quarta-feira, 28 de outubro de 2015

MANIFESTO DOS PAIS FRUSTRADOS NOS DIAS DE HOJE


Não nos queixemos se nos trocarem por smartphones, ou se não responderem às nossas poucas perguntas, nem se deixarem pilhas de copos e pratos sujos na pia, nem se o quarto parecer antesala de cracolândia. Colhemos o que plantamos.
E vivemos uma entressafra em que o respeito secou, a moral sumiu e não soubemos semear o amor. Olhamos para o alto como se Deus pudesse aliviar nossas preocupações e frustrações nesses tempos de terras arrasadas. Tempos de carência afetiva, de fome de carinho, de sobras de sentimentos garimpados aqui e ali. Antes de mais nada, merecemos. Por omissão ou inação.
Não sei qual a espécie de pai ou de mãe em que você se classifica. Sei que são muitas, incluindo as subespécies, as exceções e as anomalias. Mas os frutos são, inevitavelmente, os filhos. Ora frutos de sonhos, ou de acidentes mal calculados de irresponsáveis aventuras, ou de paixões passageiras. Não importa. Nascem e não dependem do enredo anterior, sendo frutos de ninhos amorosos ou conflituosos. Quem sabe até de agressões indizíveis, mas sem dúvida, habitarão as páginas de nossas vidas. Farão parte do nosso filme existencial, como estrelas de sucesso ou coadjuvantes a sugar a energia de genitores constrangidos. Quem sabe serão abandonados pelos pais.
DESMORONAMENTO
Inconsequentes ou envergonhados por fracassos existenciais, ou ainda substituídos por padrastos poderosos e magnânimos. Vítimas de maus tratos, de abandonos, de lares despedaçados, de famílias cada vez mais desunidas e separadas, seja pelas telas ou desunião civil, afinal é nítido que o alicerce familiar desmorona tal qual um terremoto de 9,5 na escala Richter.
Mas hoje abro espaço para uma legião de mortos-vivos que só faz crescer: os pais que, tal qual zumbis, andam silentes, desanimados, deixados de lado, entregues à indiferença e ao egoísmo de seus filhos. Fomos trocados por games, redes sociais, selfies, baladas, embriaguez, quartos trancados, mau humor. Mendigando algumas palavras, tentando, quase envergonhados, participar do mínimo da intimidade de nossos pré-adolescentes, ou adolescentes e adultos jovens.
É O FIM DO MUNDO
Torcemos para que não cresçam tão rápido, inutilmente. Pagadores de contas de compulsivos consumistas, ouvimos gritos, palavrões e desacatos, algo inimaginável pouco tempo atrás, que se tornou regra, e não exceção. Humilhados, dividimos com outros pais, que nos consolam dizendo que “é isso mesmo, o fim do mundo…”, ou morremos de inveja da minoria que revela filhos adoráveis!
Aonde erramos? Em tudo e em nada. Afinal, fomos tragados por um tsunami de tecnologia que nos engoliu, e, enquanto lutávamos para respirar, desajeitados nos PCs da Microsoft, nossos filhos e netos surfavam no universo da internet, das redes sociais, dos algoritmos, falando palavras alienígenas, tecnológicas, enquanto pedíamos um carinho, um abraço, que nos respeitassem e prestassem atenção no quadro negro, quietinhos nas carteiras dos anos 70.
HERANÇA DE SABEDORIA
Hoje temos uma herança de sabedoria e afeto que eles não querem ou não precisam. Por enquanto! E eles têm uma facilidade tecnológica que não tem significado na vida real, na capacidade de sobrevivência.
Dependem de seus pais e avós ridículos, moram nas casas deles, são preguiçosos, pretensiosos, e, até aqui, passados 30 anos, não contribuíram com muita coisa virtual. Comemos o que plantamos no mundo real, vivemos em casas que nossos antepassados construíram, os grandes inventores e cientistas (Einsten, Newton, Bohr, Thomas Edison, Ford, Santos Dumont) não tinham computador e, sim um cérebro.
As grandes maravilhas do mundo não foram construídas por engenheiros, grandes anatomistas não eram médicos. Um viva a nós, os que lutam, os que infelizmente dão aos filhos instrumentos eletrônicos, como equivalente ao amor, pois um dia eles precisarão de colo e carinho e estaremos lá, bobões e emocionados, cuidando dos netos deles, recebendo tardiamente o que nunca esperávamos: o amor incondicional!

28 de outubro de 2015
Eduardo Aquino
O Tempo

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