Eu sou um macaco. Você é um macaco. Somos todos macacos. Nossa espécie é um macaco falante que há cerca de três milhões e setecentos mil anos atrás realizou uma interessante transição do quadrumanismo arborícola para o bipedismo terrestre. Sim, nós éramos quadrúmanos, como nosso primo mais próximo, o chimpanzé. Mas precisamos transformar duas de nossas mãos em pés para podermos manter o equilíbrio, percorrer grandes distâncias e carregar pesos consideráveis.
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Caminhar apoiado em mãos é algo muito instável, como podemos observar em nossos primos chimpanzés quando se deslocam eretos sobre as duas mãos traseiras. As necessidades de manter o equilíbrio e percorrer um grande território em busca de caça foram selecionando aqueles dentre nós com uma conformação corporal cada vez mais adequada para percorrer grandes distâncias e carregar o produto da caça e da coleta de volta para o local de acampamento do grupo tribal.
Ao longo da evolução, os corpos com maior eficiência para se manterem equilibrados na posição bípede foram sendo selecionados, nossas ossaturas e musculaturas se tornaram cada vez mais adaptadas para caminharmos eretos sobre os membros posteriores e podemos dizer que nossos braços posteriores se tornaram pernas e nossas mãos posteriores se tornaram pés. Pés que precisavam ter cada vez mais área de contato com o solo, tanto para manter o equilíbrio quanto para proporcionar tração.
Ora, se há duas coisas que são absolutamente prejudicadas com o uso de saltos altos são o equilíbrio e a tração. O salto alto posiciona as articulações de modo antinatural, exige esforços também antinaturais da musculatura de todo o membro inferior e modifica nosso centro de gravidade, o que prejudica nosso equilíbrio, e reduz a área de contato da planta do pé com o solo, o que reduz a tração. Trata-se de um aparato de propósito estético questionável que prejudica inquestionavelmente a função.
As macacas falantes podem achar seus saltos altos lindos e deslumbrantes, podem achar que eles “valorizam” suas pernas, mas a verdade é que este é um mero efeito de alongamento, que é o que é ilusoriamente interpretado por nosso cérebro da idade da pedra como belo. Porém, macacaquinhas queridas, vocês não precisam disso. Nós macacos falantes machos pertencemos à mesma espécie de vocês e apreciamos os corpos de nossas fêmeas como a natureza os fez.
Eu mesmo não gosto nem da periclitância, nem da estética do salto alto. Prefiro que vocês preservem a saúde de suas articulações e fiquem mais seguras e confortáveis usando saltos baixos no dia-a-dia, reservando o salto alto somente para raras ocasiões festivas, se tanto. Até porque, caríssimas símias, vocês ficam lindas até mesmo ou principalmente descalças, assim como a bela macaca da foto que ilustra este artigo. Tenham consciência disso.28 de novembro de 2016
Arthur
in pensar não dói
28 de novembro de 2016
postado por m.americo
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