A pergunta é: O que acontece com o senso de prioridade das pessoas?
Tem uma parada muito estranha acontecendo com a galera, algo quase sinistro, onde a pressa, e quando digo pressa, falo de um comichão quase insano pelo simples ato de esperar pentelhézimos de segundos seja para o que for, pois estamos de uma forma tal que essa impaciência se tornou generalizada e sem filtros.
Anda rolando um senso absurdamente louco de 100% de auto-prioridade onde o povo simplesmente caga para os sensos-comuns de urgência, tipo: Ambulância, você vê alguém saindo da frente de uma ambulância? Agora imagine que é você e sua mãe passando mal que estão dentro dela, é de pirar, né não? Ninguém sai mais da frente amigo, chegar no trabalho, na faculdade ou no cliente é mais importante do que a vida da sua mãe.
Então, senso de prioridade. Essa coisa de prioridade é algo obsoleto, certo? Porque eu não vejo a galera discernindo o que é urgente daquilo que pode esperar (na verdade, tudo pode esperar, mas há um pensamento insano globalizado de que tudo é para ontem), é como uma fome, na verdade é uma fome, insaciável.
O que é a pressa? Porque ela evoluiu para um senso de urgência para toda e qualquer coisa? Todo mundo faz, faz, faz, corre, corre, corre, pra ver se no fim consegue um tico de satisfação - o elogio do chefe, um aumento, aquele cliente, um beijo do namorado, um olhar, o salário no final do mês -, logo, a pressa é sempre para encontrar algum tipo de regozijo, uma satisfação, um acalento... que nunca chega ou nunca é suficiente.
A pressa é um comportamento tão compulsivo que, você corre tanto para conseguir aquela realização, e quando ela se concretiza, não consegue ficar parado e simplesmente "curtir e integrar" o momento. Rola aquela curtidinha safada, para logo em seguida sair a cata de mais um novo desafio, é preciso estar em movimento... é preciso mais uma cenoura.
Não só se tem pressa para realizar, como se passa pela realização correndo para a próxima. Esse é o comportamento compulsivo da pressa. A pressa gera seres humanos tão superficiais quanto infelizes.
Eu não lido bem com pressa e agitação. Quando fico muito agitada, sento e respiro. A agitação me deixa com a visão nebulosa e não consigo captar a logística das coisas com propriedade. Ás vezes consigo ter uma visão panorâmica dos processos, outras não. Mas a paradinha para a respirada é fundamental independente do resultado obtido. Acho que é isso que acontece com as pessoas, elas não veem o quadro à distância a fim de priorizar, e mais do que tudo, não SE percebem dentro do processo em meio a loucura que se propõem, com isso, vão passando por cima de si mesmas e quem passa por cima de si mesmo, não tem problema em atropelar o coleguinha.
O que vemos nas ruas? Monstros-humanos se digladiando, correndo, brigando para terem 100% das suas necessidades com !!! (alta prioridade) em tempo recorde de realização.
Como estão todos brigando para se auto-atenderem urgentemente, obviamente, falta olhar para o outro. E a falta de olhar para o outro acarreta ausência de gentileza, cordialidade e todas aquelas características que nos fazem mais humanos e menos animais-atrás-da-carniça.
Não há graça numa vida com pressa.
A pressa nos impede de ver e sentir a vida, pois a beleza da vida está na sutil diferença entre as nuances de uma situação para a outra. Não dá para perceber uma nuance com pressa, logo, todas as situações e pessoas se tornam iguais e previsíveis para pessoas com olhar pastel-apressado. É tudo igual, é tudo chato, é tudo feio.
Por esse motivo as pessoas andam tão grossas e impacientes, além de umbiguistas, falta beleza dentro delas. A quantidade e a rapidez nos processos não podem ser mais importantes do que a qualidade deles, e qualidade não rima com pressa. Beleza não rima com pressa, amor não rima com pressa, alegria, menos ainda.
Então, aperte o stop, permita-se respirar fundo, o mundo não vai cair, se você parar por 5 minutinhos para simplesmente apreciar o que há em volta, e há muito o quê apreciar, acredite. Só é preciso prática para descobrir um universo invisível a olhos-corridos, mas, é exatamente esse universo que abre nossa alma e alimenta nossa fome - antes insaciável - de viver.
Monik Ornellas
Ótimo post sobre a Doença da Pressa (fonte: Revista Época).
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