segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

RUSSOS FOGEM DA VACINA SPUTNIK V



Cientísta do Centro Nikolai Gamaleya procura vacina contra o Covid em Moscou


No Policlínico nº 5 de Moscou os funcionários médicos aguardavam com as seringas prontas, testemunhou “La Nación”.

Aguardavam a enxurrada de pessoas que viria se vacinar contra o coronavírus na primeira fase de aplicação em massa.

E continuaram aguardando...

Aguardaram ainda mais e as fileiras de assentos da sala de espera continuavam desesperadoramente vazias.

Na falta do que fazer, os membros da equipe médica começaram a discutir onde colocariam um vasinho com rosas secas.

As autoridades russas davam por descontado que abrindo a vacinação com a Sputnik V o público concorreria em massa, mesmo quando nem a fase de testes III está concluída.

No primeiro momento seriam vacinados os profissionais da saúde e o pessoal que a diversos títulos está engajado no tratamento da pandemia.

Mas até entre eles havia mais céticos em relação à Sputnik V do que pessoas dispostas a tomar. A Rússia é o quarto país mais afetado do mundo: mais de 2,5 milhões de casos positivos.




Dúvidas e costumes soviéticos
espantam aos russos, inclusive médicos


As razões são até compreensíveis: os russos conservam gravado no subconsciente as lembranças dos horrores da medicina estatal soviética e desconfiam de tudo o que vem do governo.

Mas também, a máquina de guerra da informação de Putin se encarregou de espalhar pela internet toda espécie de fake news com teorias conspiratórias.

Essas visavam desacreditar as instituições de saúde ocidentais para debilitar a estabilidade dos governos.

Histórias assustadoras emanavam de São Petersburgo das próprias centrais de notícias falsas e especialmente concebidas para pegar nas redes sociais.

Os ‘trolls’ espalharam que o Covid, como muitas outras doenças, não existia: eram invenções de um misterioso complô de um não menos misterioso Governo Mundial montado por riquíssimos capitalistas para escravizar os homens com a cumplicidade dos governos dos EUA, da Alemanha, da monarquia inglesa, bancos, etc. etc.

Na hora de serem vacinados os homens enganados receberiam um microchip ou algo do estilo que os tornaria escravos do tal Governo Mundial.

Brochuras antivacinação circulam em Moscou chamado a Sputnik V de “renascimento do fascismo” e sugerem que seria uma arma de destruição de massa.

Mas a própria máquina de guerra da informação putinista se está encarregando de espalhar que a Rússia não corre risco de ser escravizada pelo Governo Mundial, porque Vladimir Putin está ali a postos em feroz luta para impedir que os russos sejam tiranizados.

É claro que os boatos conspiratórios que circularam no Ocidente reverteram na própria Rússia. Com a diferencia que os russos sabem o que é um governo despótico do qual se pode esperar as piores coisas.



Putin diz que vacinou a filha mas ele nem para teste


Complicou o caso que as autoridades russas informaram de que os vacinados não poderiam beber vodca por semanas.

Nada de mais razoável se os médicos dizem isso, sobretudo com vacinas do tipo antibiótico.

Mas, após séculos de vício, o conselho não podia ser pior recebido.

“Não confio nisso, porque eles sempre mentem. Se o governo diz para você fazer algo, você deve fazer o oposto”, dizia Lia Shulman, estudante de engenharia mecânica de 21 anos.
Acresce que a vacina russa está sendo aplicada sem testes prudentes que são de praxe, generalizando maiores temores populares.

O ceticismo profundo remonta aos tempos soviéticos que Putin não fez nada para apagar.

“Não quero ser vacinado ou que meus pais o façam. A maioria dos meus amigos pensa o mesmo”, acrescentou Lia. No Policlínico nº 3 de Moscou, os sofás para 20 pessoas da sala de espera continuavam exasperantemente vazios um dia de semana, contou “La Nación”.

O ministro da Defesa, Sergei Shoigu, o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, e membros do Conselho de Segurança da Rússia anunciaram que a receberam. Mas ninguém acredita no que eles dizem.

Segundo o porta-voz Dimitri Peskov, o presidente Putin não poderia recebe-la nem como voluntário de teste, piorando as desconfianças. Posteriormente, o governo informou que não foi vacinado porque a Sputnik V não é recomendada para maiores de 60 anos. Deus acuda!

Os líderes do Kremlin querem que a vacina Sputnik V seja um triunfo do poder científico russo sobre as vacinas dos EUA e da China, e empilha ditos e fatos triunfais sem confirmação.




O sistema de saúde russo é lastimável e não pode ser visto por estrangeiros, sobretudo nos setores para o Covid

O Fundo Russo de Investimento Direto diz que mais de 40 países demonstraram interesse e que recebeu pedidos globais de 1,2 bilhão de doses.

O primeiro-ministro Mikhail Mishustin previu um processo “explosivo” global da Sputnik V.

A mídia estatal russa lançou uma ofensiva de propaganda pela vacina, mas os russos ainda não se convenceram.

Oficiais russos garantem que a eficácia da Sputnik V excede 95%, mas, como podem saber se não completaram os testes?

O procedimento dos gigantes farmacêuticos ocidentais é muito mais prudente.

Em 4 de dezembro, a vice-prefeita de Moscou, Anastasia Rakova, trombeteou que 20.000 pessoas haviam recebido as duas doses da Sputnik V mas logo depois 272 dessas contraíram o vírus.

Uma pesquisa de outubro do instituto independente Levada Center descobriu que 59 por cento dos russos não estavam dispostos a ser vacinados.




Maduro garante que seu filho, já envolvido com drogas, se oferecerá para teste

Também uma pesquisa de outubro encomendada pelo partido de Putin, Rússia Unida, descobriu que 73% das pessoas não planejavam se vacinar e 11% não acreditavam na existência do coronavírus, informou a agência de notícias estatal russa RIA Novosti.

Com o baixo comparecimento, as clínicas estão vacinando a quem apareça.

O físico Sergei Dolya, 47, se cadastrou num local oficial de vacinação, achando que seria convocado para ir em alguns meses. A enfermeira foi logo o preparando sem se interessar se estava na categoria autorizada.

O único problema era que a vacina devia ser descongelada. E vinha em grupos de cinco. Faltavam mais quatro querendo se vacinar e esses não apareciam.

Afinal apareceram e Sergei foi vacinado. Na longa espera, a enfermeira pediu que por favor convocassem os amigos de qualquer condição para vacinar a alguém.

O caso da abstinência de álcool é sério. Alexander Gintsburg, diretor do centro de pesquisas do estado de Gamaleya que desenvolveu o Sputnik V, acabou relativizando a interdição para atrair gente e saiu a público dizendo que “uma única taça de champanhe nunca faz mal a ninguém”.




O presidente argentino prometeu que se faria vacinar o primeiro
com a Sputnik V, mas até agora não fez nada disso.


Na Policlínica nº 5, o pessoal de segurança tentou impedir que jornalistas do The Washington Post visitassem a seção de vacinação. “Não os deixe entrar!” urrava um oficial de segurança temendo que descobrissem a verdade.

Na Argentina, o governo de esquerda de Alberto Fernández engoliu as mentiras russas, não por ignorância ou incapacidade, mas por ideologia.

Voltou a mandar uma delegação oficial para avaliar de novo a Sputnik V e se exibiu dizendo que ele seria o primeiro a ser vacinado com ela, informou “Clarín”.

Mais. Prometeu a vacinação popular com dezenas de milhões de doses que viriam da Rússia e que começaria em dezembro.

Soou a bravata, nem ele foi vacinado, nem a vacina chegou, nem a vacina foi aprovada, nem se sabe se a Rússia poderá fabricar quantidades milionárias para consumo interno, menos ainda para exportar.

O ex-Ministro da Saúde Adolfo Rubinstein declarou a vacinação ser improvável, com a Sputnik V perigosamente não testada, e que só há incerteza por carência de documentação científica.




As informações científicas sobre a Sputnik V
são insuficientes e preocupantes


Para a deputada Graciela Ocaña, também ex Ministra de Saúde a fala combinada da Rússia e do presidente populista é “impossível” de se efetivar.

O organismo argentino encarregado de aprova-la, o Anmat, não vai autoriza-la e se permitir será em regime de “emergência por pandemia”, com riscos de efeitos adversos sérios e não previstos diz o infectologo Eduardo López, assessor do governo contra o coronavírus.

A Anmat aprova novos medicamentos após o pronunciamento dos entes reguladores dos EUA (FDA) e da Comunidade Europeia (EMA), mas isso não existe.

A Argentina se joga num abismo desconhecido aplicando uma vacina na qual nem os russos confiam. Vacina essa que nem apareceu no país platino.

Mas faz isso só por adesão ideológica à estratégia de predomínio mundial visada pelo Kremlin.

18 de janeiro de 2021
Luis Dufaur, escritor, jornalista, conferencista de política internacional


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