terça-feira, 6 de setembro de 2011

QUAL A IMPORTÂNCIA DO ACASO EM NOSSAS VIDAS?

Já estávamos, eu, Macarrão e Bochecha na bodega do Libório, e lá pelas tantas, não me recordo bem qual foi o incidente que nos conduziu a discutir sobre o 'aleatório' em nossas vidas.

Ah! sim, eu havia narrado uma pequena historinha sobre um cidadão que ganhou um grande prêmio, numa dessas loterias da vida. Perguntado numa entrevista - sim! porque ganhar uma grana preta da noite pro dia, pode fazer e com certeza fará, que você seja uma celebridade! - se ele tinha algum método ou usado algum recurso matemático para ganhar a 'bolada'.
E ele respoondeu: "Ah! eu usei um método matemático, com certeza! Vejam vocês... Sonhei com o número 7 durante 7 noites seguidas. Aí eu pensei: bem... 7 vezes 7 é 48. Não tive dúvidas... Mandei ver no número 48!"

Realmente ele usou um método matemático... Se ele tivesse estudado um pouquinho mais, com certeza não se tornaria uma celebridade! Ele teria jogado no 49!
Isso é ou não é um fator absolutamnte aleatório? - perguntei pros meus amigos.
Concordamos. Pedimos outra gelada e continuamos nosso papo, garganta lubrificada e feliz.

A aleatoriedade marca a vida de uma maneira mais assustadora do que pode sonhar a nossa rica imaginação.

Leio em L.Mlodinow que o fato de lançarmos uma moeda diversas vezes para o alto e o resultado der cara seguidamente, não significa que a moeda tenha duas caras...

No ano de 1950 um certo livro foi rejeitado por vários editores, que o classificaram como maçante e desinteressante para o momento. A história da 2ªguerra já era passado... e o livro não teria a menor chance.
O livro era nada mais nada menos que "O diário de Anne Frank", que vendeu 30 milhões de cópias, uma das obras mais vendidas da história.

Estávamos os três convictos de que as nossas vidas são determinadas por fatores absolutamente estranhos a nossa vontade, por mais que julguemos que a decisão esteja em nossas mãos.

Macarrão ponderou: será que estamos condenados a um lance de moeda? Se der 'cara' ganhei... 'coroa' perdi?

Bochecha deu um gole e arremessou a moeda para o alto. Na palma da mão: Coroa! Perdemos...

Dizem que o aleatóro traz o cais e o caos. E mais,dizem que o que ele dá, nada tira.

Pondero:
Segundo a análise combinatória, se for uma moeda perfeitamente fabricada e os dois lados tiverem peso e tamanho iguais, cada qual tem uma porcentagem igual de chance de cair.

Então acho que a vida não é uma moeda com proporções perfeitas.
Cara ou Coroa?

Nem uma flor com pétalas contáveis, pra adivinhar o que dirá a ultima pétala a cair no chão.
Bem-me-quer? Mal-me-quer?

Talvez, eu só tenha bebido demais.
Acho que minhas palavras estão saindo gaguejadas e as que ouvi vão flutando surreais.

Lili, recém-chegada, entra no papo:
Esse negócio de acaso é um pouco doloroso. Sempre penso, e se naquele dia, em que eu estava no aeroporto, pronto para voltar para casa, tivesse acontecido um tufão, o espaço aéreo fechado, e eu não pudesse nunca mais voltar para cá?

... E se não estivesse naquela hora, naquele lugar, em que aconteceu aquela incidente que mudou totalmente a minha vida?

Ah, é muito assustador pensar nisso. E tem a inutilidade da coisa também, porque a gente não pode voltar e fazer diferente. Tem que conviver com a dor das escolhas, a dor do acaso. Talvez o antídoto seja mesmo a determinação:

Nada menos que cinco editoras recusaram os manuscritos do Harry Potter antes que fosse publicado; os Beatles foram recusados em várias gravadoras, e até mesmo Beethoven foi considerado um fracassado sem talento por algum tempo.

Bochecha pondera:

Esses não aceitaram a, digamos, inexorabilidade da coisa. Eu também não aceito.

Macarrão da um gole, olha à roda da mesa, e diz:
A infindável lista dos que foram vencidos, pelo aleatório.
John Kennedy Toole, perdeu a esperança de algum dia ter seu romance publicado e suicidou-se. Sua mãe perseverou. Onze anos depois, UMA CONFRARIA DE TOLOS foi publicado. Ganhou o Prêmio Pulitzer de ficção e vendeu dois milhões de cópias.

Um livro, uma pauta, um biscoito, um sanduíche, navegam no mar da aleatoriedade. O hamburguer do McDonalds vira franquia mundial: pão, carne moida... A coca-cola de xarope... bem você já sabe!

Olhei para o Macarrão, e alimentei suas palavras:

Quando entro num sebo, a procura de algum livro, já desaparecido das livrarias faz tempo, deparo-me com os 'fracassados'. Nomes absolutamente anônimos, que crítico algum, sequer ocupou uma linha no seu editorial para dizer: "o fulano publicou o livro tal... Interessante!" Nada, nem uma linha.
Entristece-me ver o fracasso, não por qualidade, mas por casualidade. Folheio vários, compro alguns... E os que nem o sebo alcançaram?

Dou um gole na cerva gelada. Alívio! Navegar no mar do aleatório, não se escapa do enjôo mareado...

Outro dia deu no jornal da TV: "menina na varanda, morre com bala 'perdida' na cabeça. No lugar errado, na hora errada... E PUFF! Uma vida na flor dos sonhos, desaparece... E ainda falam 'bala perdida'...

Macarrão tem os olhos espetados no espaço, no nada.

Aí, fica inevitável a gente pensar no aleatório que comanda a vida.
No entanto, continuamos a caminhada, porque a vida nos empurra para a frente. Não há como ficar parado... Lutamos muitas vezes por alguma coisa, e não a alcançamos. Lamentamos. Mas eu pergunto: e que certeza teríamos, de que a nossa vida poderia ter sido melhor? Decisão? Mas o que é a decisão? Um ato consciente? Mistérios... Como dizia o poeta inglês: "há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia."

Alimento os comentários:
Herman Hesse jamais acreditou no acaso, e Voltaire também não, e explica: "O acaso não existe; o que nós chamamos de acaso, é o efeito de uma causa que não conhecemos." O criador da doutrina espírita, Allan Kardec gostava de dizer que tudo que acontece faz parte de um grande plano espiritual, já programado.

Talvez seja confortador pensar assim, principalmente nos momentos em que nos acontecem coisas muito ruins. Ajuda a sobreviver. Acho.

Macarrão gira o copo de cerveja e profere solenemente:
Enfim, a vida é uma criança que é preciso embalar até que adormeça, e nada como a filosofia para isso.

Mas o acaso, disse o velho Machado de Assis, é um deus e um diabo ao mesmo tempo. . . Enfim, cousas!

Ao leitor, informo que conversa de boteco, enquanto houver cerveja na mesa diria que é quase infinita, não chegando a tanto porque a língua enrola e a mente se turva...
Palavra de homem...

M. AMERICO

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