segunda-feira, 24 de julho de 2017

UMA MÃE MOLDANDO UM DESEMBESTADO

Uma briga entre duas mulheres por causa de um boneco causou muita repercussão durante a semana, com opiniões favoráveis e contrárias, o que nos leva a uma reflexão sobre o caso.

Uma estudante universitária, morando na casa da tia, tem em seu quarto uma coleção de bonecos da Marvel, todos protegidos por uma redoma de vidro ou plástico. Ao ver um dos bonecos, um menino pede para brincar com ele, mas a moça explica que a peça é de coleção e não para brincadeira.

Ao chegar em casa, a criança conta para a mãe que pediu para brincar com um boneco e a dona não deixou. Indignada, a mãe envia mensagem para a moça tomando satisfações. A mãe, na mensagem, advertiu a universitária para a possibilidade de seu filho ficar com seqüelas psicológicas por ter recebido um “não”.

Na sequência, a mãe provocou a moça dizendo que iria até a casa da tia dela e faria o menino brincar com os bonecos, no que recebeu a resposta de que, se isso ocorresse, mãe e filho voariam pela janela.

A minha opinião é que ninguém é obrigado a dar suas coisas para outro brincar, especialmente porque se tratava de uma coleção. Houve exagero, porém, na ameaça de jogar mãe e filho pela janela.

A mãe, na onda da indústria das indenizações importada dos Estados Unidos, já começou a falar em danos psicológicos à criança por causa de um simples não.

Coitadas das crianças que nunca ouvem não, porquanto candidatas a serem homens mimados e tiranos, despreparados para a convivência em sociedade e para as batalhas da vida. Crescem sem aceitar frustrações, sem respeitar autoridade e se transformam em pessoas sem limites, a quem chamo de desembestados.


24 de julho de 2017
Miguel Lucena é delegado da Polícia Civil do DF e jornalista.

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