domingo, 27 de junho de 2010

JOSÉ SARAMAGO

NA ILHA POR VEZES HABITADA

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,

 manhãs e madrugadas em que não precisamos de


morrer.


Então sabemos tudo do que foi e será.


O mundo aparece explicado definitivamente e entra


em nós uma grande serenidade, e dizem-se as


palavras que a significam.


Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas


mãos.


Com doçura.


Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a


vontade e os limites.


Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o


sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do


mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos


ossos dela.


Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres


como a água, a pedra e a raiz.


Cada um de nós é por enquanto a vida.


Isso nos baste.


Não me Peçam Razões...
Não me peçam razões, que não as tenho,

Ou darei quantas queiram: bem sabemos

Que razões são palavras, todas nascem

Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda

A força de maré que me enche o peito,

Este estar mal no mundo e nesta lei:

Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,

Deste modo de amar e destruir:

Quando a noite é de mais é que amanhece

A cor de primavera que há-de vir.

postado por m. americo

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