No
varejo ou no atacado, quase todos nós já fomos ou continuamos corruptos.
Independentemente de gênero e de classe. Não carecemos nem citar aqui a
sociologia mais picareta ou os grandes cronistas de usos e costumes, como o
nosso venerado Padre Carapuceiro, para chegar a estas pobres conclusões. Quando
à mentira, que tem pernas curtas mas bem torneadas como as de Lurdinha, também
não há dúvidas: todos somos mentirosos.
A
diferença, porém, ai porém, é que as fêmeas não mentem simplesmente, elas têm o
dom de iludir, coisa mais sofisticada, como na canção. Os machos, coitados,
simplórios, abusam amadoristicamente deste recurso tão natural quanto a água e o
óleo de peroba.
É
isso mesmo, até os melhores exemplares da raça masculina cometem as suas
trapaças, dissimulações, subterfúgios, maquiagens na face da quase sempre
insuportável realidade. Do presidente da corte superior ao trombadinha. A
diferença é que uns ainda coram, enquanto outros nem se incomodam com as faces
infestadas por cupins.
Todo
esse nariz de cera, esse lero-lero da cumeeira dessa crônica, para dizer que
folheei dia desses, na espera do dentista, “101 mentiras que os homens contam _e
por que elas acreditam” (ed. Ediouro), da norte-americana Dory Hollander, um
clássico da psicologia barata. Aliás, nem no dentista foi, o fato deu-se no
consultório do homeopata, quer dizer, no analista...
Minto.
Comprei mesmo o livro no sebo, por dever de ofício, e o devorei, olhos de traça.
Que mentira que lorota boa, seu escriba de meia tigela, seu Zelig, que fica
inventando desculpas para as leituras mais vagabundas.
Dane-se,
comprei, li e gostei, pronto.
Melhor assim. E quer saber, é um clássico da
psicologia popular universal. Está para a fofoca de salão como “A Interpretação
dos Sonhos” [by Freud] está para a psicanálise. São frases que podem ser ditas
tanto em Manhattan como no sertão do Cariri. Dona Hollander fez uma pesquisa
séria, ouvindo muita gente, sobre nossas mentiras, nem sempre sinceras, e nossas
piores promessas.
Vai
de um inocente "estou cansado demais" a um irresponsável "eu te amo" _dito na
hora errada à mulher errada, no lugar errado”. Começo, meio e fim e a nossa cuca
ruim, como na canção do príncipe Ronnie Von.
Por
que elas acreditam, então? A psicóloga arrisca várias respostas. Uma delas: as
mulheres acham que ceticismo e romantismo não podem andar juntos, sob pena de
estragar as coisas.
Dona
Hollander nos separa em dois blocos: os perigosos e, digamos, aéticos, que
abusam da mentira, que enganam por "esporte e lucro", de forma inescrupulosa; os
mentirosos ocasionais, que se mostram dissimulados sob pressão e desviam a
realidade com pequenas lorotas, artifícios para se livrar da "fúria feminina".
Nessa
categoria estão também aqueles que poderíamos chamar de canalhas líricos,
inocentes galanteadores como o personagem Bertrand Morane, no filme "O homem que
amava as mulheres", do velho Truffaut, padrinho sentimental deste
cronista.
Dublês
de d. Juans, os Bertrands apenas enfeitam, douram a realidade nas suas
peregrinações em busca das mulheres.
Seja
qual for a sua classificação, a leitura do livro pode ser feita de forma séria e
compenetrada, na linha auto-análise, ou apenas como um delicioso chiclete para a
mente, ora.
À
guisa de tira-gosto, ficam ai algumas casquinhas e caldinhos de
fraseado:
"As
únicas fantasias sexuais que tenho são com você".
"Você
é maravilhosa, merece alguém melhor do que eu".
"Relaxe,
é apenas uma amiga".
"Vou
deixar minha mulher".
"O
que me atrai em você é a sua mente".
"Não,
não acho você gorda".
24 de novembro de 2012
xico sá
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