Inconsciente coletivo. Assim Jung chamou o que seria um arquivo oculto de imagens, uma espécie de memória ancestral da humanidade. Essa memória manifesta-se com muita clareza nos esquizofrênicos. Essas imagens, que Jung chamou de 'símbolos arquetípicos', também foram identificados pela psiquiatra Nise da Silveira, quando de seu trabalho em um hospital psiquiátrico, e dirigia a seção de terapêutica ocupacional no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro, entre os anos de 1946 e 1974. Seu livro "Imagens do Inconsciente", entre análises e reflexões, apresenta inúmeros trabalhos (desenhos, pinturas, modelagens) dos pacientes internos.
Encontramos tais símbolos na mitologia, nas pinturas, nos rituais religiosos, nos signos gráficos de civilizações em qualquer tempo histórico.
O símbolo surge mais claramente, como linguagem fundamental e manifestação dominante, porque a consciência não atua repressivamente e o psiquismo, no esquizofrênico, encontra a sua conexão com o que está subjacente nas camadas mais profundas, sem a censura da mente lógico-formal.
Carregamos uma 'memória da humanidade', onde estão latentemente armazenadas no inconsciente, experiências ancestrais da espécie.
As lendas, os contos de fadas, as mitologias, a comunicação de massas, usam os signos, porque são capazes de expressar conteúdos através de histórias e narrativas, melhor do que a formulação de conceitos.
Na esquizofrenia, perde-se o contato com o consciente vivenciando-se apenas a relação mais ou menos profunda com o inconsciente.
Tais símbolos revelam a relação imemorial do homem com os mesmos elementos básicos da natureza e as forças profundas do cosmos.
Os arquétipos, do que ele denominou insconsciente coletivo, sempre estavam presentes, embora sob diferentes formas, em civilizações separadas por séculos ou milênios, e também em outras mais próximas.
O mito é a forma de conservar e de significar valores através de um símbolo ou metassímbolo. É portanto, a representação de uma verdade profunda da mente.
As lendas, os contos de fadas, não são historinhas fantasiosas. Há o relato de uma íntima conexão com o psiquismo. Expressam realidades profundas da psique, suas fantasias e difusas emoções.
O mito é a tradução explícita dos conflitos do ser humano para compreender o processo de relacionar-se com a realidade e nela inserir-se. Expresso através do símbolo, da fábula, da lenda, o mito faz emergir a verdade profunda da mente mergulhada no enigma, no inconsciente ou no 'elo perdido'.
O mito é o incurso comum, paralelo ao incurso ideológico.
Retoma-se da mitologia grega, os seis elementos: o Logos, o Ethos, Eros, Psiche, Theós, Pathos, que estão, direta ou indiretamente, simbolicamente expressos sob a forma de lendas e fábulas, presentes em toda comunicação, como incursos.
São enigmas originários das zonas não iluminadas da mente e presentes, fundamentalmente, em qualquer discurso.
As pessoas de um modo geral, preferem ignorar as complexidades. Passam pela vida, para libar o prazer ou usufruir o poder.
O mito cristão toca o cerne, a raiz da questão vital: "Só a verdade vos libertará."
Não foi dado ao ser humano contemplar a verdade. Somente as verdades circunstanciais estão ao seu alcance. Somente 'verdades de razão' (as geométricas, por exemplo, ou as matemáticas) são possíveis ao ser humano.
M. AMERICO
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