sábado, 17 de agosto de 2013

BOLSA VERGONHA PARA POLÍTICOS

Diz o Eclesiastes, em sua sabedoria, que quem acresce em conhecimento, acresce em dor. Schopenhauer também apostou suas fichas nesse dístico, o que, se bem pensado, não se desmerece.
Um homem pode ser feliz na sua ignorância? Um pergunta polêmica... Mas certamente que a sabedoria não acrescenta grãos de felicidade a vida de ninguém.
Senão, vejamos...
Você começa a tomar pé de informações do que ocorre nos bastidores da política, porque percebe que de algum modo, sua vida está enroscada no que o Estado e o seu governante faz politicamente. Impostos escorchantes, vida sufocante na mobilidade urbana, políticas públicas que não atendem as mais básicas necessidades como segurança, educação, saúde, saneamento e por aí afora.
Você começa a perceber que o seu voto serviu para colocar na direção dessas políticas, candidatos que, uma vez eleitos, descartam os seus eleitores e suas promessas programáticas, para usufruir de mordomias, abusar do poder, e tramar o seu enriquecimento, pouco importando as ilicitudes necessárias que deva cometer para alcançar os seus fins.
E quanto mais você lê e se informa, mais você tem certeza de que a corrupção, como as metástases de um câncer, espalha-se pelas instituições.
Não se trata de um mal exclusivamente brasileiro, mas no nosso caso, acrescenta-se a peculiaridade da impunidade. E quando não, a justiça tardia, que como dizem, não é justiça.
Assim o conhecimento que vamos adquirindo nos torna revoltados com a insensatez da espécie. Acabamos adquirindo o discurso pessimista e desesperançado de construir um país de todos, e não de tolos.
Pior: os que estão à nossa volta, sequer estão interessados em saber o porquê de tanta miséria, de tanto atraso, de tanta injustiça. E nos tornamos ilhas cercadas de um grande mar de indiferença.
Eis aí o fruto do conhecimento... Mas mesmo assim, até que alcancemos a depuração da vida pública, vamos tomando e labutando...
Desnecessário lembrar os inúmeros casos recentes cometidos pelos eternos caras-de-pau, as verdadeiras saúvas da política brasileira.
Sem renovação, os mandatos se perpetuam às custas de muito dinheiro e fantásticos conchavos. Assistimos impávidos, à eternização do poder e pior, do seu mau uso.
Faz pouco, o "guardanapo" Cabral lamentava-se das manifestações que estacionaram à porta da sua mansão suspensa, num dos bairros mais caros da cidade do Rio de Janeiro.
Agora, aponta-se mais um caso cheio de glamour do "guardanapo".
E a pouca vergonha e a cínica aposta na curta memória dos acontecimentos, já faz parte do espetáculo que transforma a política num BBB de escândalos...
Segue o relato...
m.americo

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A primeira-dama do Rio, Adriana Ancelmo, ganha quase dez vezes o salário do marido no escritório contratado por concessionárias e prestadoras de serviço para o estado

 

CABRAL E A MULHER, a quem ele chama de Riqueza: ela deu a notícia e o representou na posse de desembargadores
CABRAL E A MULHER, a quem ele chama de Riqueza: ela deu a notícia e o representou na posse de desembargadores (Vera Donato/Estadão Conteúdo)

O escritório Coelho & Ancelmo Advogados Associados chama atenção no Rio de Janeiro por duas características. A primeira é ter experimentado nos últimos seis anos um crescimento espetacular. De três profissionais e 500 processos em carteira, saltou para um empreendimento com vinte advogados e cerca de 10 000 ações.
 
A receita do escritório era de 2,1 milhões de reais em 2006 e foi para 9,5 milhões no ano passado. A segunda característica a ressaltar é o fato de a banca ter como sócia-proprietária a advogada Adriana Ancelmo, de 43 anos, mulher de Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, a quem ele trata pelo apelido de Riqueza.
 
Adriana tem ganhos mensais de 184 000 reais por sua participação.
E essa seria apenas uma bela história de um jovem casal bem-sucedido, não fosse uma terceira circunstância: pode não ser mera coincidência o progresso da banca durante os mandatos de Cabral como governador do estado.
 
O elemento mais forte de suspeição deriva do fato de que, antes de Cabral tomar posse, o escritório de Adriana tinha apenas 2% de seu faturamento vindo de concessionárias e prestadoras de serviço ao governo do Rio.
 
Agora, 60% da receita vem de honorários recebidos por serviços prestados a empresas que, direta ou indiretamente, dependem de dinheiro público guardado no cofre do qual Cabral tem a chave.

17 de agosto de 2013
Leslie Leitão e Helena Borges - Veja
Ler a continuação dessa reportagem na edição desta semana de VEJA


 

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