“Não buscando nada, se possui tudo”, ensinou o senhor Budha. Felicidade é a ausência de desejos.
Preste atenção, não é a satisfação do desejo que gera a felicidade plena; ao contrário, é a ausência do desejo que satisfaz definitivamente.
O índio que não conhece o automóvel não se atormenta pela falta de um carro de luxo; não precisa enfrentar o desejo de possuir um.
Nunca se submeterá ao sacrifício de pagar uma prestação, um IPVA, de parar para abastecer, de fazer seguro; continuará andando a pé até onde os pés o levarem.
Mas, para quem nasceu no meio de automóveis, sofrer sua falta é comum. Deseja possuir o melhor e não se contenta com aquele que tem a seu alcance, quando o tem.
Claro? Se não for, veja como é comum a pessoa que alcançou uma grande realização partir de imediato à procura de algo maior, que precisará de novos sacrifícios, sofrimentos, penas que não compensam.
O viciado precisa aumentar as doses para chegar à tontura. Para quem nunca experimentou, uma pequena quantidade altera de imediato os sentidos, mas, para quem já se acostumou, só se chega a isso com doses bem maiores.
RESSACA…
O efeito da bebida alcoólica provoca ressaca; não acrescenta bem-estar, não cumula, não enriquece, nada deixa senão resíduos desagradáveis. Quem está livre dela não será infeliz por sua causa.
Não sofrerá pela síndrome de abstinência ou pela ressaca. Economizará perdas incríveis de tempo, de energia e de saúde.
O desejo – qualquer desejo – custa caro, moral e materialmente.
Mas desde quando a serpente provocou Eva a morder a maçã, nós desejamos! Desejamos sem limites o que não é necessário à felicidade. Desejamos até que nesta existência, ou nas próximas (o budismo crê na reencarnação), aprenda-se a controlar sensações, desejos e paixões.
Enquanto formos prisioneiros delas, enfrentaremos as pedras do caminho, os espinhos, os obstáculos, as tristezas. Colheremos os frutos dos desejos molhados pelo suor.
O desejo não tem asas, arrasta-se nas trilhas mais rasteiras. O desejo não deixa decolar rumo ao paraíso, é lenha para o inferno que criamos a cada instante para nós mesmos e nossos semelhantes.
Feliz mesmo é quem se satisfaz com aquilo que tem!
18 de abril de 2013
Vittorio Medioli (O Tempo)
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