sexta-feira, 2 de setembro de 2011

SUTIÃ CAUSA CÂNCER

Esta seria a manchete dos meus sonhos. Eu sonho com manchetes quando sinto vontades ou a falta delas. Num dia de preguiça, por exemplo, sonho com manchetes do tipo “todas as pessoas que nasceram em 1971 estão proibidas de sair de casa hoje”.

Eu sempre detestei sutiã. Porém, não tenho a menor condição de dizer que ele não faz parte da minha vida. Fez e faz. A falta dele sempre foi um dilema, um obstáculo na hora de escolher roupas, motivo de brigas com namorados ciumentos.


Enfim, até no divã, os sutiãs que eu não tive já foram parar. Na adolescência, por razões quase óbvias. Depois que o infeliz do Washington Olivetto criou “o primeiro sutiã, a gente nunca esquece”, o produto da Valisère virou um sonho de consumo, uma obrigação entre as meninas que se deparavam com seus primeiros raios de mulher.

Coco Chanel já dizia que os espartilhos deixavam as mulheres menos inteligentes, por respirarem com dificuldade.
Mas, naquele tempo, eu não fazia idéia de quem era essa moça. E, quando recusava sutiãs, achava que este meu desconforto era herança indígena. Até minha sexualidade já foi questionada por causa da minha aversão ao sustentador de mamas.
Nas sessões de psicanálise, normalmente, o sutiã acaba indo parar no colo do meu pai, como quase tudo. Ele simplesmente nunca me obrigou a usar nada que me incomodasse, incluindo batons, laçarotes e salto alto.

Porém, até mesmo ele questionava a falta do sutiã quando fiquei mocinha. Achava que minha intenção era provocar. Toda mulher descobre no peito, uma arma. E, toda mulher acaba atirando, mesmo sem entender ao certo qual a razão deste fascínio dos homens pelos seios femininos.

Mal sabia eu que até mesmo a invenção desta algema peitoral – o sutiã – começou com um gesto de rebeldia. A história diz que a jovem nova-iorquina revoltou-se contra o espartilho que não só a apertava como sobrava no vestido de noite que acabara de comprar e fez uma espécie de porta-seios tendo como material dois lenços, uma fita cor-de-rosa e um cordão.

A invenção tinha o objetivo de acomodar o seio, possibilitando moldá-lo, diminui-lo, escondê-lo ou exibi-lo. Transformou a coadjuvante roupa de baixo em protagonista do figurino da mulher. Antes escondido, hoje é usado até como roupa de cima.

Independente da minha história com sutiãs, fica claro que carregar peitos sempre foi uma questão complicada. Parece que a mulher nunca soube exatamente o que fazer com aquele par de seios que, até hoje, mata a fome de bebês de todas as idades. Nada me impediu de evitar o uso do sutiã. Nem mesmo a possibilidade de encantar um príncipe exibindo meu parzinho de seios com rendinhas em volta me fazia crer que alguém pudesse achar um sutiã mais sensual que a ausência dele.

Ainda hoje, só dou o braço a torcer em casos extremos, como uma blusa social branca, por exemplo. Mesmo assim, livro-me do infeliz assim que saio de cena. Desenvolvi técnicas. Sei tirar um sutiã dirigindo, sem me despir e sem que quase ninguém perceba.

Referências revelam que em 2000 a.C., na Ilha de Creta, elas usavam tiras de pano para modelá-los. Mais tarde, as gregas passaram a enrolá-los para que não balançassem. Já as romanas adotaram uma faixa para diminuí-los. O espartilho surgiria na Renascença para encaixar a silhueta feminina no padrão estético imposto pela aristocracia. Por meio de cordões bem amarrados, ele apertava os seios a tal ponto que muitas desmaiavam.

O sutiã apareceu para libertar a mulher daquela ditadura. Mais tarde, ele foi queimado em praça pública por ter se tornado símbolo da opressão masculina.

Hoje, a comissão de frente pode ser chamada de carro-chefe. Como qualquer outra coisa, representa faturamento, faz parte de uma engrenagem que movimenta mais de 734 milhões de reais ao ano ( eu inventei estes números). O silicone, que mantém o peito duro , sempre, não fez nem cócegas no crescimento do mercado. Muito pelo contrário. A mulherada turbina para manter decorado, enfeitado e apertado.

Respirar não é preciso. Até pra não correr o risco de oxigenar o cérebro.

Silvia Pilz

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