A FICÇÃO CHAMADA NATAL
O Natal tornou-se uma ficção! Uma grande ficção! Paro para refletir: o que celebramos nesta data, em que supostamente, teria nascido o Salvador, o Cristo?
Uma pergunta simples, mas que nos envergonhamos ao responde-la. Seria a festa da chegada da Boa Nova, a vinda do Amor, do "amai-vos uns aos outros, como eu vos amei!" Ou a realidade nos diz que "não se trata mais disso?"
São outros tempos, e o Cristianismo tornou-se apenas uma crença, sem compromisso, ou obrigações com os meus semelhantes.
Aliás, constumo interrogar-me, vez ou outra: quem é o meu próximo?" Nesse turbilhão de individualismos, quem é o meu próximo? Aquele que concorda comigo, aquele que divide comigo o conforto de uma mesma classe, e que não me obriga a aceitar que divida seus sofrimentos comigo, ou aquele que apenas me convida para o riso fácil, o divertimento, a alegria?
Pergunta um pouco mais difícil, também é possível de ser feita: em que se transformou o ser humano? Quando foi que aguçamos nossas garras, quando aumentamos a ganância, quando ampliamos o nosso ego, que nos engoliu?
Ou será que tal pergunta é ociosa, pois que sempre tivemos as garras afiadas, pois que sempre fomos gananciosos, por que sempre invejamos a riqueza alheia?
Milhares de pessoas morrendo em guerras sucessivas, na Ucrânia, na Coréia do Norte... Centenas de mísseis sobre Israel, civis palestinos vítimas de bombardeios... A ferocidade de organizações terroristas, guerras que sequer sabemos onde estão ocorrendo...
No banquete de Natal, com a família em torno de uma farta mesa, com boas bebidas, esquecemos que logo ali na esquina, um desabrigado, encolhido tenta dormir, burlando a fome e o frio.
Quão distante estamos dessa "promessa" do Cristo!!
Quantos indigentes estão a espera de uma esmola...
O exercício da consciência, nos encurrala em becos sem saída! Ou nos conformamos com a miséria humana, ou invejamos a coragem dos missionários que se internam em povoados da África, ou até mesmo aqui, no sertão nordestino, com escassez que revela o milagre da vida continuar existindo, apesar de curta e sofrida.
Como escrever uma crônica de Natal, quando a realidade do nosso mundo é um soco na boca do estômago? Fechar os olhos e a consciência para o sofrimento de grandes agrupamentos humanos, que nos cercam, seria uma solução? Começo a crer que sim, pois que assim vivemos, nos esforçando para não enxergar as dores que assolam a vida de milhares de pessoas ao nosso redor.
As crianças abençoadas esperam Papai Noel, para trazer-lhes os sonhados presentes de Natal!! Porque as crianças são a luz do mundo!
Ingênuas, elas esperam Papai Noel, porque esquecem o sofrimento e a amargura, até mesmo a sede, as dores e a fome, enfeitiçadas que são, quando olham as luzes coloridas que enfeitam as cidades.
Ainda assim, diante da nossa cegueira, alimento secretamente a esperança de que a exaustão de tanto sofrimento, acordará o coração do homem, porque a vida é bela e exuberante!
Termino, lembrando-me do que disse Carl Sagan:
"Diante da vastidão do espaço e da imensidão do tempo, é uma alegria partilhar um planeta e uma época com vocês."
03 de dezembro de 2024
prof.mario moura