quarta-feira, 7 de abril de 2010

CONVERSA INÚTIL

Outro dia eu proseava com os meus amigos Macarrão e Bochecha (que chegou ao desplante de querer que sua alcunha fosse escrita com X. Dava mais importância, status). Como já tínhamos rido de quase todo mundo, sobrava apenas a situação política do Brasil, nesse momento lulítico, raquítico e asmático.
Vai daí, que esse negócio de política é um verdadeiro estropício, rende que não acaba mais, e porque não se pode falar nada de bom desse momento em que estamos atolados nessa lama, que só caranguejo se dá bem, tentei deixar claro aos meus amigos que o 'assunto' me era penoso por demais, e que já me afastara dele fazia muito tempo.
Macarrão argumentou que a política tem dois lados: o lado sujo, da corrupção, da traição, da falta de ética no exercício da 'res publica' - onde estão aqueles que estão no Poder, e o nosso lado, que não somos o poder, simplesmente porque estamos destituídos dele, e que por isso mesmo, representamos o lado ético, responsável, incorruptível.
Antes que vocês se ofendam, vou explicar para que não haja um linchamento intelectual do Macarrão.
Macarrão é um cínico, no sentido etimológico e filosófico da palavra, isto é: 'kinismós', doutrina e modo de vida dos cínicos, partidários do filósofo Antístenes de Atenas (444-365 a.C.), e de Diógenes de Sinope (413-323 a.C.), fundadores da Escola Cínica que se caracteriza, principalmente, pela oposição radical e ativa aos valores culturais vigentes; oposição nascida do discernimento de que é impossível conciliar as Leis e convenções morais e culturais com as exigências de uma vida segundo a natureza. Macarrão considera uma certeza o ponto de vista de J. J. Rousseau, de que o homem nasce puro e a sociedade o corrompe. Vai daí não ter certeza do que o poder poderia fazer com ele, mas garante que seria quase certo deixar o segundo lado, passando rapidamente para o primeiro.
Expliquei ao Macarrão que, quando era jovem, universitário, acreditava com uma ferocidade invejável que era possível mudar o mundo, ou pelo menos o Brasil. Era um engajado, um leitor obsessivo de jornais políticos, de revistas, de livros. Quando cheguei, em números mais ou menos exatos, aos meus 45 anos, descobri que tudo continuava 'como dantes no quartel de abrantes'. Foi uma tijolada. Sabe aquele 'insight' que derruba fé de beata? Pois foi... uma cacetada tamanha, que nunca mais eu me recuperei. Vez que outra ensaio uma invasão no território dos homens. O pior não é ler o que acontece, ou ouvir o que eles dizem. O problema maior é o cheiro. Não há pituitária que agüente! É um sufoco!
É por isso que não costumo passar perto de aterro sanitário. Pesado demais. Me dá um comichão, uma urticária que é o cão! Agora, depois que eu comi uma feijoada no Boteco do Libório, parece que a digestão retirou muito sangue do cérebro pra metabolizar caroços e toicinhos e rabo e joelho e..., e de lá pra cá, dei para sondar, primeiro as lixeiras menores, coisas municipais, estaduais, lixo menor: latinha de cerveja, garrafa plástica, pvc, lixo químico, hospitalar, sacola de plástico adoidado... Mas sinto que já estou chegando nas federais.
A essa altura, Bochecha meio que dormitava. Com Bochecha é assim, se não for futebol, mulher e a arte de ganhar dinheiro fácil, não necessáriamente nessa ordem, seu interesse cai e uma névoa tolda a sua cara e ele meio que desencarna. Lógico, depois de descer alguns lúpulos e diversas pingas.
Macarrão aproveitou minha confissão e partiu pra cima.
Mas então o momento é esse, homem, conte as novidades! Mas não quero saber de coisas de municípios... quero coisa grande! Mas antes me diga uma coisa: que tal essa tal de Democracia?
"Muito bem, Macarrão. Vou mandar a última. Mas aproveita, porque não é sempre que adentro por essas bandas podres."
E mandei.
Vou parodiar o velho e sempre atual Bernard Shaw que, quando perguntado "o que achava da civilização americana", ele respondeu: "Seria interessante." É mais ou menos isso, Macarrão: O que acho da Democracia? Sabe que seria interessante? Olha só o que li outro dia:
"Quase metade das eleições é roubada." E isso é um estudo sério, pois analisa cerca de 786 pleitos em 155 países, nos últimos trinta anos. Vamos aos números: 41% das eleições, em média, apresentam algum tipo de fraude ou irregularidade. Quando há possibilidade de reeleição, as fraudes sobem para 45%. Agora veja esses outros números, indicativos da bandalheira democrática:
América do Norte: 0,004% ( e ainda dá aquela gritaria toda!)
Amperica Latina: 36% (Ave Maria!!! Meu Jesus Cristinho!!!)
Rússia: 11%
Índia e vizinhos: 46,8%
Norte da África: 60,4%
Sul da África: 69,6
Centro-sul da África: 80,3%
No caso da Índia e da África, fico me perguntando: pra que eleição?
E ainda podemos acrescentar, segundo a pesquisa: políticos honestos ficam em média 6,4 anos no poder. Os desonestos, em média 15,8 anos.
Macarrão limpava as unhas com um 'trim'. Olhou nos meus olhos e disse, enfático: você é um caso perdido!

M. AMERICO

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