O real – a moeda brasileira – vai mal, disso sabemos todos. Faz um ano que vem sofrendo acentuada desvalorização, fato que traz severas consequências. Enquanto angustia uns, a degringolada da moeda alegra outros.
Importadores e consumidores de produtos importados se descabelam. Pagam hoje, pela mesma mercadoria, 50% a mais do que um ano atrás.
No Brasil, ainda que nem sempre percebamos, somos um bocado dependentes de artigos importados. Produtos agrícolas escapam a esse raciocínio, mas raros são os produtos industriais que se contentam de componentes unicamente nacionais. Em menor ou maior medida, integram insumos ou peças importadas. De um ano pra cá, com a queda de nossa moeda, tudo o que vem de fora ficou 50% mais caro, o que realimenta a inflação.
Os que vinham economizando, de olho naquela sonhada escapada ao exterior, murcharam. Convertidas em euros ou em dólares, suas economias minguaram. Do outro lado do espectro, boa parte dos três milhões de compatriotas estabelecidos fora da pátria remetem, todo mês, uns cobrinhos para ajudar a família. Tanto expatriados quanto familiares estão felizes: os mesmos dólares rendem muito mais reais.
Em nova prova de que o crime compensa, mensaleiros e petroleiros – falo dos espoliadores que sugaram o fruto do trabalho de todos nós – estarão satisfeitos. Tirando a minoria que está na cadeia, os outros, que podem ser centenas ou até milhares, estão hoje mais ricos ainda. Convertidas em reais, fortunas bem guardadas no exterior cresceram.
Mais prosaicamente, o comércio fronteiriço do sul do Brasil anda animado. A desvalorização do real diante da moeda de países hermanos esquentou o turismo de compras. Trata-se de movimento pendular, ora são os de cá que compram lá, ora o fluxo se inverte. Atualmente, são paraguaios, uruguaios e argentinos que levam vantagem fazendo compras no Brasil.
Segundo informa o jornal argentino Ámbito Financiero, vale a pena atravessar a fronteira para comprar desde laranja e cerveja até celular e ar condicionado. Contentes estão os que vivem pertinho do Brasil. Podem fazer as compras diárias de supermercado – com vantagem não desprezível – em nosso país.
É o Mercosul provando que é útil e eficiente. Exatamente como a «Pátria Educadora», poderoso instrumento que veio redimir nossa proverbial falta de cultura.
31 de outubro de 2015
brasil de longe
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