Quem não se emociona ao ouvir a história de Manuel Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que teria vivido entre 1730 e 1814, em Minas Gerais, e que, já deformado pela lepra, esculpia suas obras com o martelo e a talhadeira amarrados ao toco dos braços.
Pois é, mas tem um enorme buraco nessa biografia e o gênio do barroco mineiro pode sequer ter existido.
Em primeiro lugar, a história de Aleijadinho só veio a tona 44 anos depois de sua morte com a publicação de uma biografia que, suspeitam os historiadores, não passa dum livro de ficção.
Segundo, o tal escultor, mesmo se desconsiderando suas limitações físicas para jornadas longas em cima de andaimes, simplesmente teria de ter vivido umas dez vidas para esculpir todas as obras que lhe são atribuídas.
Já em 1996, falando à Folha de São Paulo pesquisador paulista Dalton Sala afirmou que Aleijadinho foi uma invenção do governo Getúlio Vargas. Para ele o mestre é um mito criado para a construção da identidade nacional, um protótipo do brasileiro típico: "mestiço, torturado, doente, angustiado, capaz de superar as deficiências por meio da criatividade".
E disse também que nunca ficou provado textualmente que uma pessoa chamada Antônio Francisco Lisboa, conhecida como Aleijadinho, tivesse feito todas as obras que lhe foram atribuídas. Sala atribui a construção do mito Aleijadinho a uma necessidade política e ideológica da ditadura Vargas.
Guiomar Grammont, autora do livro O Aleijadinho e o Aeroplano, vai no mesmo caminho.
Afirma a hitoriadora que o artífice pode ter sido um mito inventado pela astúcia do Império, instrumentalizado pela ditadura do Estado Novo e saudado pelos primeiros modernistas, sobretudo por Mário de Andrade, que o descreveu como um herói miscigenado, gênio da raça, mulato genial que desafiou os padrões europeus e transgrediu as normas para criar uma arte autenticamente brasileira.
Eis aquí um abacaxi e tanto pros mineiros descascarem. Como continuar cultuando um herói das artes plásticas se Alejadinho tem tudo pra nunca ter existido.
Parece que temos aqui um Roque Santeiro das Gerais, o personagem de Dias Gomes que foi mesmo sem nunca ter sido.
11 de abril de 2018
in blog do laque
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