terça-feira, 27 de setembro de 2011

A GRIPE SUÍNA, O PÂNICO E O TERROR COMO INSTRUMENTOS DE CRESCIMENTO DE UM NOVO LEVIATÃ DA SAÚDE

Por que eu não escrevo sobre a gripe suína:

Muita gente (a classe médica em especial) fica falando por ai que a internet não é fonte confiável, e que os pacientes não tem o nível necessário para separar o joio do trigo. Sugiro a leitura desta página em que a classe médica dá asas ao seu imenso preconceito contra pacientes que tentam ser mais informados do que eles e uma olhada neste texto para contrabalancear.

Puro preconceito e charlatanice:

1. quantas vezes você foi ao médico e ele puxou aquela tabelinha colorida (isso é fornecido pela indústria farmacêutica) pra te receitar algo?
Comigo foram muitas. Após não olharem o meu fichário onde eu trazia o histórico dos receituários de outros médicos todo organizado cronologicamente, não ouvirem o que eu dizia, receitavam aquilo mesmo que não tinha funcionado, por que a única coisa que esses, com o perdão da palavra, filhos-da-puta levam em consideração é que O PACIENTE está mentindo (ou seja, que ele não usou o medicamento).

Com base nessa única hipótese (muito científica, não? até Francis Bacon dizia que não se pode resolver um problema com uma única hipótese, o que diria Popper disso…) e a tabelinha eles me mandavam passar o medicamento que eu dizia que não ia mais passar, pois sabia que o uso prolongado iria me causar glaucoma (ah, sim, isso estava na BULA do medicamento, não era preciso ir à internet para ter acesso à essa informação, e com base num risco registrado, medido, e calculado de que o uso prolongado do medicamento traria e o desconhecimento evidente do mal verdadeiro por conta do médico, eu preferia, muito defensavelmente, o risco calculado).

O que eu quero dizer com isso? Que o médico médio que te atende é sim um Zé Mané, um Bronco (há, sim, excessões honrosas), que não entende de porra nenhuma e baseia seu diagnostico em uma tabelinha cuja intenção nunca foi sarar doenças (a tabelinha visa vender medicamentos e transforma o médico mané no seu vendedor). O medico médio não passa de um vendedor, com diploma, tanto de medicamentos, quanto de seguros médicos – mais sobre isto a seguir.

Portanto, eu retorno à questão: o problema é o paciente que tenta se informar, ou o médico que é mané, e cuja autoridade está baseada num diploma que ele pendura na parede, e ele acha que isso basta, tanto que usa a tabelinha na maior? (na verdade ele, se fosse cientista ao invés de vendedor, deveria usar de métodos de investigação – mais sobre este fenômeno aqui).
Por isso que as pessoas tentam se informar como podem – pois sentem exatamente isso na sua relação com o medico médio: que não estão sendo tratados por alguém que leva o seu problema a sério, e têm toda a razão em achar isso.

2. Então vamos ao problema das fontes: onde conseguimos nossa informação. Existe, de modo geral, umas quatro fontes “primarias” para o cidadão em geral:
1. a publicação cientifica,
2. a Wikipédia,
3. a bula,
4. o jornal.
Vamos examinar isto mais de perto.

A publicação cientifica normalmente vem de pesquisas que receberam um monte de dinheiro público, mas seus resultados não são acessíveis, a não ser que você pague em dólar, com seu cartão de credito internacional. Está começando a achar que há um grande absurdo na coisa? Então se segure, pois maiores absurdos ainda estão por vir.

As mesmas questões que podem ser levantadas na questão do diploma para jornalista se encontram aqui. Obviamente que para medicar é necessário uma formação especializada, mas a insistência da classe médica em tratar todo e qualquer paciente como um BURRO tem antes razões de corporativismo que razões de capacidade de leitura. Em outras palavras, apenas os sacerdotes podem ler as escrituras sagradas, e isso a classe médica quer manter assim. O fato de que as fontes mais apropriadas de leitura não sejam lidas pelo publico em geral nada tem a ver com a capacidade que esse público tenha de lê-las, mas com uma reserva de mercado profissional e com restrições a esta leitura (pois estes documentos se encontram fechados, inacessíveis ao publico).

Além disso, o fato (ou a tendência) de que os médicos sejam o único público autorizado a ler estas escrituras sagradas não garante (pesquisa citada acima) que eles as leiam. Como eu disse, o médico médio é (mil desculpas pela linguagem chula) um Zé Mané, um pobre coitado comparável ao professor primário que está no sistema de escolas públicas e não tem melhor formação por que não tem nem tempo nem dinheiro e nem uma melhor formação revertera em melhores salários.

A partir da década de 80, a entrada das companhias de seguro no ramo médico no Brasil (as assistências médicas privadas) realizou o seguinte: primeiramente, o pagamento dos seguros-saúde (Golden Cross, Blue Life, etc) era tão melhor que o pagamento particular e do governo (que já estava sob um processo de sucateamento muito mais antigo) que todos os médicos (e também os pacientes) correram para fazer parte das carteiras (de investimento) dessas empresas.

Quando, por volta do fim dos anos 80, início dos 90, não havia mais médico nem paciente fora das assistências particulares, essas empresas tiveram na mão tanto o oligopólio (o grupo de empresas era o único vendedor do serviço médico para o público de pacientes) quanto o oligopsônio dos serviços de saúde (as mesmas empresas eram os únicos compradores do serviço dos médicos). Quando isso ocorreu, essas empresas puderam fazer o que empresas nesta condições fazem: super-explorar as duas pontas – médicos e pacientes.

Para os médicos de hoje, isso significa trabalhar sem parar, correndo da clínica para o hospital e cronometrando seu tempo de consulta (isso te lembra professor de rede pública?). Esses pobres coitados nem lêem a bibliografia especializada, nem realizam bem seu trabalho cronometrado, e são esses Zé Manés, coitados, que são entrevistados pela segunda fonte de informação disponível ao público em geral: os jornais.

Fica claro que a questão da proteção destes profissionais tem a ver com as condições necessárias para a boa realização de suas tarefas mais do que com a proteção de diplomas (o mesmo vale para o jornalismo, como bem sabemos).

Estes médicos, jogados nessa condição, neste contexto, são sim, uns pobres coitados que dependem das tabelinhas fornecidas pela indústria farmacêuticas e não tem a mínima autoridade em assuntos de saúde pública e pandemias como é o caso da gripe suína. São eles (suspeito) os entrevistados pelos jornalistas, que recortam suas falas de uma maneira que tem a ver mais com o jornal como mercadoria que com o interesse publico.

Então entramos no problema dos jornais. Não é preciso muito para explicar que eles entrevistam o medico médio (este ser humilhado pelas grandes empresas que age para com o conjunto de pacientes como a Alemanha humilhada após a primeira guerra agiu para com o grupo de cidadãos em seu território identificado-os como um outro indesejado – judeus, negros, deficientes, homossexuais, comunistas, idosos, and the like – neste caso identificando o paciente que tenta se informar como uma ameaça ao seu pouco tempo, como um ignorante imbecil que não usa os medicamentos que ele receita e como algo que deveria ser desinfectado do sistema, pois ele lhe toma muito do seu tempo cronometrado).

Então vejamos um pouco do que um site especializado em disponibilizar informações de graça para profissionais das áreas médicas tem a dizer sobre a gripe suína.

•Grupos de risco: crianças, mulheres grávidas e amamentando, idosos e adolescentes.

•A gripe comum mata 92 crianças por ano nos EU.

•Crianças: este é o grupo de risco mais afetado

tudo isso aqui (você vai precisar se inscrever no site para ter acesso, que é gratuito)

Comentário: A gripe suína parece ter uma taxa de mortalidade muito menor que a gripe comum, analisando-se a faixa infantil, que é a mais afetada pelas gripes em geral.

Antes de continuar, eu gostaria primeiramente de esclarecer o significado do palavrão “pandemia”, que vem gerando todo tipo de pânico, através do sensacionalismo midiático.

Pandemia

Chama-se pandemia um fenômeno que contenha estas 3 características juntas: 1. uma doença que ataca seres humanos e 2. nova e 3. que se espalha com facilidade e se mantém sustentável (o que quer dizer que ela não some sozinha).

Vamos analisar estes parâmetros: pandemia não quer dizer que um monstro, sinal do apocalipse, chegou para exterminar a raça humana da face da terra em mais ou menos dois minutos contando de agora.

É uma doença que se espalha rapidamente. Isso quer dizer que se uma criança morreu de complicações com gripe suína, esse vírus está espalhada por uma população (para ser classificado como pandemia tem que ser uma doença que se espalha facilmente, digo doença e não vírus, pois a obesidade pode caber em pandemia e se espalha de forma diversa, não por contaminação, como os vírus).

Como poucos casos (em termos populacionais), tanto aqui, como no México, nos EU, no Canadá, etc, foram diagnosticados, podemos entender que uma pequena minoria daqueles que se contaminam com o vírus realmente desenvolve sintomas fortes o bastante para procurarem os médicos que registram estes dados junto aos órgãos de saúde mundialmente interconectados (que é a forma como são gerados os dados das organizações mundiais).

As complicações em geral vêm de um sistema imunológico que não está no seu grau ótimo – decorrente de idade, nutrição, etc – e, em geral, do desenvolvimento de bactérias oportunistas – bactérias presentes em todos os lugares e que normalmente não levam à morte. Assim como o HIV não leva sozinho à morte, o H1N1 tão pouco.

Para concluir, inventemos o vírus-qualquer-hipotético, que tem o efeito de fazer com que as pessoas sorriam mais, e digamos que ele se espalha facilmente. Se ele se espalhar pela população humana mundial ele pode ser classificado como pandemia. O que é muito diferente de dizer que o vírus tem virulência alta.

Virulência

Diz-se que um patógeno (causador de doença) é virulento, pelo grau de facilidade com que o patogeno causa doença (sintomas ruins no seu corpo). Segundo o grau de severidade destes sintomas – podendo, ou não, levar à morte – tem-se o grau de virulência do patógeno. Ou seja, você pode ser infectado por um patógeno (seja ele vírus, bactéria, príon – como a vaca-louca – um fungo ou mesmo um organismo multicelular como a solitária caberia na definição) e jamais ter sintomas (febre, dores, irritações, etc, e morte em decorrência disto).

Então o problema não é somente se o H1N1 (gripe suína) é pandêmico, mas se é pandêmico e de alto grau de virulência. (ao contrário, uma doença pode ter um alto grau de virulência e não se espalhar pela população, constituindo, assim, um problema médico, mas não um problema de saúde pública).

Concluindo esta primeira parte: a palavra pandemia precisaria vir acompanhada de alta virulência para justificar qualquer pânico. E creio que as pessoas estão confundindo estas duas coisas, e os jornais não ajudam, os médicos e também os pesquisadores tão pouco. Mais sobre isto a seguir.

Desde que este mundo existe, as grandes organizações se tornam grandes sob um pretexto de utilidade falacioso (não digo falso, apenas falacioso). Qual seja: O pretexto do terror. Um exemplo: Que a corrida espacial é útil para o conhecimento em geral e para o desenvolvimento de tecnologias em específico nunca foi um argumento falso. Que se adicione a isso o argumento do terror – a saber, que os vermelhos vão chegar lá antes e que isto constitui uma ameaça à segurança pública é não só o tipo de argumento que realmente angaria recursos para que a NASA cresça, mas também parcialmente verdadeiro, parcialmente falso, portanto, falacioso.

Os sistemas interligados de saúde mundial que se desenvolveram a partir do argumento de que as pandemias tem que ser diagnosticadas contém esta perversão. Que as pandemias tem que ser conhecidas é argumento razoável do ponto de vista do conhecimento das doenças e de como elas se desenvolvem no tempo na população. Para isso é necessário que se desenvolva um sistema mundial interligado que seja capaz de receber dados do médico médio (como sintomas de gripe um pouco diferentes, fora do período – season – normal da gripe comum, por exemplo, que poderiam apontar para uma nova mutação do vírus comum e ajudar nas pesquisas sobre como a mutação do vírus ocorre – o que ainda é desconhecido. A este conhecimento só é possível se chegar com dados massivos na população e no tempo, que apontem para as causas reais das mutações).

Mas não é este o tipo de argumento que angaria recursos (os recursos massivos necessários para que se estabeleça uma vigilância tolerância-zero em toda a população mundial, interligando cada profissionaleco de cada rincão do planeta ao sistema integrado, capaz de, assim, gerar os dados necessários para se conhecer sobre mutações e porque e como elas ocorrem e dar o prêmio nóbel a algum gênio de plantão). Então, o argumento que se segue é que apesar do vírus ser de baixa virulência ele poderia mutar, gerando um problema sério de saúde pública, que tem que ser prevenido, se não o apocalipse estará no horizonte.

Agora, voltemos ao problema dos jornais e como eles usam o terror que é ferramenta (para angariar recursos mundiais) desta área medico-científica de ponta de forma a angariar recursos (vender jornais) amplificando as partes mais aterrorizantes do terror. Os jornais usam o instrumento de terror científico em proveito próprio e, ao mesmo tempo, são um instrumento usado pela área de ponta científica para amplificar a grita da ameaça de que se eles não recebem recursos, o apocalipse está por vir. Não acredito que se aplique bem aqui o dito popular que ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão. Eles são mais uma máfia ou um tipo de matilha.

Quando o sensacionalismo jornalístico começou – sobre a gripe suína, especificamente, pois vimos isso antes com o ebola, a vaca-louca, o antrax (que piada) e gripe aviária, para lembrar alguns casos de sucesso de vendas de jornais e revistas – em que pé estava o sistema integrado de pesquisas de pandemia? Foi por volta de março deste ano.


“A multidisciplinary expert panel on the Human Swine Flu (H1N1) and Novel Influenza Pandemics — held at the New York Academy of Sciences, New York, NY, on May 28, 2009 — drew attention to worldwide, national, and local surveillance and preparedness efforts under way for a possible pandemic.” ver inteiro aqui

Ou seja, o pretendente-a-novo-leviatã-científico (o sistema integrado de controle de pandemias que pretende angariar recursos para crescer mundialmente) estava no seguinte pé: ameaçando nossa insanidade com a ficção-científica de que o novo vírus que pelo que eu sei (por outras leituras) nem havia sido identificado com toda a certeza como um novo vírus (naquela época ainda precisava muita coisa para que se certificasse que se tratava de vírus diferente de uma mutação da gripe comum e diferente da gripe aviária e diferente da pneumonia), pudesse estar nos ameaçando com a possibilidade aventada de que ele pudesse se tornar pandêmico. Ou seja, nem o vírus era fato, nem muito menos a pandemia, e muito menos a mutação apenas ficcional (não que seja cientificamente inválida em termos de hipótese), mas meramente ficcional de que este suposto vírus poderia não só se tornar pandêmico como também ter uma mutação e se tornar altamente virulento!

Veja bem, não estou dizendo que nada disso possa acontecer: pode acontecer, assim como pode-se inventar o teletransporte em alguns anos – e parcialmente ciência e muita especulação, que pode ou não se tornar fato, mas que tem baixa probabilidade de se tornar fato, pelo menos por enquanto. Só isso. Note-se o uso, no artigo, das palavras possible e could.

E porque eu acho tudo isto muito grave? O que eu acho realmente grave não é o fenômeno biológico, mas o fenômeno social. Fora o pânico causado na população (não vou nem citar fontes, uma pesquisa na internet revela o número de blogs que demandam que o presidente feche os aeroportos para nos proteger do apocalipse), mas fora isso, há a questão de que o terror determine para onde vão os recursos públicos da área de saúde e pesquisa e de forma irracional.

Quando as mega-agências de pesquisa se baseiam no terror para demandar recursos públicos, elas conseguem dar a volta por cima de toda uma metodologia (que, aliás, nunca foi empregada na saúde pública de forma honesta) que fosse capaz de evidenciar quais as formas de aplicação de dinheiro público trariam um bem maior para a população, ou, dito de outra forma, em que ações o dinheiro pode ser aplicado para gerar saúde mais eficientemente na população. É possível que, se tal estudo fosse feito, ficaria evidente que – hipoteticamente falando – a aplicação dos recursos mais concentrada em saúde básica e alimentação fossem capazes de evitar tanto os casos letais de gripe comum, quanto da gripe suína, além de sanar muitas outras doenças, mesmo sem a destruição do vírus (aliás, a destruição de um vírus em escala mundial é uma impossibilidade ecológica por definição).

O terror determina para onde vão os recursos no centro do sistema científico e a periferia (nóis) só seguimos a onda, devido aos parâmetros FAPESP e de outros órgãos reguladores que determinam por meio da publicação em revistas internacionais o que é ciência (e portanto, o que deve receber recursos) e o que não é, ou é improdutivo (posto que não publica nas publicações internacionais de ponta que não estão interessadas em doenças terceiro-mundistas).

Postado por Flávia

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