quarta-feira, 8 de abril de 2015

NOVAS VACINAS TÊM RESULTADOS PROMISSORES NO COMBATE AO CÂNCER.


O estudo feito por pesquisadores americanos, foi publicado nesta quinta-feira em uma edição especial da revista 'Science' dedicada aos avanços da imunoterapia



O objetivo da imunoterapia é estimular as células do sistema imunológico 
do paciente para promover a cura
(Thinkstock/VEJA)

Uma nova técnica de imunoterapia, uma vacina personalizada que ataca os tumores, mostrou sinais promissores em três pacientes diagnosticados com melanoma, a forma mais agressiva de câncer de pele. Os resultados dessa abordagem, publicados nesta quinta-feira em uma edição especial da revistaScience que dedica cinco análises aos avanços da imunoterapia, revelam que os pacientes mostraram uma forte resposta imune, capaz de combater a doença.

Para isso, os pesquisadores da Universidade Washington de Saint Louis, nos Estados Unidos, compararam o genoma dos tumores de cada paciente com a carga genética do tecido saudável para identificar as proteínas mutantes do tumor, chamadas neoantígenos. Usando modelos de computador, os cientistas descobriram quais desses neoantígenos poderiam obter respostas mais fortes do sistema imunológico e, a partir disso, fabricaram vacinas para cada indivíduo. No mês seguinte, exames de sangue mostraram que o sistema imune dos pacientes estava respondendo ativamente às mutações.

O grande atrativo da pesquisa é que os cientistas conseguiram, por meio desta nova técnica, conceber vacinas personalizadas, uma abordagem que pode ser promissora no futuro. No entanto, os pesquisadores ressaltam que é cedo para afirmar se ela funciona para combater ao câncer. Neste ano, estão planejados estudos com um número maior de participantes.

"Esse é apenas o primeiro passo. Ainda é necessário acompanhar as respostas desses pacientes por longo prazo, além de ter outros estudos com mais pessoas e para outros tipos de câncer. O mérito desse estudo é que os cientistas conseguiram selecionar com precisão os neoantígenos e mostraram que os pacientes respondem a eles", afirma José Augusto Rinck Jr., médico oncologista do hospital A. C. Camargo. "É mais uma pesquisa a mostrar que a imunoterapia é uma estratégia promissora de combate ao câncer."


Avanço do Ano - O objetivo da edição especial da Science é ressaltar o desenvolvimento científico da imunoterapia e analisar o que precisa ser feito para que ela continue a evoluir e apresentar resultados. De acordo com a revista, há relatos de recuperações "espantosas" descritas nos artigos da edição, que analisam as diferentes técnicas de imunoterapia, como a descrita pelos pesquisadores americanos, e sugerem o que ainda precisa ser feito para que o tratamento se transforme em uma maneira eficaz de combate ao câncer.

O objetivo da imunoterapia, uma estratégia conhecida há mais de cinquenta anos, é estimular o sistema imunológico do paciente para promover a cura. Ela foi classificada como Avanço do Ano pela Science em 2013, quando seus resultados começaram a se tornar mais robustos. Os estudos feitos desde então mostram que o tratamento é capaz de fazer com que pacientes em estágio avançado da doença sobrevivam por mais tempo que o esperado. Há casos de pessoas que chegaram até mesmo a erradicar os tumores.

O melanoma é o tipo de tumor que responde melhor à terapia, mas resultados também têm sido promissores para câncer de próstata, pulmão, rim, bexiga, pescoço e ovários. Em conjunto, as análises da Science desenham um futuro promissor para o tratamento, apesar dos atuais obstáculos, como os efeitos colaterais e sua eficiência ainda para um pequeno número de pessoas.

"A estratégia tem chamado a atenção da comunidade científica em todo o mundo e será o foco de mais da metade dos estudos que serão apresentados este ano na Conferência da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, o maior evento da área. Estamos prestando cada vez mais atenção nessas pesquisas e nas novas drogas desenvolvidas, que podem ser uma forma realmente eficiente de combate da doença no futuro", afirma Rinck Jr.

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(Foto: Thinkstock/VEJA)

Nova droga usa o sistema imunológico do paciente para combater o câncer

O que diz a pesquisa: Usando uma substância chamada BMS-936558, cientistas conseguiram usar o próprio sistema imunológico de alguns pacientes contra o tumor que estavam desenvolvendo. Normalmente, o câncer consegue se disfarçar e não ser atacado pelas nossas células de defesa. Um dos métodos utilizados pelas células cancerígenas para passar despercebidas é pela ação de uma proteína chamada PDL1, que se comunica com uma outra proteína presente em nossos glóbulos brancos, a PD1. A nova droga impede essa comunicação, e faz com que essas células de defesa ataquem o tumor.

Como foi feita: O remédio foi administrado a 76 pacientes com câncer de pulmão de células não-pequenas, o tipo mais comum da doença. Em 18% dos casos, o tumor diminuiu ou parou de crescer. De 33 pacientes com câncer nos rins, 27% também responderam ao tratamento, e de 94 que tinham melanoma, 28% apresentaram melhoras.

Porque é importante: A pesquisa ainda é inicial, mas já se mostra promissora – são os melhores resultados conseguidos com algum tratamento de imunoterapia até hoje. Particularmente importantes foram seus efeitos nos pacientes com câncer de pulmão, que sempre se mostraram resistentes a esse tipo de tratamento.

Opinião do especialista: Milton José de Barros e Silva, oncologista clínico do Hospital A. C. Camargo

"É uma pesquisa inicial, mas sem sombra de dúvida bastante estimulante, pelas perspectivas futuras que abre. Seu mecanismo de ação é inteligente e ela apresenta bons resultados preliminares."

"A célula que podia destruir o câncer é o linfócito T. O problema é que quando ela chega no tumor, existe uma substância que desliga o linfócito. O que essa droga faz é se ligar no linfócito e cobrir esse botão de desligar. No entanto, o tratamento não é isento de efeitos colaterais. O sistema imunológico também pode atacar os tecidos saudáveis."

"A área da imuno-oncologia está em franca expansão. Ela não está voltada ao desenvolvimento de drogas contra o câncer, mas em drogas que estimulem o sistema imunológico contra os tumores. Hoje, já temos uma droga deste tipo em uso: a Anti–CTLA-4. Ela já foi aprovada nos Estados Unidos, e está sendo analisada pela Anvisa."



08 de abril de 2015
Veja

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