quinta-feira, 25 de agosto de 2011

JUSSARA ODEIA CAMA...

Uma noite gostosa de sono tem grandes chances de desembocar numa manhã risonha, daquelas com sol ameno, com orvalho na grama, ao canto do galo despertador e com cheiro de café no coador.

Tenho cá para mim que esse negócio de dormir até tarde é patologia da modernidade. A cama é lugar para rituais sacros de amor e sono; preguiça é pecado. Então que inventaram a lâmpada só para estragar a noite; e com ela, o dia. Quem dorme mal, acorda mal.

Tenho uma conhecida que é assim; Jussara acorda mal todo dia. Não fosse esta uma realidade, como explicar sua cara engrupida a cada bom dia? Como entender sua expressão azeda, mesmo quando ela não está chupando limão? Só pode ser por falta de... Sono! Poder-se-ia cair no lugar comum e dizer que é por outra falta (aquela, que fica), mas seria simplificar demais.

Não adianta vir com delicadeza ou educação, pois a bicha tá sempre em pé de guerra. “Baixe as armas”, costuma provocar, outro colega nosso, na vã tentativa de suavizar seu ímpeto 'vilânico'. “É nossa Kátia Abreu!!!”, diz ele, deixando explícita a associação àquela senadora que tem, por “virtude”, a macheza xucra.

Outra característica sua é a ‘expansividade’. O termo é ambíguo, bem sei, e pode ter muitos significados; alguns bons, outros, nem tanto...
Jussara tem necessidade de expandir tudo: sua voz, seus pontos de vista, seus doutos conhecimentos jurídicos e, principalmente, seu infinito particular.

Dependurada em redes sociais, tem a mania de comentar todo e qualquer assunto que, porventura, esteja discutindo com sabe-se lá quem. Tem enorme naturalidade em virar-se para o lado e mandar ver: - “Gente, eu não posso com a fulana!... Olha só o que ela está me dizendo aqui!...”. Nem se preocupa em notar que as pessoas à sua volta têm, por hábito, trabalhar durante o horário de trabalho. Ela não.

Fala, fala, fala, fala e fala. Fala mais que a mãe do Gualda. Bufa. Respira alto. Bate a gaveta com força desproporcional. Atende ao telefone ora com empáfia, ora com raiva, fazendo sempre questão de desligá-lo de maneira bruta, como se raiva tivesse. A vida, para ela, só parece existir na demonstração, na superficialidade, na aparência e, principalmente, na carência que ela exorta: “Olhem para mim, por favor!”...

Tem mania de dar bronca nos mais fracos. É natural escutá-la gritando com o filho e com a empregada, por telefone, e também com o rapaz que lava o carro, que vem até aqui entregar as chaves só para ser destratado em frente a todos. Ela se sente muito importante assim, demonstrando toda sua solteirice e seu pulso forte. Sente-se o protótipo da mulher do séc. XXI.

Talvez por isso, só ande de carro novo, pinte os cabelos de loiro-malibu, esmalte as unhas com cor berrante e só saia de casa com, no mínimo, 790 gramas em penduricalhos doirados. Jussara ama o dourado. É a prova de que ela venceu na vida. Quando visita a terra natal, banha-se em ouro para mostrar que venceu. Só não vê quem não quer.

Tornar-se seu amigo é muito fácil; basta acatar suas idéias, sugestões, ponderações e achismos filosóficos. Em prol da boa convivência, foi este o caminho que andei percorrendo durante muito tempo. Apenas que me era muito caro o enorme desperdício de tempo que daí resultava. Tive de aprender a conversar sem tirar os olhos da tela, porque se olhar para a cara dela... Vixe, é difícil de sair.

Ela te olha, te engole, te fala, te espreme contra o muro; faz de tudo para que você seja seu cúmplice – e todos sabem: a cumplicidade só se dá pelo olhar.

Para ela, o trabalho só existe quando ela está trabalhando. É daquelas que franzem a testa se alguém tosse quando ela está lendo alguma coisa ‘importante’. Coitada da moça da copa, que vem solicitamente perguntar se ela quer café. Jussara adora café, mas quando está trabalhando, incomoda-se assustadoramente com a pergunta. Nesses momentos, ela se dá ao trabalho de espalmar a mão, estendê-la no ar e dizer “Peraí...” - deixando a ‘criada’ ali, parada, esperando por uma simples confirmação. Quando vem o café, reclama que está frio ou velho: - “Quando eu trabalhava no Supremo, com o ministro tal, tomava café na sala dele!”... -, diz, esperando por um “ohhhh” de inveja que só existe na cabeça dela.

Para meu desespero, notei que ela se sentia muito mais à vontade comigo quando estávamos a sós. Era como se ela esperasse pela minha chegada para poder colocar em dia suas fofocas e indignações cotidianas: - “Olha isso aqui! O banco quer me cobrar juros de uma dívida de 5 anos atrás; que absurdo! Lembro bem que paguei tudinho! Olha aqui, tenho até o comprovante... Olha!”.

Por vezes, tentei demonstrar que seus problemas pessoais não me despertavam assim, ‘taaaanto interesse’, mas ela não entendia minha psicologia. Pensei em ser bem direto, mas assim, correria o risco de criar um clima hostil que não me agradaria. Quando eu já pensava seriamente na possibilidade de me mudar para outra dimensão, algo novo surgiu no horizonte...

Cheguei ao trabalho com a cara-de-feliz que me é peculiar. Não havia tido noite de sexo, nem acordara com os passarinhos gorjeando minhas palmeiras, mas tinha dormido bem a noite inteira.

Jussara estava lá, à minha espera. Entrei, simpático: “Hello, crazy people!”. Ela, como de costume, mal consentiu.

Liguei o computador e fiz gracinha para a senhora da copa, que me trazia a jarra d’água. (Ela me acha lindo, a copeira.)

De repente, desperta o monstro! – “Gente, olha só o que o Tostão está fazendo! Que canalhice!!!”, disse ela, iniciando uma difamadora conversa a respeito do ex-craque da Seleção Brasileira e do Cruzeiro.

O tom da voz estava alto demais para aquele horário. Além do quê, o que ela dizia não fazia jus à realidade dos fatos. E disso eu sabia, visto que acompanho tudo o que o mineirinho tem escrito, além de haver lido, recentemente, sua autobiografia. Em bom Juridiquês, desmontei toda a fofoca que ela destilava. A moça não gostou e perguntou se eu estava com algum problema, voltando-se para mim com desequilibrada agressividade. Respondi que ela estava falando sobre o que desconhecia, e isso não cabia bem a tão sapiente criatura. Então ela reclamou do meu tom de voz, no que eu perguntei se ela não dispunha de um espelho com reflexos audiofônicos em sua residência para escutar o ridículo de sua afirmação. Jussara então se calou. E assim passou o resto da manhã, e também do dia, e da semana. Está de mal. A guerra dela é minha Paz!

Espero não haver tempo para tréguas em nosso horizonte.

Maltrapa

MIMETISMO CORRUPTO


Pois,
Nosso povo é como camaleão, mas o camaleão tem apenas o mimetismo da cor, nossos compatriotas da índole.

O mimetismo da índole, elege corruptos, e dignifica o "rouba mas faz".
Maluf, Collor, sarney, são exemplos bizarros de reeleitos.

Há os babacas que sustentam programas de televisão tipos "reality shows" como BBB, A FAZENDA, com simplórios SMSs, ou telefonemas, de custo irrisório, 0,90 centavos, onde as geradoras do programas faturam entre 3 e 10 milhões de reais por semana, já retirados os impostos e os custos das operadoras. No decurso de 12 a 14 semanas são 100 milhões de reais.

A cada 4 meses poderíamos premiar 100 mil pobres brasileiros com 1000 reais, ou distribuir 50 mil cestas básicas por semana.

O povo disfarça sua índole corrupta, votando e debatendo esse tipo de roubo oficializado.

Nosso pobre gasta 80 reais de impostos numa cesta básica, e paga um imposto renda, nas loterias oficiais e clandestinas em busca da sorte,num país em que o jogo é proibido.

Enquanto em Hollywood, filmes e seriados são feitos com patrocínio privado, incluindo-se aqui grandes peças da Broadway, nosso povo esquece que impostos que deveriam financiar saúde e educação são desviados para, filmes de péssima qualidade e shows teatrais ou musicais, tudo patrocinado com dinheiro público. O governo paga o show e os marajás empresários ficam com o lucro.

Os petistas , pulhas culturais chama a mídia de PIG, e não é que eles tem razões incontestáveis.

O patrocínio de jornais e novelas em horário nobre é da CEF, do Banco do Brasil, da Petrobrás, dos Correios, chega-se ao cúmulo de horários de propaganda de partidos políticos, claro que evidentemente gratuitos, e pagos com recursos do erário publico.

O PIG não é GOLPISTA é GOVERNISTA, politiqueiro, sórdido e corrupto.

O reality show da vida é quem vai ser atendido na fila do SUS, e quem vai ser mandado de volta ao pó da terra.

Quem será o próximo a morrer na saidinha de banco, nos campus universitários, ou atropelados por cafajestes nas calçadas da vida.

Os nossos políticos também fazem outro tipo de reality show, apartado do povo, que transformam seus votos em SMSs corruptos.

Adoram pilantras, amam artistas que são ralés humanas no mundo das drogas, idolatram analfabetos funcionais tiriricamente os elegem.

Novamente relembro fatos do mês de agosto que marcaram nossa história.
Getúlio suicidou envergonhado pela corrupção.
Jânio renunciou ou morria.

Bebidas, telefones e cigarros arrecadam 300 milhões de reais em impostos por dia, alguém já imaginou para onde vai tanto dinheiro?

bom dia
VSROCCHA

O POLITICAMENTE CORRETO E OS IDIOTAS


Utilizar a linguagem como arma psicológica de dominação não é uma idéia nova. Goebbels substituiu algumas palavras e eliminou outras que incomodavam o projeto nazista. Antes, na União Soviética, quando Hitler ainda sonhava ser artista, Lênin transformou o significado de algumas palavras e proibiu outras tantas. Gramsci – que aprendeu com Marx - também ensinou a destruir a linguagem como forma de implantação de “uma nova ordem” social e cultural. E Maquiavel ensinou que o Príncipe deve, mais do que utilizar as palavras de maneira conveniente, convencer seu povo a usá-las conforme a sua conveniência.
O que estes crápulas sabiam é que quando a linguagem declina, a capacidade de compreensão da realidade diminui na mesma intensidade. Quem não compreende os fatos não pode avaliar, não pode comparar, não pode reagir. Mas pode – e será! – manipulado.
Essa onda do politicamente correto não é espontânea, não é “moderna” e não é bacana. É uma idéia satânica criada nos anos 70 e aperfeiçoada nas décadas seguintes por influentes acadêmicos de universidades americanas ligadas aos grupos globalistas. Seu objetivo é destruir a capacidade cognitiva impondo regras morais contrárias às regras que regem a linguagem e a comunicação das pessoas. Esta técnica psicológica já estava nos estudos de Pavlov e foi aperfeiçoada em diversos experimentos controlados por programas governamentais como o MK Ultra ou por organismos privados como o Tavistock Institute desde os anos 40 e pelo menos até a década de 1960. Os russos e chineses também estudaram bastante esse assunto e suas ditaduras usaram muitas destas técnicas.
Comprovada sua velhice e a má-fé que a originou, passemos então à sua estupidez. Como funciona a destruição da linguagem pelo “politicamente correto”? Em que consiste, de fato, esse troço?
Consiste, na esmagadora maioria das vezes, em substituir uma palavra por uma expressão “não-significante”, vazia, ou por uma palavra que possui outro significado. Afro-descendente não é negro. A Charlize Theron é afro-descendente e é mais loira que a Xuxa. Só aí já dá para perceber como é falha essa substituição.
O politicamente correto toma a figura de linguagem como fato. O eufemismo como descrição objetiva. Seus defensores acreditam na idéia de que excluir uma palavra pode eliminar um problema, uma estupidez tão absurda que só uma burrice coletiva sem precedentes pode explicar.
Esse patrulhamento na linguagem se enraizou na nossa cultura, na imprensa e até na literatura. Gerou uma nova forma de censura, muito pior, subliminar, rasteira, que só fortalece a hipocrisia, a falsidade, o puxa-saquismo.
Seguir essa onda idiota, que se replica como vírus, demonstra insegurança, necessidade de aprovação e incapacidade intelectual. Além de confundir o intelecto e limitar a imaginação e o raciocínio, o maldito "politicamente correto" ainda traz um problema maior, de ordem moral: obriga a mentir!
Você está vendo um gordo; sabe que é um gordo; gordo, no dicionário, quer dizer exatamente aquilo que você está vendo, mas para não desagradar os patrulheiros da estupidez, você mente: “horizontalmente avantajado”.
Um exemplo mais sério: quando as palavras que indicam objetos “não-sensíveis” são esquecidas ou substituídas, os conceitos que elas representam vão para o poço do esquecimento já na próxima geração. Conceitos como saudade, misericórdia, compaixão podem desaparecer da vida cotidiana das pessoas por séculos, para depois serem restauradas após uma convulsão causada pela repressão de instintos naturais. E isto é apenas um dos males dessa doença que infesta toda sociedade ocidental.
Eu vejo a burrice contemporânea, que já é histórica, como conseqüência da destruição da linguagem, um resultado que prova a eficácia de um plano diabólico.

NELSON RODRIGUES: GÊNIO OU LOUCO?

Oto Lara Resende entrevista Nelson Rodrigues

"Durante muitos anos, Nelson Rodrigues carregou a fama de 'tarado'. Em seus anos finais, a de 'reacionário'. Ninguém foi mais perseguido: a direita, a esquerda, a censura, os críticos, os católicos (de todas as tinturas) e, muitas vezes, as platéias - todos, em alguma época, viram nele o anjo do mal, um câncer a ser extirpado da sociedade brasileira. E, olhe, quase conseguiram.
Mas ao mesmo tempo que queriam "caçá-lo como uma ratazana prenhe", havia também muitos para quem parecia impossível admirar Nelson Rodrigues o suficiente. Mesmo os seus piores inimigos nunca lhe negaram o talento - e não foram poucos os que o chamaram de gênio. Há quem arrisque até explicações espíritas para certos lampejos de Nelson.
Para alguns, era um santo; para outros, um canalha; para todos, sempre, uma surpresa ambulante. Mas, como se verá, ninguém o conheceu direito." (Ruy Castro, in O Anjo Pornográfico).

">

">

">

O VERBO FOR

Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas.
Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário — evidentemente o condizente com a nossa condição provecta —, tudo sairia fora de controle, mais do que já está.
O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).

O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora.

Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei o comecinho.

Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje.

A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.

— Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra — dizia ele ao entanguido vestibulando.

— "Catilina, quanta paciência tens?" — retrucava o infeliz.

Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a platéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.

— Ai, minha barriga! — exclamava ele. — Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!

Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.

O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo "dar um show". Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:

— Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!

— As margens plácidas — respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.

— Por que não é indeterminado, "ouviram, etc."?

— Porque o "as" de "as margens plácidas" não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. "Nem teme quem te adora a própria morte": sujeito: "quem te adora." Se pusermos na ordem direta...

— Chega! — berrou ele. — Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!

Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo.

Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas.
A prova oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante.
Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra "for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir". Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.

— Esse "for" aí, que verbo é esse?

Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.

— Verbo for.

— Verbo o quê?

— Verbo for.

— Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.

— Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles fõem.

Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas.

Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
João Ubaldo Ribeiro

Esta crônica foi publicada no jornal "O Globo" (e em outros jornais) na edição de domingo, 13 de setembro de 1998 e integra o livro "O Conselheiro Come", Ed Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2000, pág. 20.