domingo, 16 de agosto de 2020

SOBRE UM PEQUENO LIVRO...

Comprei um pequeno livro da Monja Coen. Fazia já algum tempo que a Monja chamava a minha atenção, até que resolvi descobrir que mensagens ela passava.  Comprei, entre outros títulos, APRENDA A VIVER O AGORA. Inicialmente, parecia que nos dava alguns conselhos sobre a vida prática, ou cotidiana, essa parte da nossa vida em que deslizamos sem dar grande atenção, e que julgamos não integrar a nossa existência. Esses instantes sem memória... Essa ‘vidinha’ costurada de pequenos, quase minúsculos momentos, dos quais não nos apercebemos.  Ledo engano... O que ela está a nos dizer, é algo bem mais significativo. Um pouco mais de atenção, e descobrimos que ela propõe a quebra dos automatismos, que nos conduzem de modo inconsciente, ou quase, para o grande oceano no qual escoamos a nossa vida.  
E são tão preciosos os ensinamentos, que nos emocionam, quando nos damos conta da realidade e significado da nossa vida. Sentimos com clareza, como desprezamos a essência dos atos e dos diversos cenários em que cotidianamente atuamos. Percebemos a vida deslizando, sem que façamos parte daqueles momentos. Tudo tão mecanicamente, tão automatizado, tão anonimamente dispersos, que parece termos sido expulsos do significado da existência.  
Não são conselhos, apenas indicações de como nossa vida transcorre, a medida que não nos damos conta da importância dos pequenos atos, gestos, cortesias, que se praticados com a consciência plena do momento, construiríamos a nossa humanidade por inteiro. Ela denomina a consciência do momento, como “momento Zen”. 
E como ela nos diz o que um “momento Zen”? 
Com suas próprias palavras: “Estar atento ao que faz, é estar Zen.”  E daí, para os pequenos retratos desse cotidiano que nos mostra, percebemos a sua sensibilidade com o sentido maior da vida. Permito-me, sem pretender incomodar o eventual leitor desses apontamentos, citar alguns exemplos que aproximem a sabedoria contida nesse pequeno ‘manual de sobrevivência consciente’. Vamos a eles... 
TROCAR ROUPAS: sinta em sua pele a textura dos tecidos e os o Não dores das vestimentas. 
BANHO: agradeça ao terminar, que houve água, sabão, toalha e saúde para tomar banho sozinho. Se precisou de ajuda, agradeça que teve alguém que ajudasse você. Interligado a todas as águas do mundo. Não perca a oportunidade de fazer deste um instante Zen. A todas as flores e fragrâncias. Tudo é você. 
REFEIÇÃO MATINAL: prepare os alimentos com respeito. Lembre-se de que foram necessárias inúmeras formas de vida para que chegassem até você. Não leva mais do que um segundo se lembrar da terra, do vento, do sol, da chuva, das pessoas que plantaram, cuidaram, colheram e comerciaram. (...) Ao comer em plena atenção seu corpo irá dizer o que necessita e quanto.  
É bom refletir sempre em como os alimentos chegam até nós. 

Antes de sair, despeça-se das pessoas que moram com você. Não saia sem se despedir. Nunca se sabe quando será a última vez. Olhe para cada pessoa e se despeça com respeito e ternura. 

Lembre-se de que todos estamos nesse mesmo barco – o planeta Terra. Todos partilhamos das mesmas dificuldades e necessidades. 
Há céu, nuvens, Sol, estrelas. Lua, chuva, calor, frio. Há vida em você e em tudo a sua volta. Aprecie. 

Não seja a palmatória do mundo. Não queira corrigir tudo e todos. Seja o exemplo e não a crítica. Nada fixo. Nada permanente. 
Nós, seres humanos, temos esta rara oportunidade – entre todas as espécies do planeta – de obter a auto realização. E ela começa nos detalhes simples. 

ESPIRITUALIDADE: Orar, meditar, pertencer a um grupo filosófico e questionador sobre o que a vida, a morte, se há sentido, ou não há sentido algum na existência - fazem bem ao ser humano. Podem chamar isso de caminho da espiritualidade. (...) 

A palavra espírito está ligada a inspirar e expirar. A última expiração - quando o expírito saí do corpo?  Seria o gás carbônico? 

No mosteiro feminino de Nagoya havia um monge professor que finha todas as quartas-feiras: Mano Kampo Roshi. Como eu acabei ficando muitos anos no mosteiro, pude ouvir suas aulas inúmeras vezes, repetidas vezes. Nunca me cansei. Nunca achei que fosse a mesma, pois nunca foi a mesma. 
Ele nos dizia que quem consegue colocar as mãos palma com palma não está escondendo nada, não está ameaçando ninguém e está inteiro, com inteira atenção para a pessoa à sua frente. 

Bem, creio que cansaria o leitor eventual com a continuidade dos exemplos, que apesar de serem importantes, seriam bem mais agradáveis se fossem lidos no original. Mas acredito que o INSTANTE ZEM ficou claro em sua significação maior: ESTAR ATENTO A VIDA QUE CERCA CADA SER HUMANO, ALÉM DA SUA PRÓPRIA VIDA. 

16 de agosto de 2020
m.americo