quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

MILHÕES DE OFICIAIS DE D.SEBASTIÃO


Quando criança na aula de História só se falava na Batalha de Alcácer-Quibir, que se feriu em 4 de agosto de 1578. O combate se deu nas proximidades de uma cidade com esse nome. Eu não entendia absolutamente nada do que a professora dizia, culpa minha certamente, mas sabia que era um acontecimento muito importante, pelo que tratava de decorar nomes e datas. Na prova vinham perguntinhas tipo: Como era o nome do Rei de Portugal na batalha de Alcácer-Quibir? Qual a data em que ocorreu a batalha de Alcácer-Quibir? Na época as questões não eram ainda as chamadas objetivas, de marcar com um “x” a alternativa correta, tinha que escrever. Abaixo ia os garranchinhos em resposta.

Só muitos anos depois fui saber um pouco mais sobre o célebre evento, a começar pelo que levou o nobre D. Sebastião I, filho do Príncipe João Manoel e da arquiduquesa Joana de Áustria, Rei de Portugal e Algarves, ao Marrocos guerrear com os caras. Certo que é pertinho, o Estreito de Gibraltar dá para atravessar a nado, para quem veio ao Brasil um nada, mas só uma boa razão para movimentar um grande exército, 17.000 homens, nestes 5.000 mercenários. Alguns falam em fervor religioso, o que pode ter sido o pretexto e, bom, vamos ao que interessa.

O exército português afastou-se da costa e da proteção dos canhões dos seus navios por teimosia do Rei, contra a vontade dos seus oficiais - alguns queriam prender o rei - penetrando nos domínios muçulmanos, até que no 4 de agosto viu-se diante de 80.000 mouros numa zona quente e quase deserta onde o inimigo conhecia o terreno. Foi esmagado pelas tropas marroquinas sob o comando do sultão Abu Marwan Abd al-Malik, fragorosa derrota, metade do efetivo português morreu e a outra metade foi feita prisioneira. 


D. Sebastião, então com 24 anos, teria morrido, como os demais nobres portugueses que o acompanhavam, aliás, a nata da nobreza pereceu. Não foi um confronto isolado entre muitos de uma demorada guerra: foi a grande batalha inicial e final, decisiva, a guerra acabou ali, uma tragédia que traria severas conseqüências para os nossos colonizadores.

O detalhe é que o corpo de D. Sebastião jamais foi encontrado, nunca se soube se por algum milagre sobreviveu incógnito ou se al-Malik guardou o cadáver como troféu, e o imaginário popular começou a funcionar, acreditava-se que o rei voltaria para salvar o Reino de Portugal de todos os problemas desencadeados após o seu desaparecimento. Surgia o sebastianismo.

O sebastianismo chegou ao Brasil. Antônio Conselheiro, furioso com a elite republicana recém instalada, na Bahia propagava a volta do Rei. Também em Pernambuco esteve presente, citações na Tragédia do Rodeador e na Tragédia de Pedra Bonita, esta última inspirou José Lins do Rego em seu romance Pedra Bonita. Estes os fatos marcantes, mas o sebastianismo esteve presente em todo o Brasil de uma ou outra forma.

A julgar pela entrega das riquezas nacionais acredito que estamos entrando no que virá a ser o mais amargo momento da História do Brasil república. Talvez um curto momento quando visto pelos brasileiros de daqui a 440 anos, mas que será de décadas de sofrimento. Eu não quero um rei de volta, nenhum tolo se passando por salvador da pátria, até porque a colônia sofreu o ônus da aventura, para não falar que um descendente da Coroa outro dia considerava a hipótese de ser vice de um ignorante servil a interesses externos.

Eu clamo por homens que pensem no Brasil, no povo brasileiro, para nas eleições botar a correr os vendilhões que tomaram o poder rasgando a Carta Magna, e que querem levar o país à desgraça ainda maior.

20 de fevereiro de 2019
ainda espantado

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