A pele vai lentamente se descolando dos músculos como se divorciasse de sua elasticidade.
O sono piora e mais pareço um vaqueiro que às 4h já não cabe na cama.
E dia a dia, mês a mês, vou desenvolvendo a natureza, aquilo que não é meu: células, proteínas, carbonos, nitrogênios, enfim, a matéria!
Lenta e continuamente me despeço da juventude, do vigor, das ilusões e sonhos impossíveis. Não há mais lugar para arroubos, impulsividades, revoltas juvenis. Pouco a pouco sou dominado pela moderação, pela compreensão profunda do que vai na minha mente, coração e alma.
Observo o mundo que me cerca, munido de curiosidade, sabedoria. Pouca coisa me surpreende, quase nada me incomoda, uma serenidade me acalma mesmo diante dos absurdos que abalam o mundo.
PERMITIR O DESCANSO
Procuro entender a tecnologia como instrumento e facilitação do cotidiano, mas sem deslumbramento ou dependência. Continuo anotando em papéis e arquivando, algo que não pega “vírus” nem é alvo de “hackers”. Continuo sonhando, construindo sonhos e já consigo morar dentro de alguns deles. Ainda batalho, luto, mas me permito o descanso.
A energia da fé e a energia mental continuam firmemente aumentando, na mesma proporção que minha vitalidade e físico vão decrescendo em direção ao fim. Continuarei todos os dias buscando evoluir até o dia que deixar a vida: um acidente fatal, um infarto fulminante, um câncer devastador – nada me aterroriza. Espero a morte, assim como um passageiro aguarda um trem ou um avião. Um dia chegamos, num outro partimos. Morrer é tão natural quanto nascer…
“Nu viestes a esta vida, tão nu quanto viestes sairás dela, e pelo teu trabalho nada que fizestes louvarás em tuas mãos. Isto é vaidade e vento que sopra…”, como nos ensina Eclesiastes.
A vida é meramente um estágio onde, presos em quatro dimensões, a consciência mora num corpo material fadado a ser extinto, após inúteis vaidades, raivas, ódios, ciúmes, ressentimentos, invejas, apegos, medos, angústias e, em menor proporção, a alegria, o amor, o carinho, a fé, a confiança, a lealdade e a humildade.
SERENAMENTE…
Morrerei, espero, serenamente! Afinal, nada nem ninguém me prende à vida material.
Amo, sou amado, sei que poucos têm antipatia, raiva, ódios de mim, mas a recíproca não é verdadeira: o perdão mora em meu coração!
Peço perdão aos que possa ter ofendido. Não sou candidato a nada, nunca fui, nunca serei. Apenas busco com minhas palestras, livros, no exercício da medicina, ser um instrumento de inteligência divina e superiores. Busco crer e saber! Alio minha fé ao estudo científico.
Creio que há eternidade e reencontro de almas (ou “consciências não materiais”, se quiserem) daqueles que se amaram na vida terrena. E sei que há “inferno” para os que se viciaram, corromperam, traficaram, assassinaram, se apegaram a uma ilusão absoluta que é a vida terrestre e material.
No mais, cada um busque um sentido de viver, envelhecer, morrer, ser eterno!!!
21 de junho de 2014
Eduardo Aquino
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