O corpo é a nossa casa. Nele habitamos e é nele somente, que podemos construir o maior dos bens: a saúde. Não adianta falar de 'felicidade' ou qualquer outra forma de realização pessoal, se não possuirmos a condição fundamental da vida que é a saúde.
Não atinamos com a sua importância, porque quando a possuímos, ela é de alguma forma, invisível. Como dizia o mago Jefa (Dr. Jorge Adoum), "A ordem é invisível."
De fato, quando entramos em algum lugar, não nos damos conta de imediato, de certo prazer que nos invade e nos proporciona uma sensação de organização, de beleza, a sensação de que o conforto, o bem-estar, é inerente ao espaço.
Quando chegamos a algum lugar em que a desordem predomina, de imediato percebemos o desarranjo dos objetos, um descompasso, uma geometria caótica, e nos damos conta da desagradável sensação de que alguma coisa se perdeu. O desconforto, o impulso de nos afastarmos, a repulsa e o desejo de distanciamento apoderam-se de nós. Logo identificamnos a causa.
A ordem ou a desordem é apenas o reflexo interior do homem, e o modo inerente de percebermos o mundo. Organizamos o exterior segundo a nossa ordem interna. E nem sempre a nossa ordem interior reflete o sentido de harmonia. Ela é um padrão mental e emocional, e como tal, varia de individuo para individuo.
Assim também a nossa casa, o corpo. Ele refletirá a nossa condição interna. Inútil pensar que poderia ser diferente. Somos o que comemos, somos o que sentimos, somos o que pensamos.
A saúde é uma condição inerente ao nosso modo de vida. Podemos possuí-la, podemos melhorá-la, podemos perdê-la. O modo como percebemos a importância e a delicadeza do sistema que nos proporciona a vida, é a chave de como vivemos.
Refazer os caminhos, corrigir os erros, disciplinar hábitos, inovar padrões mais sadios de comportamento, esse é o caminho da renovação.
Quando despertamos para a renovação é sinal de que algo maior já está acontecendo. Maturidade, sofrimento, consciência... o que quer que seja! O importante é que acordamos para as nossas limitações, e que precisamos corrigir o rumo para encontrarmos a paz.
Creio que a condição fundamental para a "felicidade" é a saúde. Muitos correm atrás dos bens materiais, como prêmio único da vida. Acreditam que lá está o essencial para a realização da sua existência.
Não percebem que "o essencial é ínvisível para os olhos."
Quebrar velhos padrões que integram a natureza humana, ou a sociedade dos homens, não é fácil, como possa parecer a muitos. Há que se ter coragem para crer e realizar...
A propósito da renovação, vou contar uma parábola.
A águia é a ave que possui a maior longevidade da espécie. Chega a viver 70 anos. Mas para chegar a essa idade, aos 40 anos ela tem que tomar uma séria e difícil decisão.
Nessa fase da vida, ela está com as unhas compridas e flexíveis e não consegue mais agarrar as presas de que se alimenta. O bico, alongado e pontiagudo, se curva. Apontando contra o peito estão as asas, envelhecidas e pesadas, em função da grossura das penas. E voar já é tão difícil !
A águia só tem duas alternativas: morrer ou enfrentar um doloroso processo de renovação, que irá durar 150 dias.
Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e se recolher em um ninho próximo a um paredão, onde ela não precise voar. Após encontrar esse lugar, a águia começa a bater com o bico em uma parede até conseguir arrancá-lo. Depois de arrancá-lo, espera nascer um novo bico com o qual vai em seguida arrancar suas unhas.
Quando as novas unhas começam a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas. E só após cinco meses, sai para o grandioso vôo de renovação e para viver mais 30 anos.
Também em nossas vidas, devemos em determinados momentos, recolher-nos ao silêncio e a meditação, para iniciarmos o nosso processo de renovação. Arrancando velhas lembranças que nos adoecem, velhos padrões, velhas tradições que nos amarram ao sofrimento inútil, velhas emoções que somente nos causam doença e dor.
Somente livres do peso que nos impedia de voar, cumpriremos o ritual da nossa renovação.
M.AMERICO
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