quarta-feira, 5 de outubro de 2011

EVA BRAUN E HITLER - ATÉ QUE A MORTE OS UNA


Mundo - Este País, Alemanha

Este País, a Alemanha era a sua noiva, assim Hitler reforçava sua imagem de solteirão. Ele precisava ser “livre” para atrair as mulheres para si e para suas idéias e acreditava que a imagem de homem casado poderia prejudicá-lo e torná-lo vulnerável, como um simples mortal. Mas até ele, um ditador, tinha sua vida particular, muito particular.

Em inúmeras publicações sobre Hitler, Eva Braun aparecia como uma figura apagada, sem importância, mas na biografia escrita por Heike Görtemaker a autora tenta contar a história de outra forma.

Os fatos já são bem conhecidos, Eva Brown nascida em 1912, filha de um professor, levava uma vida normal morando com a família em Munique. Depois de terminados os estudos ela foi aprender fotografia na firma de Hoffman e lá conheceu, em seus verdes e áureos, 17 anos, o “Führer”que estava com 40 anos de idade, 23 anos mais velho que ela, que na época ainda ocupava uma insignificante posição no Partido Nazista, o NSDAP.

A paquera é igual em todo lugar no mundo. Convites para ir a restaurantes e cinema, à ópera, estas foram as primeiras tentativas do Führer em conquistar o coração Fraulein Braun, loira, ariana e de corpo bem formado. Passaram-se os anos e o relacionamento se intensificou, até que em 1936, Eva Braun foi morar numa casa comprada por Hitler, em Munique, e ao mesmo tempo trabalhava como “governanta” para o ditador, em sua residência de verao, em Berghof, situada nos Alpes da Bavária, na cidade de Obersalzberg. Lá Hitler passava semanas, às vezes meses. Sua residencia em Berghof funcionava como um segundo centro de poder, depois de Berlim.

Formalmente Eva Braun tinha “status” de secretária particular e fotógrafa oficial do “Führer” e gozava de privilégios materiais, recebia presentes como viagens, jóias, roupas caras e champanhe.

O livro

O livro, Eva Braun, Leben mit Hitler”, Eva Braum: vida com Hitler, ainda sem tradução no Brasil, que chegou às bancas, aqui na Alemanha, teve boa aceitação da crítica e está sendo considerado “a mais séria biografia sobre Eva Brawn”. A autora e historiadora, Heike Görtemaker, conseguiu retratar Eva Braun como sendo o contrário do “modelo de mulher” do Nacional Socialismo, isto é, uma mulher casadoira e dedicada à família.

No livro a autora não se limitou somente às fontes literárias do pós guerra. Nos detalhes biográficos a historiadora tenta fazer uma avaliação dos grupos de pessoas que conviveram com Hitler, como seus empregados próximos os representantes de Estado, dos partidos e dos militares, enfim, de todo o círculo social que cercava Eva Braun e Hitler.

Sobre o relacionamento afetivo entre Eva Braun e Adolf Hitler, após seis décadas, há ainda muita especulação. Foram no mínimo 10 biografias publicadas até hoje e inúmeras citações em outras tantas publicações, mas todos os autores, até agora, tiveram os mesmos problemas: a falta de informações confiáveis que pudessem elucidar a vida conjunta deste estranho casal.

Se o relacionamento entre Hitler e Eva Braun teve dimensões sexuais, não foi o foco de sua pesquisa, até porque “provas” concretas não foram reveladas. O livro trata do significado da figura feminina Eva Braun na vida do ditador. Para quem gosta de história é uma interessante leitura. Acostumamos ler os fatos históricos meio que “secos”, o livro “Eva Braun, Leben mit Hitler”, Eva Braun, Vida com Hitler conta a história para entender a história.

A autora não pesquisou em nenhuma nova fonte documental. O que ela se propôs a fazer foi debulhar os achados em inúmeras fontes e livros escritos e traçar um perfil da mulher ao lado de Hitler: Eva Braun

Essa mulher não era “despolitizada” e sim uma fiel seguidora do “Führer”. Ela fazia parte da máquina de propaganda do Regime Nazista; ela fotografava e filmava o que acontecia à volta e vendia o material iconográfico a Heirich Hoffmann, fotógrafo pessoal de Hitler, em cuja loja, Eva e Hitler se conheceram. Eva Brown retratava o “Führer” que o povo queria ver ao fotografá-lo ao lado de crianças e animais como um “ser humano” e “zeloso pai de família”.

Na verdade o homem Hitler era outro. Ele vivia cercado por um grupo de pessoas de sua mais alta confiança que esbanjavam dinheiro e passavam o tempo se divertindo. Pertencente a este círculo estava o seu fotógrafo, Hoffman, os médicos que o atendiam, Theodor Morell e Karl Brandt, o arquiteto Speer, o seu secretário Martin Bornann, e a irmã de Eva Braun, Margarete, que também ajudava a administrar a residência de verão do ditador.

Nos arquivos de Hoffman foram encontradas entre 300.000 a 400.000 fotografias de autoria de Eva Braun. Sua presença, mesmo à sombra do ditador, e por isso, construiu um mundo à parte, uma atmosfera em que Hitler vivia e respirava, quando não estava conspirando contra o mundo. Mas esta dama tinha que ficar invisível para o mundo: toda fotografia da vida privada de Hitler em que Eva Braun aparecia era censurada, ela era literalmente cortada com a tesoura das fotos. Ela tinha que ser invisível, assim como os óculos que Hitler usava, como sua extrema mania por limpeza, seu cardápio vegetariano, tudo, tudo que o delatasse como um simples mortal.

Goebbels, chefe de propaganda nazista, retratava o ditador como um mito solitário, uma pessoa intocável que estaria acima de tudo. Uma mulher ao seu lado significaria fazê-lo a voltar a ser um simples mortal, e porque não ser influenciado por uma mulher. E isto era o que eles não queriam.

A noiva

A Alemanha era sua noiva, afirmava Hitler, e repetia num discurso feito para elite da "Nationalsozialistiche Frauenschaft", União Nacionalista de mulheres. Com esse argumento ele indicava que Eva Braun poderia ser um fator de perturbação em sua vida e tinha que ficar fora da biografia do ditador. Para os freqüentadores de sua residência em Berghof, Eva Braun era vista como “governanta” e como fotógrafa oficial do “Führer”. Todos sabiam que a relação entre eles era mais do que isto, mas reinava o silêncio absoluto sobre o tema.

O senso comum das pesquisas até agora realizadas mostra Eva Braun como uma figura irrelevante na vida de Hitler, mas Heike Görtemaker tenta comprovar o contrário. Isto não foi tarefa fácil.

Aquí por exemplo, na sinopse do livro de outra autora Angela Lambert, editado pela Globo: “A história perdida de Eva Braun” ela escreve. “O livro não pretende reescrever a histórira, demonstrando que a amante e esposa de última hora tenha tido qualquer papel ativo nos eventos terríveis de que foi testemunha (aliás desinteressada): o caos polítilico da República de Weimer, a ascensão do nazismo...”

Ela não era somente uma mulher ao lado do Führer. Não, ela não era uma mulher “despolitizada”, ou “aliás desinteressada” dos acontecimentos políticos como escreve Angela Lambert, acima ou como outros historiadores da época a descreviam, mas sim uma mulher que seguia fielmente o ditador, mesmo não sendo filiada ao partido nazista.

Com a queima de arquivos e documentos todas as provas diretas e indiretas foram para sempre apagadas, restando quase nenhuma fonte original de dados.

O detalhado relato do cotidiano da vida de Eva Braun, nos seus 14 anos de convívio com Hitler, não deixa dúvidas de que ela compartilhava com ele as idéias fanáticas de autodestruição.

Lacunas

O que não se sabe, aqui não se escreve. Algumas lacunas, porém, ficaram para ser preenchidas, como por exemplo, qual era mesmo o papel de Eva Braun como “governanta” na casa do Führer ? A autora tenta desconstruir a imagem de uma Eva Braun como mera peça de “decoração” na vida de Hitler, mostrando que ela tinha pensamento próprio, mas faltam-lhe argumentos. Achar que Eva Braun ao interromper o ditador numa enfadonha conversa, tentando encerrar a discussão e avisando que “já era tarde” é considerar este fato pontual como forma de demonstrar sua “influência sobre o ditador” é pouco.

Precisaríamos de mais dados para a comprovação de tal “poder” exercido por Eva Braun sobre Hitler. Era sabido que nos jantares onde importantes figuras estariam presentes, Eva não era convidada. Assim como as mulheres dos oficiais se retiravam quando havia importantes reuniões, Eva Braun fazia o mesmo. Em outras vezes Heike Görtemaker, a autora, do livro, me causou irritação escrevendo: “es ist bis heute ungewiß” ou “até hoje não é conhecido”, repetido de inúmeras formas ao longo do livro.

Um mito?

Muitos dos depoimentos colhidos para os livros, que serviram de base para a para a biografia de Eva Braun, principalmente das pessoas que viveram próximo ao ditador, podem não corresponder exatamente à verdade. Claro que aqueles personagens que viveram a história tão próxima a Hitler, contaram a “sua” versão, minimizando a gravidade dos fatos. Além de que no círculo de oficiais de Hitler eles tentaram livrar suas esposas de serem também consideradas “culpadas” dos crimes de guerra, no processo de “desnazificação”, relatando que nas reuniões privadas com Hitler “não era discutido política e que nem nunca haviam mencionado o massacre aos judeus”. Então muitas lacunas desta história nunca poderão ser preenchidas.

Aqui se entendendo o que se chamou “Entnazifierung”, isto é, “desnazificação”. A desnazificação foi uma iniciativa dos aliados de “limpar” a Áustria e Alemanha de pessoas comprometidas com o regime Nazista nas áreas da cultura, imprensa, economia, jurídica e política. Assim todas as pessoas que tiveram algum comprometimento com o regime foram enquadradas em 5 categorias: criminoso de guerra, menos incriminado, adeptos, inocentes.

A correspondência entre Eva Braun e Hitler foi queimada, seu fragmentado diário não pode ser fonte confiável de informação. Outros tantos papéis, que poderiam ser fonte de confirmação dos fatos, não foram achados. Os elementos que faltam deixam lacunas e abrem espaço para especulações e assim surgem na história os mitos. E nós leitores queremos saber tudo!

Azar na guerra, sorte no amor?

Quanto mais Hitler era infeliz com os acontecimentos da guerra, mais Eva Braun se tornava importante para ele. Ele teria dito depois da derrocada em Stalingrado em 1942 que tinha somente dois amigos: Eva Braun e seu cão pastor, Blondi.

Penúltimo ato

Nos últimos dias de vida o casal foi morar no bunker do “Führer” em Berlim. Fechados em pequeno espaço passavam seu tempo fazendo exercícios de tiro com pistola. Lá eles se casaram pouco antes da meia noite do dia 28/29 de abril. Foi atestado pelo secretário responsável pela Administração Escolar e Coleta de Lixo, Walter Bunker, que Eva Braun “era procedente da raça ariana pura” e não... “possuía doenças genéticas”. As testemunhas, Goebbels e Martins Bormann, assinaram o protocolo.

Último ato

No bunker, depois que todos o deixaram, Eva Braun podia, então, estar bem perto dele. Ela já tinha demonstrado a sua fidelidade ao tentar por duas vêzes tomar sua própria vida para atrair sua atenção. Em 30 de abril de 1945, após 48 horas de casados cometeram conjuntamente suicídio.

Este foi o último ato no teatro de horrores, que o mundo tomou conhecimento, praticado por tais protagonistas, Ela engoliu uma cápsula de cianureto, e Hitler a seguiu. Ele ainda conseguiu dar um tiro na própria cabeça, antes de morrer envenenado. Até o cão pastor “Blondi” foi para o inferno juntamente com seus donos; provavelmente foi o primeiro obrigado a morder uma cápsula de cianureto.

Os historiadores unificam-se na posição que com o ato do casamento, Hitler quis premiar a lealdade de Eva Braun, fazendo com que ela entrasse ao lado dele para a história não como sua amante, mas sim como sua esposa.

Sobre os seus corpos foram despejados gasolina e ateado fogo, por seus ajudantes e guarda costas, e as cinzas posteriormente depositadas em uma caixa que desapareceu na ocupação de Berlim pelas tropas russas. No final da guerra fria foi noticiado que os restos mortais de Hitler e Eva Braun teriam sido enterrados numa caserna soviética em Magdeburg e posteriormente em 1970, sob ordens da KGB, a polícia secreta da ex-União Soviética, queimou a caixa e espalhou as cinzas restantes em um rio. Até hoje os fatos não foram esclarecidos e faltam provas. A história ainda pode nos revelar muitas surpresas.

Na eternidade

Em Berghof, residência de verão de Hitler, empregados procuraram entre as roupas de cama os vestígios dos acontecimentos da “ultima noite”. Em vão, eles agora estão unidos na eternidade.

Uma leitura para o OPS: "Eva Braun, Leben mit Hitler", Eva Braun: vida com Hitler

De Heikle Görtemaker: (1964) estudou História e Economia e Germanística em Berlim e Bloomington (USA)

Para aqueles que se interessarem, uma entrevista com Heike Görtemaker. As imagens imperdíveis falam por si. Agüentem firmes, mesmo nao falando a língua da filisofia, o alemao.

Solange Ayres

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