terça-feira, 26 de julho de 2016

EM NOSSA ERA, OS SENTIMENTOS SÃO SUBSTITUÍDOS PELA INDIFERENÇA



Charge do Cellus (www.cellus.com.br)
















Gira a roleta-russa que dispara em nossa mente as estranhas características que poderiam descrever qual o afeto que mais demarca nossa era. E, insistentemente, tal qual um letreiro de neon que pisca intermitentemente, a palavra é: indiferença! A dor do avô, a perda do vizinho, o luto do primo, a bala perdida que ceifou mais uma vida, o acidente estúpido no fim da balada regada a vodca que capotou para sempre o futuro de cinco jovens… Indiferentes, mudamos de fase no game, frenéticos, disparamos um WhatsApp ou, bocejando, trocamos o canal.
Anestesiados, ouvimos as tragédias ao nosso redor enquanto um bocejo escapa, numa preguiça pós-prandial. O desinteresse por tudo e por todos vai se espalhando tal qual a peste negra na Idade Média. Com uma diferença, naquela época ainda havia uma esperança chamada fé, que nos tempos atuais anda em baixa entre os mais jovens. Depois da vida, o nada. O problema é que a própria existência tem sido muito próxima de um nada. Então, azar de nós.
Será que a emoção está tão em desuso, por estarmos cada vez mais racionais, frios, tecnológicos, rápidos, desimportantes ou descartáveis? Ou tímidos, individualistas e autossuficientes? Só espero que não seja efeito da artificialização dos sentimentos pela bebida, pelas drogas e pelas medicações.
SEREMOS INSENSÍVEIS – Sim, no fundo sei que uma das vertentes da evolução humana é uma hipertrofia cerebral na área cortical, que nos tornará lógicos, matemáticos, insensíveis, em detrimento da área hipotalâmica, sede do estresse e das emoções.
Seremos mais máquina e menos animais. Mais equações, menos paixões. Vivemos os estertores do romantismo e do sentimentalismo. Sentimentos levam a guerras, impulsos, discórdias, assim como inspiram poesias, canções e encantamentos. Assim sempre foi, mas antes dos próximos séculos desta robotização, uma maquinização de nossas existências, testemunhamos essa estranha fase da indiferença, entrecortada por ódios e radicalismos pré-históricos em contraste com uma tecnologia impensável há 20 anos.
Estranho divórcio cerebral onde parte do nosso cérebro vive num filme de ficção científica, e do outro lado, parte vive de emoções regredidas e trogloditas. Olho para o lado e não vejo ninguém na praça lotada de alimentação. Nem sou visto. Tudo é neutro, igual a ontem ou mês passado, sem tempero como o sanduíche de fast food ou o suco artificial de alguma fruta. Observo a vida, amo ser curioso e besta. Agradeço por tantas emoções, sem plagiar o Roberto Carlos. Poder recordá-las e, para quem quiser, um dia me tornar um contador de histórias: “Era uma vez a paixão, uma coisa estranha que sufocava, acelerava o coração, me tirava do sério toda vez que minha musa…”.

26 de julho de 2016
Eduardo Aquino
O Tempo

O VELHO SOBRADO QUE POVOAVA A LEMBRANÇA DE CORA CORALINA



Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1880-1985), nasceu em Goiás Velho. Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano goiano, conforme este poema “Velho Sobrado”.

VELHO SOBRADO
(Cora Coralina)
Um montão disforme. Taipas e pedras,
abraçadas a grossas aroeiras,
toscamente esquadriadas.
Folhas de janelas.
Pedaços de batentes.
Almofadados de portas.
Vidraças estilhaçadas.
Ferragens retorcidas.
Abandono. Silêncio. Desordem.
Ausência, sobretudo.
O avanço vegetal acoberta o quadro.
Carrapateiras cacheadas.
São-caetano com seu verde planejamento,
pendurado de frutinhas ouro-rosa.
Uma bucha de cordoalha enfolhada,
berrante de flores amarelas
cingindo tudo.
Dá guarda, perfilado, um pé de mamão-macho.
No alto, instala-se, dominadora,
uma jovem gameleira, dona do futuro.
Cortina vulgar de decência urbana
defende a nudez dolorosa das ruínas do sobrado
— um muro.
Fechado. Largado.
O velho sobrado colonial
de cinco sacadas,
de ferro forjado,
cede.
Bem que podia ser conservado,
bem que devia ser retocado,
tão alto, tão nobre-senhorial.
O sobradão dos Vieiras
cai aos pedaços,
abandonado.
Parede hoje. Parede amanhã.
Caliça, telhas e pedras
se amontoando com estrondo.
Famílias alarmadas se mudando.
Assustados – passantes e vizinhos.
Aos poucos, a ” fortaleza ” desabando.
Quem se lembra?
Quem se esquece?
Padre Vicente José Vieira.
D. Irena Manso Serradourada.
D. Virgínia Vieira
– grande dama de outros tempos.
Flor de distinção e nobreza
na heráldica da cidade.
Benjamim Vieira,
Rodolfo Luz Vieira,
Ludugero,
Angela,
Débora, Maria…
tão distante a gente do sobrado…
Bailes e saraus antigos.
Cortesia. Sociedade goiana.
Senhoras e cavalheiros…
-tão desusados…
O Passado…
A escadaria de patamares
vai subindo… subindo…
Portas no alto.
À direita. À esquerda.
Se abrindo, familiares.
Salas. Antigos canapés.
Cadeiras em ordem.
Pelas paredes forradas de papel,
desenho de querubins, segurando
cornucópia e laços.
Retratos de antepassados,
solenes, empertigados.
Gente de dantes.
Grandes espelhos de cristal,
emoldurados de veludo negro.
Velhas credências torneadas
sustentando
jarrões pesados.
Antigas flores
de que ninguém mais fala!
Rosa cheirosa de Alexandria.
Sempre-viva. Cravinas.
Damas-entre-verdes.
Jasmim-do-cabo. Resedá.
Um aroma esquecido
– manjerona.

26 de julho de 2016
postado por m.americo

NA BÍBLIA, CONSTATA-SE MUITA SEMELHANÇA ENTRE O BUDISMO E O CRISTIANISMO


É surpreendente fazer uma leitura budista da Bíblia. Uma pesquisadora que se articulou nesse sentido foi a alemã Ayya Khema, monja da tradição Theravada que interpretou textos bíblicos do ponto de vista budista e fundamentou uma hermenêutica budista da Bíblia, segundo a revista online “Rever – Revista de Estudos da Religião”, editada pela PUC de São Paulo, setembro de 2007, páginas 165 a 170.
Na mesma edição da “Rever” ficamos sabendo que  Hischam A. Hapatsch, professor doutor em Teologia pela Universidade Humboldt, de Berlim, defendeu tese sobre “A Recepção da Igreja e do Cristianismo no Budismo Alemão”.
Ora, cada país tem a sua forma de ser budista. É por isso que, de longa data, desde os anos 1970, defendemos um budismo brasileiro, em português, e, naturalmente plural.
Para alegria minha, vejo que a linhagem a qual pertenço, HBS – Honmon Butsuryu Shu (Budismo Primordial), vai aos poucos se abrasileirando, sem contudo, perder os seus vínculos com a matriz, que é o Japão.
Recentemente foi aberto um núcleo em Taguatinga, DF, próspera cidade satélite, próxima à Brasília. Conheci Taguatinga ainda pré-adolescente, uma dinâmica localidade nos primórdios do Plano Piloto que cresceu e se desenvolveu.
Aproveito para sugerir o ótimo livro “O Buda Jesus – As fontes Budistas do Cristianismo”, de Holger Kersten, teólogo alemão que, juntamente com Elmar R. Gruber, fazem belo exercício acadêmico na área das “Religiões Comparadas”, editora  Best Seller.
Ou seja, Budismo Cristão é igual a Cristianismo Budista!

26 de julho de 2016
Antonio Rocha