sábado, 17 de setembro de 2011

BABY DOC: O DITADOR QUE SE CONSIDERA DEMOCRATA


É comum acharmos que um ditador se reconhecerá como tal e vestirá alegremente as pesadas vestes que a palavra qualifica. E é comum nos horrorizarmos quando o ditador não se reconhece como tal ou, suprassumo da indecência, rejeita tal substantivo. Descartamos assim a certeza absoluta desenvolvida pelo ditador para acreditar que seus atos são necessários e justos. A rejeição de tal regime não será obra daquele que o criou e daqueles que o consideram melhor ou mais adequado àquilo que esperam de um poder centralizado e da submissão da sociedade a um tirano.

Não é surpresa, portanto, a declaração de Baby Doc, de que sente vontade de rir ao ser chamado de tirano porque ele próprio teria iniciado o processo democrático no Haiti. Não é preciso ser especialista em história política haitiana para considerá-lo não só um ditador, mas um homem que falta com a verdade. E não é preciso fazer esforço para acreditar que ele acredita realmente no que diz.

Agora entre comigo na máquina do tempo e retornemos três séculos. Imagine que você não faz ideia de quem foi Robespierre e lhe caísse às mãos os discursos daquele que homem que havia sido um advogado pacifista e defensor dos direitos humanos. Sua defesa da liberdade é tão sincera que emociona. Mas se você fosse mais a fundo na leitura logo descobriria o tipo de liberdade e quais métodos ele defendia para conquistá-la e preservá-la. Depois disso você entenderia em parte o terror jacobino e a loucura que o levou a autocoroar-se o Ser Supremo. Robespierre foi engolido pela revolução e teve o mesmo fim de tantos outros revolucionários, mas não lamentou seus atos e ideias nem mesmo diante da guilhotina. Morreu com a certeza de ter sido o grande libertador da França.

Baby Doc, assim como Robespierre, não tem dúvida sobre a legitimidade de suas ações.

Bruno Garschagen

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