quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A GRAMA DO VIZINHO

– olha lá, é daquilo ali que eu estou falando…

– daquilo, o que?

– aquele casal de pé, perto da entrada do restaurante…

– que que tem?

– como o que que tem? Dá pra sentir no ar que eles se amam de verdade, que têm respeito um pelo outro, cumplicidade. Repara no jeito carinhoso com que ele olha pra ela. Devem ser muito felizes…

– tipo, o contrário da gente, né?

– é você que tá dizendo…

– olha como você é engraçada: me trata com indiferença por dias, ríspida, agressiva, dando patada o tempo todo, agora vem se queixar de falta de romance?

– se você está se referindo ao que aconteceu esta semana, saiba que tive meus motivos pra ficar com raiva de você, ok?

– mas o que foi que eu fiz?!

– você sabe o que você fez…

– não sei não. Diz então: o que foi que eu fiz pra você ficar 2 dias sem falar direito comigo?

– você quer mesmo que eu diga?

– quero! Não é uma pergunta retórica, responde aí, vai…

– bom, no momento, assim, não me lembro, mas aposto que foi algo que me tirou do sério. Uma daquelas coisas absurdamente sem noção que você faz de vez em quando, só pra me irritar…

– tá vendo, você nem sabe por que a gente brigou… isso é o cúmulo!

– cúmulo é o jeito com que você me trata. Parece que gosta mais do seu instrutor de pilates ou, sei lá, do seu Ipad, do que de mim, que sou sua mulher.

– putz, que absurdo… frente a esse argumento eu tenho que me render! Não dá pra argumentar, porque, por mais que esteja errada, você nunca aceita ser contrariada.

– eu nunca aceito ser contrariada?! De onde você tirou isso?

– tá bom, chega! Vamos só terminar o jantar em silêncio, pode ser?

(…)

– pô, amor, não vamos ficar nesse clima horrível não… a gente tá brigando por cada besteira…

– pois é, estamos aqui nesse restaurante incrível, comendo esses prato delicioso, desperdiçando um momento que tinha tudo pra ser especial…

– exatamente… olha, vamos passar uma borracha nisso tudo, tá bom? Eu me sinto ruir por dentro quando penso que você não está feliz…

– ai, que coisa mais linda, amor.

– vem cá, me dá um beijo…

Enquanto o casal se beija, de uma mesa localizada a alguns metros de distância, um outro casal observa a cena:

– olha lá, é daquilo ali que eu estou falando…

Bruno Medina

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