sexta-feira, 2 de setembro de 2011

MALKOVICH


Seria pretensão da minha parte dizer que não faço parte desta manada desenfreada e cheia de freios. O que me intriga é a cartilha, o script. Ora, quero acreditar que felicidade é seguir a boiada, sem muito pensar, sem contestar de onde ela veio ou pra onde vai.
A minha volta, mulheres teoricamente felizes, mães, esposas independentes, com seus cardápios da semana colados na geladeira, com os horários de todas as atividades das crianças em dia, com as viagens de férias planejadas, com suas babás de branco, muito bem teinadas, com os presentes do próximo amigo oculto devidamente comprados.
O jantarzinho de sexta-feira, com o marido, nos restaurantes da moda, os esmaltes e batons na gaveta, o closet cheio de sapatos e um frasquinho de rivotril, na mesinha de cabeceira.

Com presença confirmada em todas as festinhas de crianças, que nos últimos tempos, se transformaram em mega festas, a massa segue, como um rolo compressor, achatando (tornando chato) tudo aquilo que encontra pela frente.

Ora, eu empaco, feito mula ou cachorro quando trava os freios traseiros. Ora, eu sigo a boiada, mesmo que a contragosto, sem salto alto ou escova inteligente. Normalmente, na hora da conversa cortês e sem sentido dos encontros sociais é que eu me machuco. As conversas são sempre baseadas em alguma coisa que envolva dinheiro, como liquidez na compra de imóveis, por exemplo.

Liquidez é um conceito econômico que considera a facilidade com que um ativo pode ser convertido no meio de troca da economia, ou seja, é a facilidade com que ele pode ser convertido em dinheiro. Liquidez é um pé no saco.

Em seguida, os presentes conversam sobre seus pratos, seus filhos, se divertem com piadas sem graça, falam da sobremesa, do regime que vão começar na próxima segunda-feira, combinam cineminha e conversam sobre a próxima viagem pro estragneiro. Agenda encerrada. Em silêncio, penso: Estou matando tempo. O tempo está me matando.

Se tem uma coisa que não falta na cartilha da manada, é dinheiro e contradição. O que mais se encontra é gente com dinheiro colado pelo corpo. Eles acompanham esta moda. Colam marcas ao redor do corpo, da casa, do carro e das crianças. Dentro deles? Nada. Muito medo de perder o poder que nunca tiveram.

Quantas vezes já ouvi, que meu mundo seria melhor ou mais fácil se eu deixasse de ser tão contestadora. Se eu buscasse um caminho menos árduo, menos solitário e me entregasse ao Mickey Mouse e não ao Mickey Knox [personagem de natural born killers]. Acontece que pra mim, isso nunca foi simples. Desde a infância, meu príncipe encantado, escrachado e, de bolso furado, era de massinha e tomava milhares de formas. Já me casei com meu professor de natação, com o John Malkovich, com o Roger Federer e com a Mart´nália.

Eu não quero carros. Não quero o controle nem as marchas. Eu não quero festas nem música alta pra abafar os pensamentos. Não quero a sorte de um amor tranquilo. Amores inquietos são mais produtivos. Quero amar minhas culpas. Sem elas, eu jamais teria aprendido a nadar. Quero havaianas e bom sexo. No verão, ar condicionado. No inverno, churros na porta do cinema. Estive em escolas, onde acho que pouco aprendi. Não sei se fui bem ou mal educada pelos meus pais. Mas, estou aprendendo a descobrir.

silvia pilz

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