sábado, 17 de setembro de 2011

ESTÍMULO INTELECTUAL PARA AS NOSSAS CRIANÇAS É A SOLUÇÃO

Salvem o nosso futuro através de boas escolhas, visando políticas de melhor educação e ambientes saudáveis – estudo encabeçado pela Universidade de Luxemburgo.

Caro leitor, usando-se do seu bom senso, quem você acha ter melhores chances de “sucesso na vida”, uma criança criada em um ambiente de baixo nível socioeconômico, ou uma criança amparada pelas regalias e estímulos de um ambiente de alto nível socioeconômico? Não precisa ter um doutorado em Oxford para emitir a opinião que parece ser tão óbvia quanto dois mais dois são quatro. É claro, no senso geral, que uma criança que se alimenta bem; que tem bons professores; que tem pais realizados, bem pagos, logo, mais preocupados e participativos; que tem acesso fácil à informação e tecnologia; e que principalmente vive em um ambiente que lhe estimula das mais diversas maneiras possíveis, tem muito maiores chances de desenvolver o seu cérebro, conseqüentemente a sua inteligência. Mas o fato é que essa constatação, aqui no Brasil, nunca passou de um sentimento geral, empírico, que nunca antes tinha recebido uma aproximação metodológica, científica, buscando encontrar reais evidências, provadas estatisticamente, de que a diferença de nível socioeconômico afeta sim, e muito, o desenvolvimento intelectual das crianças. Até então, conveniente para o nosso governo – sempre omisso –, que não tinha algo de concreto em mãos para provar o óbvio!


Entretanto, no ano de 2010, nasceu um projeto multinacional – envolvendo Brasil, Luxemburgo, Alemanha e Portugal - idealizado por uma cientista pós-doutorada em Oxford -, que atualmente lidera uma incansável busca de respostas científicas para o problema referido anteriormente. A obstinada pesquisadora da Universidade de Luxemburgo escolheu o Brasil como uma das sedes do projeto, pois se trata de um país monolíngüe e com aparentemente grandes diferenças sociais. Eu, também pesquisador associado da Universidade de Luxemburgo, pessoalmente tomei parte no projeto, visto que assumi setores da organização e dos testes propriamente ditos em grande parte das crianças de diferentes níveis socioeconômicos. Com a ajuda dos parceiros da USP, UFBA, e UNIFESP, testamos 400 crianças, 200 em Salvador e 200 em São Paulo. Acho que não terei dificuldade de convencê-los do atual resultado da nossa pioneira pesquisa científica.


Taxa de escolaridade superior para jovens de 20 a 24 anos - Países selecionados, 2007

Obviamente as crianças de menor nível socioeconômico – 100% delas matriculadas em escolas públicas – tiveram um desempenho muitíssimo pior do que as crianças de alto nível socioeconômico, com a sorte de terem pais capazes de assumir os também altos custos das escolas particulares de Salvador e São Paulo. E olhe que excluímos da nossa amostra as escolas particulares “top” das duas capitais, como a Pan-americana e o Arquidiocesano, respectivamente. Assim como, excluímos as escolas públicas localizadas em comunidades de extrema pobreza. Desse modo, fica evidente que a nossa intenção nunca foi tornar os dados tendenciosos. Reitero que esse estudo é absolutamente apartidário e de maneira alguma visa defender ou criticar qualquer grupo político vigente no Brasil. O interesse da pesquisa é terminantemente científico e visa única e exclusivamente tentar ajudar a humanidade através de novas descobertas e do avanço da ciência. No entanto, é fato que o estudo mostra de forma metodológica que há espaço para melhorias nas políticas publicas vigentes no Brasil. Além do mais, não precisa ser um Einstein para perceber isso. Basta andar pelas ruas do nosso país. O nosso estudo mostra que as crianças expostas a ambientes desfavoráveis e sem estimulação tiveram um desenvolvimento muito pior em testes neuropsicológicos renomados – minuciosamente adaptados para a realidade brasileira – de linguagem (vocabulário e compreensão) e memória operacional (simplificando, tipo de memória de curto prazo e funções cerebrais). Não preciso novamente alertar as conseqüências desse déficit no futuro dessas crianças. A grande descoberta do nosso estudo é que a pobreza além de criar todos os problemas sociais já conhecidos, também cria grandes obstáculos biológicos. Em outras palavras, o funcionamento do cérebro – o receptáculo da nossa alma - é significantemente afetado.
Portanto, podemos concluir que mais vale investir no desenvolvimento intelectual das nossas crianças o quanto antes, do que ter que remediar no futuro problemas tão comuns ao nosso país. Vale lembrar que nossas crianças têm potencial de aprender, mas o ambiente e a estimulação fazem grande diferença. Estimulando nossas crianças com escolas descentes, habitações dignas, ambientes familiares distantes da miséria que é comum às periferias do Brasil, sem dúvida o governo poupará esforços e divisas na contenção da criminalidade e na cura de problemas crônicos de saúde pública. Além disso, terá uma população mais educada, conseqüentemente mais competitiva em um mercado globalizado que não dá espaço para a incompetência.


Os paises desenvolvidos já perceberam isso há muito tempo, por isso, não relaxam em proporcionar uma boa educação para suas crianças e dignidade social para a sua população. Tais paises saíram na frente, pois arrumaram suas casas, propiciaram aos seus cidadãos ambientes organizados, livres de estresse, estimulantes, onde suas crianças se beneficiam de bons estímulos e aprimoram suas estruturas cerebrais. O resultado de tudo isso é claro, pois como se vivendo uma corrente do bem, os filhos dessas crianças – geração após geração – se beneficiarão cada vez mais dos novos estímulos gerados por ambientes cada vez melhores. Da barbárie esses paises conseguiram tornar-se grandes civilizações, com pesquisa, riqueza, conhecimento, ordem social, e principalmente com gente educada, preparada, e longe da miséria. O Brasil precisa ultrapassar essa barreira e entender que somente investindo no seu principal capital, o seu povo, se livrará do complexo de colônia, e desabrochará da barbárie para a civilização. Só assim seremos o tão sonhado “país do futuro”. Por isso, conclamo, invistam em nossas crianças!

PS: Gostaria de agradecer à Universidade de Luxemburgo, e às universidades parceiras no Brasil, pelo esforço comum necessário para realizar essa pesquisar. Não poderia deixar de também agradecer às escolas brasileiras e às famílias das crianças testadas. Além disso, reitero que, salvo as constatações cientificas encontradas, as opiniões emitidas nesse blog são única e exclusivamente de responsabilidade do autor.

Caso queira ir a fundo nos resultados do projeto, visite o site da Doutora Pascale Engel, idealizadora e coordenadora do projeto.

Carlos Tourinho de Abreu

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