Carolina Maria de Jesus foi uma escritora brasileira que permaneceu anônima até 1960, quando o seu primeiro livro, Quarto de Despejo, foi lançado.
Uma mulher negra, residente na favela do Canindé, em São Paulo, trabalhava como catadora de papéis e criava sozinha os seus três filhos. 
Retrato de Carolina de Jesus
Mesmo com pouco acesso à escolaridade, Carolina Maria de Jesus era apaixonada por literatura. Escrevia poemas e diários onde relatava as suas condições de vida precárias. 
Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada foi um grande sucesso, vendendo mais de um milhão de exemplares, com traduções em catorze línguas. 

Frases sobre racismo e contrastes sociais

O negro só é livre quando morre.
O negro só é livre quando morre. 
Carolina Maria de Jesus
Carolina denunciava repetidamente o clima de racismo e discriminação em que vivia. Observando a realidade à sua volta, percebia as desigualdades e sabia, enquanto mulher negra e pobre, que integrava a parte mais marginalizada e desprotegida da população. 
Em 1948, quando começaram a demolir as casas térreas para construir os edifícios, nós, os pobres que residíamos nas habitações coletivas, fomos despejados e ficamos residindo debaixo das pontes. É por isso que eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos.
Carolina Maria de Jesus
Eu classifico São Paulo assim: O Palácio é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos.
Carolina Maria de Jesus
Nos seus diários, refletia sobre a própria divisão da cidade de São Paulo, pensando o centro como uma casa luxuosa e as periferias como depósitos de lixo.
A comparação não se deve só à pobreza extrema em que aquelas comunidades viviam, mas também à forma como esses cidadãos eram encarados pelo resto da sociedade. 

Frases e poemas sobre pobreza, fome e falta de recursos

A fome é um dos temas que se repetem com frequência na obra da autora, que descreve os sacrifícios e as jornadas de trabalho que fazia para conseguir alimentar seus filhos e a si mesma. Focada em sobreviver, mostrava como os cidadãos mais desfavorecidos não têm a possibilidade de descansar, nem tempo para se divertir. 
O maior espetáculo de pobre é comer
O maior espetáculo do pobre da atualidade é comer. 
Carolina Maria de Jesus
Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos. 
Carolina Maria de Jesus
As crianças ricas brincam nos jardins com seus brinquedos prediletos. E as crianças pobres acompanham as mães a pedirem esmolas pelas ruas. Que desigualdades tragicas e que brincadeira do destino.
Carolina Maria de Jesus
Antigamente o que oprimia o homem era a palavra calvário; hoje é salário.
Carolina Maria de Jesus
A tontura da fome
A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago. 
Carolina Maria de Jesus
Falando a partir de sua experiência, narrava as lutas diárias de uma mãe que trabalhava de sol a sol e não podia sequer comprar um par de sapatos para a filha. Através de seus escritos, conta esse desgosto e tantos outros que jamais passariam pela cabeça dos cidadãos mais privilegiados. 
Deixa evidente que se sente marginalizada pela sociedade brasileira, que é desprezada, solitária e quase invisível devido a sua condição social.
Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos gêneros alimentícios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar.
Carolina Maria de Jesus
Poeta, em que medita?
Por que vives triste assim?
É que eu a acho bonita
E você não gosta de mim.
Poeta, tua alma é nobre
És triste, o que o desgosta?
Amo-a. Mas sou tão pobre
E dos pobres ninguém gosta.


Poeta, fita o espaço
E deixa de meditar.
É que... eu quero um abraço
E você persiste em negar.
Poeta, está triste eu vejo
Por que cisma tanto assim?
Queria apenas um beijo
Não deu, não gosta de mim.
Poeta!
Não queixas suas aflições
Aos que vivem em ricas vivendas
Não lhe darão atenções
Sofrimentos, para eles, são lendas.
Carolina Maria de Jesus

Reflexões e poemas sobre escrita e criação literária

Carolina de Jesus pensava bastante na sua condição de poetisa e escritora, apontando a literatura como uma forma de lidar com a realidade em que vivia.
Lá no interior eu era mais feliz, tinha paz mental. Gozava a vida e não tinha nenhuma enfermidade. E aqui em São Paulo, eu sou poetisa!
Carolina Maria de Jesus
Quando percebi que eu sou poetisa fiquei triste porque o excesso de imaginação era demasiado.
Carolina Maria de Jesus
Poeta, por que choras?
Que triste melancolia.
É que minh’alma ignora
O esplendor da alegria.
Este sorriso que em mim emana,
A minha própria alma engana
Carolina Maria de Jesus
Quem não tem amigo mas tem um livro tem uma estrada.
Carolina Maria de Jesus
Escrevendo sobre a favela e vivendo nela, Carolina foi testemunha das muitas desigualdades que ainda dividem o povo brasileiro. Quando sua obra foi publicada, a autora começou a ser encarada com desconfiança e raiva pelos vizinhos, que sentiam que as suas vidas tinham sido expostas. 
Escrevo a miséria
Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade.
Carolina Maria de Jesus
Não digam que fui rebotalho,
que vivi à margem da vida.
Digam que eu procurava trabalho,
mas fui sempre preterida.
Digam ao povo brasileiro
que meu sonho era ser escritora,
mas eu não tinha dinheiro
para pagar uma editora.
Carolina Maria de Jesus
Embora entrar no meio literário parecesse um sonho distante, Carolina Maria de Jesus acabou se tornando uma das mais célebres escritoras brasileiras, um símbolo de resiliência e representatividade.

Reflexões sobre a vida, o mundo e os desejos de mudança

A autora lembra da ganância e do desejo de poder que continuam assombrando a humanidade. Aprende a confiar em si mesma, nas suas próprias lições de vida e percebe a alegria de ser uma mulher solteira, que não está subjugada a homem nenhum. 
Depôis de conhecer a humanidade
suas perversidades
suas ambições
Eu fui envelhecendo
E perdendo
as ilusões
o que predomina é a
maldade
porque a bondade:
Ninguem pratica
Humanidade ambiciosa
E gananciosa
Que quer ficar rica!
Carolina Maria de Jesus
Cheguei à conclusão de que não necessitamos perguntar nada a ninguém. Com o decorrer do tempo vamos tomando conhecimento de tudo. 
Carolina Maria de Jesus
A noite enquanto elas pede socorro eu tranquilamente no meu barracão ouço valsas vienenses. Enquanto os esposos quebra as tabuas do barracão eu e meus filhos dormimos socegados. Não invejo as mulheres casadas da favela que levam vida de escravas indianas. Não casei e não estou descontente.
Carolina Maria de Jesus 
Mesmo tendo uma perspetiva muito realista acerca da dureza da vida, Carolina Maria de Jesus continuou se permitindo sonhar e acreditar em um futuro melhor para o povo brasileiro e para o mundo todo. 
comigo o mundo vai modificar-se
Ah, comigo o mundo vai modificar-se. Não gosto do mundo como ele é.
Carolina Maria de Jesus
Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.
Carolina Maria de Jesus