domingo, 27 de novembro de 2016

CADA UM DE NÓS PRECISA DIAGNOSTICAR E DOMINAR A PRÓPRIA INVEJA


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Charge do Meikel Neid (Arquivo Google)
Dizem que ela mata. Triste morte. Otimistas de nascença afirmam que, se bem-dosada, estimula. Mas sem dúvida adoece aos que dela se inoculam, envenenando suas vidas, à medida que impotentes assistem ao sucesso alheio. Numa inversão kafkiana, sucesso vira pecado capital, enquanto inveja, um indulto ao bem viver. Os invejosos ganharam. Tomaram de assalto as redes. Insignificantes, se agigantam desafiando ídolos, odiando ícones da cultura, das artes, dos esportes e de todas as áreas públicas. Odeiam, caluniam, mentem, quando estão escondidos em falsos perfis, nomes e blogs. Eles são chamados de “haters”, “ciberterroristas”, “vaiadores de intimidades alheias”, “hackers”, e por aí vai…
Inveja é paralisante, viciante e delirante. O invejoso não vive a própria vida. Ele vigia a do outro. Deseja muito o insucesso de quem no fundo admira, embora odeie e jamais admita isso.
Incapaz de conquistar, o invejoso torce, vibra com o fracasso do seu alvo. Ele saliva com a possibilidade da derrocada de quem está acima na pirâmide social.
COMO CARPIDEIRA – Sádico, quer ver ao vivo a tragédia, a morte e a falência do “amigo”, do irmão, do colega de trabalho. É como uma carpideira, aquela que mais chora as lágrimas de crocodilo no velório, enquanto, na esquina próxima, solta uma piada imprópria ou uma fofoca do defunto ainda fresco.
A inveja impede a paz de espírito, a valorização de si mesmo, o usufruto das próprias vitórias. De tanto ter o outro como parâmetro, o invejoso deixa ou esquece de construir os próprios sonhos. Deixa de curtir o mundo que está a seu lado, de escrever sua própria história. Ele quer ser o ator na ribalta, mas paga um ingresso caro pelo prazer de vaiar.
É triste saber que herdamos esse traço. A inveja é tão antiga quanto humana e, se investigarmos comportamentos animais, lá estará essa característica. Talvez negar a inveja seja uma armadilha que nos condenará a um confronto com nosso orgulho, com nossa vaidade, com nossa arrogância e com nossa falsa humildade.
DIAGNÓSTICO – O que proponho é que possamos nos diagnosticar quando estamos sendo infectados pela inveja em cada ação ou local que frequentamos. Olhe a seu redor, em seu ambiente de trabalho. Abra o seu coração. E aí, sente inveja? Aproveite um encontro familiar, o Natal, o Réveillon… quem sabe? Sente uma ponta da inveja do primo, do tio, do irmão, da cunhada? E na praia? Na piscina? No Facebook, no Instagram. Sei lá…
Quanta gente existe mais jovem, mais rica, mais inteligente e mais poderosa que você, não é?! E quantos mais feios, mais ferrados, mais acabados, mais infelizes… Concorda?
Somos únicos, incomparáveis, escrevendo nossa própria história. E dela cuido eu da primeira à última linha. É meu dever e arbítrio. Um dia, se me tornar maduro e sábio, quem sabe transmutando inveja em admiração, não poderá você, amigo e leitor, sentir a alegria que o vencedor sente? Saborear o sucesso dos bem-sucedidos. É indescritível o prazer de compartilhar a energia positiva dos que constroem. Assim como é doentio o sadismo de reagir destruindo o altruísmo, o humanismo e a fraternidade.

27 de novembro de 2016
Eduardo Aquino
O Tempo

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