Com variações de foco, profundidade e extensão, os quatro títulos contribuem para entender tanto o conturbado contexto geopolítico da Síria e do Iraque nos últimos anos quanto a equivocada estratégia adotada pelos Estados Unidos e pela União Europeia na região. É consensual entre os autores que esses dois fatores criaram as condições para a emergência e rápido crescimento de uma organização militar-religiosa muito mais radical, violento e eficaz que a Al-Qaeda. O Estado Islâmico chocou o planeta ao divulgar pela internet decapitações de seus inimigos (basicamente todo mundo fora do EI, inclusive eu e você), escraviza sexualmente milhares de mulheres, atira homossexuais do alto de edifícios e hoje domina um território de área equivalente à Itália. Conta, além disso, conta com um exército de 100 mil combatentes e vem angariando um apoio popular não tão surpreendente numa região extremamente carente de serviços básicos e dominada na prática por líderes tribais. Em suma, o Estado islâmico está efetivamente modificando a correlação de forças políticas no Oriente Médio, sendo um dos responsáveis pelo êxodo em massa de refugiados sírios que comoveu o mundo.
O livro do jornalista americano Michael Weiss e do cientista político sírio Hassan Hassan é mais detalhado e menos opinativo que o de Cockburn. Weiss e Hassan se concentram no processo de crescimento do exército jihadista e seu apelo para voluntários internacionais (estima-se um contingente de dezenas de milhares), com base em entrevistas exclusivas com militares americanos e combatentes do Estado Islâmico. Os dois autores explicam quem são os protagonistas do Estado Islâmico, de onde vêm, como conquistaram tanto apoio local e global e como eles operam. Mostram também como a organização surgiu das cinzas da Al-Qaeda no Iraque, construindo pacientemente células “adormecidas”, comprando lealdade e intimidando comunidades locais, eliminando assim qualquer possibilidade de resistência interna.
A leitura desses livros demonstra que, por assustador que seja, o Estado Islâmico não é um fenômeno dissociado de conflitos e interesses que o ultrapassam amplamente. No xadrez geopolítico da região, Irã, Turquia, Arábia Saudita e Catar, além das próprias Síria e da Líbia, movimentam suas peças segundo uma lógica particular, na qual o elemento religioso torna tudo ainda mais difícil de entender aos olhos ocidentais. Nesse contexto, nada pode se mais tolo que buscar maneiras de jogar a culpa nos Estados Unidos, receita de fácil consumo que infelizmente vem sendo muito disseminada na mídia e nas redes sociais.
16 de janeiro de 2016
in maquina de escrever
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