quarta-feira, 1 de julho de 2015

PELA BERMA DA TARDE...


Um homem quebra o espelho do medo.
Com a determinação do quartzo, ele move 
uma cadeira de rodas pelo pulso do futuro. 
Quebrado, mas não rendido, o seu corpo 
é um turbilhão sem centro nem periferia. 
Surdo á lava do ruído, cego ao mármore do olhar, 
o homem é um géiser imparável. 
Dentro de si vagas explodem contra o paredão do desamparo. 
Prende-o o cinto do pensamento, o movimento erecto e centrípeto da combustão. Plena. Pura. 
Terra, vísceras e fogo, tudo se interpenetra com
o gélido sangue da realidade.
Alheia aos estilhaços, uma mulher, mãos enlaçadas
com a tristeza do asfalto.
Pela berma da tarde, os dois, rostos fechados, são uma máquina ofegante devorando o declive do infortúnio.


01 de julho de 2015
Vitor Calé Solteiro

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