quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

CHEGA DE D.R. !!! SÓ O SILÊNCIO SALVA O AMOR


Os corpos até se entendem, as almas nem sempre.

A D.R., a mitológica Discussão de Relação, tem tudo para dar errado.

A gente sabe disso, mas é melhor quando a ciência chancela a parada. Foi o que acabou de fazer o seríisimo linguista americano John Locke.

O cara lançou nos EUA “Duels and Duets”, ainda sem tradução no BR. É isso aí. Duelos e duetos.

A colega Juliana Vines resumiu a obra aqui na Folha.com: o livro diz que homens e mulheres se expressam de formas bem diferentes: eles duelam, disputando poder, e elas falam como se estivessem fazendo duetos, compartilhando informações.

A pesquisa sobre o desentendimento me fez lembrar de um casal que vive há 20 anos, na mais perfeita harmonia, sem trocar uma palavra, como registrei em uma crônica recente.

Vinte anos, amigo, sem um monossílabo, nem um pantim, nem um grunhido, nem um muxoxo, nem um arrulho, apenas o silêncio a lastrear o lindo amor dos pombinhos.

Talvez seja a fórmula do sucesso, o Santo Graal dos relacionamentos, a chave do mistério.

Assim vivem João e Maria –nomes falsos, óbvio, para preservá-los, pois moram em um lugar onde habitam menos de mil pessoas, na chapada do Araripe, Santana do Cariri (CE).

João e Maria, meia dúzia de filhos, estão na faixa dos 65 de idade e deixaram de se falar por besteira e capricho.

Certo dia, João a procurou, com teimosia e macheza, e Maria recusou-se a fazer os gostos sexuais do marido. Não estava a fim, pronto, queria ficar na dela.

O cabra voltou a insistir por mais cinco vezes nas semanas seguintes. A católica Maria, cansada de guerras e gravidezes, manteve-se na resistência.

Com o orgulho de macho ferido, ele fechou a cara. Em pouquíssimo tempo descobriram o bem que fazia aquele silêncio, passaram a conviver sem discussões ou arengas, estavam a dois passos do paraíso na terra.

Com a economia de palavras, não inventam conflitos, não brigam por miudezas, não ferem e não são feridos com o mal que sai da boca do homem.

Meu primo Zé Humberto, que visita aquele lar doce lar semanalmente para a venda de carne em domicílio, assegura: não há casal mais feliz nas redondezas.

Até mesmo quando estão em dúvida se compram um talho de contrafilé ou de costela, por exemplo, eles tocam de ouvido. Num simples olhar, resolvem.

Dias desses, Humberto flagrou João morrendo de saudade. Maria estava passeando em São Paulo. Ele morria por dentro de tanta falta.

De gozação e chiste, meu primo sugeriu um telefonema, pelo menos umas duas, três unidades de crédito no orelhão da esquina. O marido saudoso até se benzeu para evitar a tentação da proposta.

João aprecia mesmo, na mirada certeira dos seus olhos semi-áridos, é olhar a sua mulher sem que ela perceba. Admirá-la dormindo, por exemplo, a extrema beleza da calada da noite.

Fica horas neste exercício, relembrando o tempo em que estragavam o amor com palavras como tapuru –bicho-da-fruta- bota a perder as melhores goiabas.

Xico Sá

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