Não quero que pensem que sou terrorista, mas o que estamos presenciando é o “tsunami perfeito”, devastando sem compaixão e nem piedade a economia brasileira.
Aquele ambiente de tranquilidade e prosperidade econômica que tivemos há tempos atrás dissipou-se, levando-nos para um abismo sem precedentes em função dos sucessivos erros praticados na gestão da política econômica nos últimos quatro anos. Enquanto isso, as justificativas governamentais continuam sempre recaindo no macro ambiente externo desfavorável.
Acontece que, mais uma vez, estamos caminhando contra os ventos globais. A economia mundial já está se harmonizando, os governos moderam os gastos, comprimem o endividamento, domam a inflação, que se mostra declinante e muitos países parecem estar assustados com o fantasma da deflação, embora ela também apresente inegáveis indícios de que as economias estão começando a se restabelecer.
No Brasil petista, os gastos públicos continuam em crescimento incessante, o endividamento se aproximando dos 60% do PIB (Produto Interno Bruto), limite suportável de referência internacional, a inflação elevada e excitada, mesmo que se pratique um dos juros mais altos do mundo; todas as sinalizações que se propagam em nossa economia doméstica denotam uma concreta possibilidade de convivermos com uma nociva estagnação da economia, conjuntamente com a ampliação da deterioração das suas contas públicas internas e externas.
A equipe econômica persiste em adiar as decisões inevitáveis que há muito já deveriam ter sido tomadas, alardeando que a situação já está melhorando. Entretanto, o tempo passa e as mazelas econômicas se consolidam.
O “tsunami perfeito” chegou trazendo em maio um saldo da balança comercial com um déficit acumulado de US$ 4,85 bilhões, na forma de déficit em conta corrente que soma US$ 33,5 bilhões, o que representa 4,65% do PIB, com investimentos estrangeiros diretos (IED) em abril de US$ 5,233 bilhões, menores do que os US$ 5,719 bilhões realizados em abril do ano passado.
Como informei acima, o nível de endividamento está consolidado bem próximo a 60% do PIB e grande parte das reservas internacionais foram formadas através desse comprometimento, pagando-se juros mais elevados que os recebidos e não pela utilização dos excedentes cambiais.
Uma “inovação” estratégica foi criada em 2008 – o Fundo Soberano do Brasil, com reservas estimadas em R$ 14 bilhões, administrado pelo Sr. Arno Augustim (Secretário do Tesouro Nacional), o único que consegue ser ainda pior do que o ministro Mantega na equipe econômica. O resultado é um colossal prejuízo aos cofres públicos, em função das aplicações exclusivamente em ações de empresas estatais e também com a finalidade de ser um excelente provedor para mascarar as contas públicas.
Em função das pesquisas realizadas mostrarem, desde o ano passado, que existe uma grande preocupação com a expansão da inflação, o Banco Central subiu a taxa de juros de 7,25% a.a. de abril de 2013, permanecendo em 11% a.a. até julho do corrente, mas os efeitos causados são insignificantes até o presente momento e suas causas continuam evidentes sem que o governo procure atacar os pontos cruciais.
Sentimos um indiscutível descompasso na relação oferta e demanda após os excessos de estímulos direcionados ao consumo e a inflação está superando os 6% ao ano, com possibilidade de terminar 2014 no teto ou ultrapassando seu limite estabelecido de 6,5%.
Como vimos há dias atrás, foi divulgado o PIB do primeiro trimestre, que mostrou uma expansão ridícula (0,2%) em relação ao último trimestre e, também preocupantes, foram os resultados apresentados para a formação do capital fixo (FBCF), com uma queda de 2,1%.
A taxa de investimentos de 17,7% e a taxa de poupança de 12,7%, ambas confrontadas com o PIB, são estarrecedoras.. Essas variáveis influenciam no desempenho futuro da economia e, diante deses resultados, fica claro que existem grandes chances de ainda convivermos com esses dados por um tempo razoável.
Voltando à problemática do PIB, que me parece importantíssima sobre vários aspectos, sua divulgação referente ao segundo trimestre deverá acontecer a partir dos meados de agosto vindouro, quando estaremos muito próximos ao primeiro turno das eleições majoritárias. A presidente Dilma corre um grande perigo de ter que engolir, possivelmente, uma taxa negativa no crescimento da nossa economia ou até mesmo, um PIB paralisado, o que, sem dúvida, seria extremamente negativo para sua obsessiva campanha de reeleição.
A situação poderá ser turbinada por uma inflação obstinada, medida pelo IPCA e acumulada em 12 meses, que deverá permanecer acima do teto da meta de 6,5%, durante aproximadamente quatro meses, devendo começar possivelmente em agosto e se estender até novembro, segundo previsões do mercado financeiro. Isso deverá marcar um período de desconforto para o governo, que já não tem mais muita margem de manobra na política monetária para conter a inflação. Seria tudo de bom para os 74% de eleitores brasileiros que desejam mudanças no sofrido Brasil.
Diante do que presenciamos, desejo me dirigir ao neopetista, economista e ex-ministro consagrado pelos governos militares, Prof. Delfim Netto, que, em outubro de 2013, criou a frase “tempestade perfeita” (metáfora para grandes distúrbios internos e externos que desestabilizam a economia de um país) e, com imenso respeito, peço-lhe licença para parodiá-lo, alterando parcialmente a sua expressão para “tsunami perfeito” (poderosa onda ou uma série delas que ocorrem em turbulências econômicas, desestabilizando os fundamentos macroeconômicos de uma nação) que, a meu ver, encaixa-se melhor na presente situação, em função da gravidade que enfrenta atualmente a economia brasileira, dificultando-lhe inclusive, pegar o vácuo na recuperação econômica global.
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)
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