outra classe, exceto a dos ricos.
Essa, a amarga ironia... Eles, os jurisconsultos e os teólogos, nada mais fizeram do que retirar o espírito do Cristo, e trasnformá-lo em fato histórico, o que, acredito, era o 'melhor' para a institucionalização do poder religioso e a laicificação do cristianismo.

M. AMERICO