Cervantes diz que o provérbio é uma frase curta baseada em longa experiência. Ele é como os pais e professores que dão conselhos. Dita regras de comportamento e transmite observações sobre pessoas ou a natureza com grande capacidade de concisão e a fina essência da filosofia. No livro Sabedoria Condensada dos Provérbios, de Nelson Carlos Teixeira, encontramos a inspiração acima. Para Leo Rosten, em seu Dicionário de Citações Judaicas, o adágio ou máxima é a sabedoria condensada que dá cor e vida à fala do homem comum. Por sua origem popular, o provérbio é o saber das ruas e pela sua concisão o bom senso concentrado. A boa e velha filosofia de almanaque voltou para ficar.
Os provérbios populares foram recolhidos pelos pesquisadores de folkcomunicação na tradição oral, placas de botequins, para-choques de caminhão, nas portas de banheiros públicos e, agora, resgatados pelos usuários das redes sociais como Facebook, Orkut, Twitter e em outras paixonites eletrônicas que se renovam a cada segundo. É a volta do passado presente no imaginário do povo que, no caráter anárquico e confessional das redes sociais, trazem citações que estavam em desuso e criam uma miscelânea de novos textos confessionais inspirados na insônia sem Rivotril, no caso de amor vivido, na noite “bem” dormida, ao fritar ovos na cozinha, na balada do final de semana ou no protesto contra os poderosos.
Curiosamente, transmitem mensagens sobre a realidade, as contradições da vida com as dores de amores citadas que promovem um sem número de cliques no botão “Curtir”, do Facebook, e desabafos em comentários que lembram o velho confessionário da Igreja Católica. Usuários brigam pelo botão “Não Curtir” em protesto contra amenidades sem sentido aceitas pelas páginas do Facebook. O mea culpa tem eco na universalidade das mesmas mensagens em vários idiomas que transmitem conteúdos idênticos.
Um consolo para cada história
O mundo de contradições e subjetividades afina a sensibilidade de jovens e mais vividos na troca de experiências nas mídias sociais, na velocidade com que as coisas da internet se apresentam para nós, onde “evento vira vento”. A renovação por segundo exige falas com velocidade, objetividade, praticidade, rapidez e devaneio. As mulheres participam em quantidade e qualidade, como se os provérbios no ciberespaço resgatassem a sensibilidade feminina, o dizer da matriarca abafado pelo autoritarismo patriarcal de anos passados.
Assim, a excessiva valorização do provérbio na webé como um passeio no tempo, a complacência literária popular que permite aos leitores expor aos milhares de amigos formas de suspiro, riso, choro, celebrações, ataques pessoais, dor, solidões expostas, alívio, amores desfeitos, sangramentos da alma e à espreita de um consolo para cada história, exorcizar demônios e celebrar que A voz do povo é a voz de Deus.
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19/09/2011
[Robson Terra é mestre em Comunicação e Tecnologia e professor da Universidade Salgado de Oliveira, Juiz de Fora, MG]
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