quarta-feira, 24 de agosto de 2011

SULTAN KHAN E A 4ª. RONDA

Sob a coordenação de Sultan Khan, passamos las noches de Rivera analisando partidas de xadrez das Olimpíadas que se desenrolam na Sibéria.

Sultan é um matusalém indiano que foi escravo de um Khan na sua pátria, daí o sobrenome que ele renega, prefere ser chamado apenas pelo primeiro nome.

O marajá era metido até a raiz dos cabelos em negociatas com os ingleses da linha-dura, se é que tem algum de linha mole. Dava-se muito bem com eles, pois como todos sabem os ingleses, seus aparentados e descendentes, são fissurados em escravizar e espoliar o terceiro mundo.

De tanto escravizar seus patrícios e lamber as botas dos malvados colonizadores, o tal Khan chegou a Cavaleiro da Grande Cruz do Império Britânico, entre outras comendas que os encastelados usam para se lamber mutuamente, e que por alguma razão sempre ressalto: aquele me-engana-que-eu-acho-bacana para cima do povo, o faz-de-conta que não somos fedidos.

Fascinado pelo jogo-ciência-arte, Sultan logo chamou a atenção do seu dono pelas proezas no tabuleiro, de modo que era tratado como escravo de luxo.
Com boa escola, tempo para estudar, alimentação adequada, tornou-se um adversário temível, aguda inteligência, nervos de aço, em pouco tempo a Índia, berço do xadrez, já não tinha adversários a sua altura.

O Khan então o levou com sua comitiva para a Inglaterra numa das muitas viagens que fazia para se divertir e dividir com os estrangeiros o resultado da pilhagem ao seu povo, como fazem alguns atualmente, online, em relação aos Estados Unidos.

Esta mania de ir mudando de assunto ainda vai me causar problemas, qualquer dia os armínios, meirelles e toda a fiesp se unem ao Dan e a Mr.Febraban e me abotoam o paletó. Está bem, pessoal, refiro-me exclusivamente ao traidor joguete da Arábia Saudita.

Na capital inglesa a figura daquele enorme e esguio indiano com seu turbante branco causou uma grande comoção: ninguém entendia como era possível a um silencioso e obediente escravo enfrentar e vencer aos melhores enxadristas da Europa, suplanta-los em inteligência, ciência e arte.
Caiu o queixo da Rainha, que lhe acenava faceira sempre que ninguém estivesse olhando.
Algumas de suas partidas são célebres, temos especial admiração pela Caro-Kann Rubinstein com a qual ele bateu Flohryn no clube dos magnatas de Londres.

O marajá se encantou mais ainda com o objeto que lhe dava fama e ficou dois anos viajando pela Europa, com Sultan reduzindo a pó os maiores campeões dos grandes centros urbanos.

Numa ocasião, em Liege, na Bélgica, o povo foi aclama-lo em frente ao teatro da cidade, após a sua retumbante vitória sobre Akiba Rubinsulko, numa partida India variante Capablanca.
De outra feita, em Hamburgo, o próprio Hitler estava na platéia, ali Sultan não se sentiu bem e demorou 74 lances para dobrar Karl Stein numa Indiana da Rainha. O judeu Stein também estava nervoso, quiseram suspender a partida, o que os organizadores não permitiram: ou jogam ou morrem.
Nosso herói, obviamente, nunca viu a cor do dinheiro que ganhava nos torneios.

Eis que um belo dia o marajá decidiu retornar à pátria, a espoliação capengava sem os seus cuidados. Por essa época Sultan era amante de uma finória chamada Elisa Louise, noiva de um capitão do regimento da cavalaria armada da Abadia de Westminster. De joelhos ela implorou que não fosse embora.

Havia chegado, enfim, o momento de Sultan se livrar do seu feitor. Gestões foram feitas pela nobreza parentalha da moça, dinheiros correram, e o Khan dizendo que não, nunca, jamais lhes venderia ser serviçal mais valioso.
Então que começaram a trata-lo com certa distância, logo com frieza, ao ponto do descaso, lentamente minando suas defesas, por fim disseram-lhe que o caso tinha incomodado os ouvidos da Rainha...

Bem, o indivíduo não era doido de arrumar encrenca com os chefões, e logo a Queen!, então concordou em deixar Sultan em Londres, mas somente por cinco anos.
Todos sabiam que jamais seria devolvido, os nobres mais tarde recompensariam o maracujá, agora convinha manda-lo embora sem parecer que o tinham chantageado.
Assim foi que Sultan escapou do seu senhor e tornou-se o brinquedo predileto da nobreza e dos ricaços ingleses.

Para encurtar o relato, de há muito Sultan estava cheio daquilo tudo, da vaca da amante, dela e de seus reais cães. Muito ruim de cama e com mau-hálito. E aquele modo vulgar de chama-lo para o leito: "Vem meu Cavalão, vem meu Peaozão, meu Bispão, me bate, me...". Cheio também estava dos endinheirados fofoqueiros, do ar de... bem, já falei, o faz-de-conta.

A jararaca estava de casamento marcado. Julgando que o pensamento distante de Sultan era de tristeza pelo casório, a medonha prometeu que em compensação iria lhe conseguir a Medalha de Galanteria da Rainha, que não ficasse chateado, gostava mesmo era dele, o casamento era para manter as aparências, o de praxe nesse meio.

Sim, Sultan andou pelo Palácio de Buckinghan se exibindo em simultâneas, a Rainha ficou embevecida, consta até que... deixa para lá.

Por um tempo Sultan dedicou-se, em suas partidas, a comer a rainha alheia. Na verdade por lá não se usa a expressão comer, e sim tomar. De certo mesmo é que a Rainha passou a colecionar turbantes indianos. Nada de estranho, cada um, cada um, afinal a princesa Isabel colecionava atabaques.

Numa das exibições públicas (públicas até ali, em teatro fechado, a cem reais ou libras por cabeça, para frequentadores de ninhos como o Teatro São Pedro, onde lambem os lindinhos da Globo) um figurão norte-americano quis testar a sua memória, provocando-o a ouvir uma série de palavras e depois repeti-las na mesma ordem. Sultan humildemente aquiesceu.
O sujeito puxou uma papelama do bolso e no palco da apresentação leu, pausadamente, 400 palavras, sem aparente conexão de umas com outras. Se em português poderiam ser: feijão, inconstitucional, paródia, mico, paralelepípedo, cabeça, juiz, e quem quiser acrescente mais 393 ao seu gosto. Ao terminar, estendeu a mão em direção a Sultan, como quem diz "sua vez".
Nosso enxadrista começou: feijão, inconstitucional, paródia, mico... e foi até a 400, na ordem exata. A platéia enlouqueceu em aplausos e vivas. Sultan esperou até que o silêncio voltasse ao salão e recomeçou tudo, agora de trás para diante. Só repetiu as palavras, se a última fosse "exagerado", por ela começou, assim como se escreve, mas nos contou que se quisesse poderia ter colocado as letras também de trás para diante: "odaregaxe", até chegar em "oãjief". Com essa, a Rainha... bem, esqueçamos a Rainha da Inglaterra, para não alimentar as sempre indesejáveis más-línguas.


No dia do casamento da pinguancha Elisa com seu agora general - o promoveram para poder casar com a nobre -, Sultan, que havia se apaixonado perdidamente por uma morocha uruguaya que passava férias em Londres, a Claudia Lujan, deu no pé e veio parar aqui, como herdeiro das fazendas do pai da sua amada .
Vive a repetir: fora do tabuleiro, rapaz, nunca se meta com reis, rainhas e bispos, são perigosos, peões desunidos morrem sempre. Escrevo isto e lembro dos partidos de esquerda, peonada que segue desunida e, pior, que agora entontece fácil com qualquer cargo público, de empregado do povo, já ficam se achando, querem Oscar com um abacaxi de encomenda, se julgam merecedores de prêmio Nobel, uma lástima.


Acabei me estendendo ao falar do nosso amigo. Os nossos bambas, além do imbatível Sultan, que agora só joga con su vieja Claudita, são Miquirina Segundo, Raúl Capanegra, Kafil M'Oba e Carlito Dulcemano, mas Carlito ausentou-se, está se demorando no Brasil. Os demais são assim-assim. Dolores Sierra e eu nos defendemos.
Juanito Matabanquero só é bom em jogo de osso e em tiro al blanco.

Os matches na Sibéria iniciam as 7 da manhã, horário do Uruguay, então à noite Sultan seleciona as partidas que vale a pena analisar, por genialidade ou técnica. Hoje, festejando a primavera, mudamos: decidimos assistir ao vivo pela internet. Dez notibuquis frigindo de ligeiros, conectados a telas grandes.

Que bela manhã!

Grandes jogos. Ivanchuk, Aronian, Kramnik, Topalov, Grischuk, Shirov... Eu fui direto na partida do georgiano Baadur Jobava, de brancas enfrentando o número 1 do mundo, Magnus Carlsen, pela Noruega.
Outro dia falamos sobre o Baadur, é "apenas" o número 31 do planeta, porque se expõe muito. Aos 24 anos é o cara que, em toda a história do xadrez desde que há registro, mais partidas venceu com sacrifício de peças. Abriu um tantinho e não quer nem saber, vai com tudo, sangue de toureiro, joga a morrer. Gosto de gente assim. Sobre Magnus há uma boa entrevista aqui no bloguinho.

Miquirina Segundo ficou procurando a equipe de Angola, diz que na sua cidade, Cuando-Cubango, o pessoal joga muito bem. Descobriu que Angola se inscreveu mas não compareceu. A Tanzânia de Kafil nem se inscreveu. Cuba de Raúl lá estava, nunca falha.

Baadur e Magnus ainda estavam na abertura da sua partida quando localizei o Burundi, num relâmpago já havia tomado 4 x 0, como nos três rounds anteriores. Sim, cada país é representado por 4 enxadristas, joga o país quando jogam os 4 tabuleiros. Assim que o Burundi tomou 4 x 0 nos quatro rounds.
FOTO: Sultan, quando jovem.
ainda espantado

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