sexta-feira, 2 de setembro de 2011

MOSAICO EXISTENCIAL


memória da pele

sua caretice impagável, meus sonhos de menina. nossas bicicletas. sua engenharia naval e meu jornalismo barato. o dia em que senti o cheiro do seu peito, a certeza que me rebocou até sua cama. os elevadores do seu prédio, seus olhos inchadinhos ao acordar. seus sucos de melão e melancia, minhas 200 cocas com gelo e sem limão, a estrada cheia, o parque nacional do itatiaia, a síndica neurótica do seu prédio, o cinema do leblon, ainda de biquini e sunga, pagando pra ver benjamin button e saindo antes daquela
merda acabar. o frescobol menstruada, o ônibus, com uma orquídea numa mão e uma lasanha na outra. a estante do seu candido que pintamos juntos, o sucesso da cor dos meus olhos, os beijos de namorado no elevador do prédio dele. o chuveiro desligado na hora de se ensaboar, o prato de pedreiro no micro, as brigas na chapada dos veadeiros, a comida da zezé, a casa da sua mãe crescendo em teresópolis, os dias em que tomei cerveja, muita cerveja. os cigarros que você fumava pra não me deixar morrer sozinha (que desculpa chata), a pedra bonita sem asa delta, a joatinga no final da tarde, o bar lagoa, o cinema do ccbb, com adolescentes chatos e fanáticos por woody allen, os chuveiros de água doce na praia, a sua preocupação com a minha pele, a minha adoração pelo seu ombro, as brigas por causa dos filmes japoneses indicados pela sua mãe, o restaurante lamas, a avenida oswaldo cruz, os melhores metros quadrados da minha vida. a instalação do ar condicionado, a visita aos velhinhos do 812, você me ensinando a contar azulejos pra controlar minha ansiedade, o jogo do flamengo no maracanã (eu torcendo pro botafogo, muda), nossa patética aula de salsa na escola do jaime aroxa, as vezes que você demorou segundos intermináveis para abrir a porta, o cheiro de ovomaltine na sua boca. seus problemas imaginários, tipo não saber pronunciar o fonema F e nadar torto na piscina, o prazer de ver você dormindo, as louças que lavei compulsivamente, sua mão no meu ombro quando o sinal estava fechado para pedestres e ciclistas, sorvete brasil de tangerina e chocolate no bondinho do pão de açucar, nossos mergulhos no mar, seu medo de altura e minha vontade de voar. minhas lágrimas na sopa de abóbora do dia dos namorados, o bloco de rua no carnaval, a pílula do dia seguinte e um fim de tarde na praia vermelha. foi ali. logo aqui.

você me ensinando a persistir e eu morrendo de medo de você desistir.

Silvia Pilz

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