quarta-feira, 12 de maio de 2010

NO TEMPO DOS ALMANAQUES...

Barão de Itararé, de batismo Fernando Apparicio Brinkerhoff Torelly, nascido em 1895 numa carroça com a roda quebrada, numa viagem entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai. Com apenas dois anos, perdeu a mãe. O pai, sem condições para cuidar do filho, mandou-o para a fazenda do avô, de onde saiu já com sete anos, para morar com o pai, "mais louco do que eu", costumava afirmar. Um tio o internou num colégio de jesuítas alemães, em São Leopoldo, isso nos idos de 1905. Saiu em 1911.
Lá fez o seu primeiro jornal escrito a mão, que denominou O Capim Seco. Escrito à mão. Tiragem: um exemplar. Rapidamente saiu de circulação, por 'gozar' o padre reitor numa charge.
Sua verve era o humor, e dali para a frente, cresceu o seu espírito crítico e gozador.
Estudou Medicina, desistindo do Direito, aconselhado pelo pai: "Meu filho, para que um advogado tenha clientela, é preciso muito talento. A um médico, basta assinar receitas e atestados de óbitos."
Estudar Medicina, acho que era forte demais, pois raramente assistia a uma aula, preferindo freqüentar cabarés. Contavam-se muitas histórias de suas trapalhadas, que ele transformava em gozação.
Colaborou no jornal Última Hora, de Porto Alegre, e em várias revistas inexpressivas.
Pelos idos de 1961 publicou um livro de poemas chamado Pontas de Cigarro em que gozava os imortais da Academia Brasileira de Letras. Aliás, fez da ABL um dos seus alvos preferidos. Debochava do fato da ABL ter apenas quarenta cadeiras. Dizia que podia imitar os ônibus, por exemplo: quarenta sentados e sessenta em pé. Quando um imortal sentado esticasse a canela o outro sentava.
Fundou vários jornais no interior gaúcho, até decidir vir para o Rio de Janeiro, então Capital Federal.
Ainda no Sul, Aporelly sofreu várias crises de hemiplegia. Foi aconselhado a procurar um clima mais quente. Separado da mulher, mudou-se. Bateu na porta do jornal O Globo. "O que você sabe fazer numa redação?"
perguntou o diretor Irineu Marinho. Ele respondeu: "Tudo. Desde de varredor até Diretor. Aliás, acho que não há muita diferença." Ganhou o emprego, e com ele a profissão de jornalista. Escreveu uma peça teatral de humor, chamada A facada.
Nesse ano de 1925, foi trabalhar no jornal A Manhã, fundado por Mário Rodrigues, irmão de Nelson Rodrigues, onde escrevia a coluna Amanhã tem mais. No ano seguinte fundou o seu próprio jornal, A manha, que trazia abaixo do titulo, o dístico "quem não chora não mama".
No seu próprio jornal, ele radicalizou o humor ferino, atingindo as principais autoridades do país. Criticava sempre as ditaduras de Salazar em Portugal, e de Franco, na Espanha. Suas críticas e artigos valeram algumas prisões e agressões, não contando as ameaças.
Escrevia matérias com sotaque alemão, italiano e português. No sotaque italiano, criticava a dureza das leis que atrapalhavam a vida dos imigrantes. Escrevia: "Essa hisdória de lêge, isso é bobágio". As com sotaque português, frases como: "quaim naum taim cumputência naum se stabulece" e pensamentos como "U açucare é uma matéria que dá muito mau gosto ao café, nãon se lho butando."
Chateaubriand convidou Aporelly para transformar A Manha, num encarte do Diário da Noite, resistiu mas acabou aceitando. Encartada no jornal, A Manha dobrou de tiragem, vendendo cerca de 15000 jornais, o que era muito para a época. Chegou a 21000 e aumentando sempre. Em 1930, Aporelly saiu do Jornal de Chateaubriand, voltou a publicar A Manha, independentemente.
Viveu o período conturbado do Estado Novo. Fraudes nas eleições, Revolução de 1930, deposição de Washington Luís, surgimento do integralismo, com Plínio Salgado. A partir de 1933, Aporelly tornou-se um ferrenho opositor ao integralismo. Era o humor satírico a favor da inteligência. Getúlio reprimia os comunistas, mas dava alguma liberdade aos integralistas. Nesse clima surgiu com toda a corda o Jornal do Povo, dirigido pelo Barão de Itararé. O jornal havia anunciado a história em dez capítulos da Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro João Cândido. A Marinha considerou uma ofensa e fechou o jornal, e influenciada pelos integralistas, seqüestrou o Barão, levaram-no para a estrada da Gávea, onde o espancaram, rasparam seu cabelo e o deixaram nu.
Retornando a Redação, colocou a plaquinha: "Entre sem bater". Mas o jornal não sobreviveu. Do rigoroso inquérito para apurar o espancamento, ficou como sempre ficam os 'rigorosos inquéritos': nada se apurou.
Fechado o Jornal do Povo, o Barão de Itararé retorna com A Manha. Quanto a plaquinha, para bom entendedor meia palavra basta...Depois de longa temporada no presídio da Frei Caneca, no Rio de Janeiro, onde dividiu uma cela com o escritor Graciliano Ramos, ganhou a liberdade e relançou A Manha.
Dedicava-se agora, menos aos facistas nacionais, e voltava-se para as ameaças do facismo internacional: Mussolini, Franco, Salazar, Hitler...
Era curto ou quase não havia dinheiro no bolso do Barão. Para relançar A Manha, associou-se a Arnon de Mello, o pai de Fernando Collor de Mello. Agora surgiam n'A Manha, nomes como José Lins do Rego, Carlos Lacerda, Rubem Braga, Aurélio Buarque de Hollanda. A nova fase durou até 1948. Usou nesse período, vários pseudônimos, como Paty Farias, Pntey Osette e Zhero Aiskerda.
Prosseguia o deboche de políticos e intelectuais conservadores. Quando o Barão sentiu que a Ditadura balançava, cunhou uma frase que se tornaria célebre e repetida por muito tempo, por comentaristas políticos: "Há algo no ar, além dos aviões de carreira."
Com 76 anos, deu uma grande e última entrevista em 1971, ao chargista Fortuna, da revista Realidade. Demonstra o vigor de uma inteligência crítica, bem humorada, expansivo e risonho. Era um grande contador de 'causos'.
Vivia sozinho. Passou mal na noite de 26 para 27 de novembro. Não aceitou ir para a casa de um dos seus filhos. Morreu sozinho, no sábado.
O Barão de Itararé foi o Dom Quixote brasileiro. Vivo e atuante, investiu contra as mazelas políticas do seu tempo, com a lança do humor e da sátira. Libertário, como todo bom humorista, foi o predecessor de uma geração de humoristas sarcásticos, como Jaguar, Millôr Fernandes, Ziraldo e outros que combateram a ditadura de 64, como Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) o criador do FEBEAPÁ - Festival de Besteira que Assola o País.

M. AMERICO

quarta-feira, 5 de maio de 2010

ARCEBISPO AFIRMA: 'A SOCIEDADE ATUAL É PEDÓFILA.'

Dom Grings afirma: 'A sociedade atual é pedófila'.

Publicada em 04/05/2010 às 22h25m
Demétrio Weber (Fonte: O Globo)

BRASÍLIA - No primeiro dia da 48ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, instaurou uma grande polêmica ao falar sobre as denúncias de pedofilia contra padres. Presidente da comissão responsável pelo tema principal da reunião -- a missão da Igreja no mundo -, Dom Dadeus disse que "a sociedade é pedófila". Para ele, o abuso sexual de crianças e adolescentes é mais frequente entre médicos, professores e empresários do que entre sacerdotes.

- A sociedade atual é pedófila, esse é o problema. Então, facilmente as pessoas caem nisso. E o fato de denunciar isso é um bom sinal - disse.

Dom Dadeus, de 73 anos, criticou a liberalização da sexualidade por "gerar desvios de comportamento", entre os quais a pedofilia. Para ele, assim como homossexuais conquistaram mais espaço e direitos, o mesmo poderá ocorrer com pedófilos.

- Quando a sexualidade é banalizada, é claro que isso vai atingir todos os casos. O homossexualismo é um caso. Antigamente não se falava em homossexual. E era discriminado. Quando começa a (dizer) que eles têm direitos, direitos de se manifestar publicamente, daqui a pouco vão achar os direitos dos pedófilos - disse.

O arcebispo foi escalado pela CNBB para conceder a primeira entrevista coletiva da conferência, com outros três bispos. Dom Dadeus deixou claro que o abuso sexual de crianças e adolescentes é crime e deve ser punido. Mas admitiu que a Igreja tem dificuldade de cortar a própria carne, ao lidar com denúncias contra religiosos. Segundo ele, punições internas são adotadas, mas denunciar os casos à polícia é mais complicado:

- A Igreja ir lá acusar seus próprios filhos seria um pouco estranho.

Dom Dadeus disse que, na Alemanha, apenas 0,2% dos abusos sexuais contra crianças foram praticados por sacerdotes. Ele crê que os casos de pedofilia viraram um calcanhar de Aquiles e estão servindo para quem quer atacar a Igreja e valores como a castidade:

- Há uma anomalia na sociedade humana e que deve ser corrigida. Agora, não é justo dizer que só a Igreja que tem. Não é exclusividade da Igreja. A Igreja é 0,2%.

Conhecido por suas posições conservadoras, o arcebispo afirmou que a homossexualidade é inata apenas em pequena parte dos gays. Na outra parte, segundo ele, a opção sexual é resultado da educação recebida:

- Nós sabemos que o adolescente é espontaneamente homossexual. Menino brinca com menino, menina brinca com menina. Só depois, se não houve uma boa orientação, isso se fixa. Então, a questão é: como vamos educar nossas crianças para o uso da sexualidade que seja humano e condizente?

Indagado sobre a afirmação de dom Dadeus de que a sociedade é pedófila, o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, porta-voz da 48ª Assembleia, reagiu:

- É uma afirmação complicada, tem que ter dados para verificar isso.

Para dom Orani e o bispo de Araçuaí (MG), dom Severino Clasen, os abusos envolvendo padres são parte de problema que atinge diversos segmentos.

- Isso nos frustra e machuca muito - afirmou dom Severino. - O que nos envergonha é também o que nos leva a ter esperança de novos tempos.

  (in Brasil Um país de tolos)
 

COMENTÁRIO

Se vários sacerdotes introduziram o vírus do 'abuso' dentro da Igreja, Vossa Excelência Reverendíssima não pode transferir para a sociedade civil o ônus das denúncias de pedofilia que pesa sobre o corpo sacerdotal da instituição. Isentar tal crime da justiça do Estado, transferindo-o para a esfera de uma corregedoria interna do Vaticano, movida mais pelo espírito corporativista e pela preservação da imagem institucional, resulta e resultou na omissão que desencadeou o histórico e as denúncias que conspurcam a Igreja.
(m.americo)

domingo, 2 de maio de 2010

MEDALHAS E CONDECORAÇÕES...

Minha indignação é tanta, que não consegui escrever uma linha... Fiquei realmente fora de órbita.
Não é possível que se fira a Constituição de maneira tão afrontosa. Não é possível que a nação assista ao espetáculo circense montado no Planalto Central, e fique muda ou, quando muito, tartamuda...
Não bastasse os escândalos dos cartões corporativos, do enriquecimento do Lulinha, temos que engolir medalhas e condecorações.
Por que a sociedade assiste tão passivamente a essa esbórnia de poder?
Agora pesa a ameaça da censura dos BLOGS, com a OAB e o ex-Ministro Tarso Genro, na liderança. Como se já não bastasse o esforço para alterar a liberdade de imprensa, criando os censores de plantão.
Censurar os únicos meios de denúncia e de informação? Onde mais se pode buscar um jornalismo investigativo e atuante, sem compromissos, senão com a notícia e com a verdade?
Fico estarrecido. Não apenas pelas notícias veiculadas pelo Blog O TOMBO DO SACY. E não apenas essas... Fico estarrecido com a nulidade de um Congresso, que permite que se chegue a esse ponto! Fico estarrecido com a sociedade civil e suas instituições, que permitem tal abuso! Fico estarrecido, enfim, pela inequívoca ausência de seriedade e de respeito ao povo brasileiro.
Dói assistir a manipulação das consciências ingênuas do nosso povo, com o cartão corporativo-eleitoreiro do BOLSA FAMÍLIA. Incomoda como uma unha encravada em sapato apertado, ver o nosso povo mergulhado na pobreza, sem investimentos em saneamento básico, saúde, educação, moradias populares... Dói assistir às doações milionárias, para vender imagem na mídia internacional, retirando recursos tão imprescindíveis no atendimento das necessidades básicas dos nossos miseráveis bolsões de pobreza...
Dói demais ver o retrato do Brasil nos sorrisos largos da família Lula, que deveria poupar, pelo menos por constrangimento, o espetáculo da bonança desmedida e escancarada...
Então, não querendo estragar o seu domingo, mas já estragando, dou a notícia desse BLOG admirável, merecedor da medalha BRASILCOMVERGONHA...

MARISA É COMENDADORA
Marisa recebe comenda Ordem do Rio Branco!

Art. 1° A Ordem de Rio Branco, instituída pelo Decreto n° 51.697, de 05 de fevereiro de 1963, com o fim de galardoar as pessoas físicas, jurídicas, corporações militares ou instituições civis, nacionais ou estrangeiras que, pelos seus serviços ou méritos excepcionais, se tenham tornado merecedoras dessa distinção, é composta dos seguintes graus:

a) Grã-Cruz

b) Grande Oficial

c) Comendador

d) Oficial

e) Cavaleiro

§ 1° A Insígnia da Ordem conferida às corporações militares ou às instituições civis será aposta em suas bandeiras ou estandartes, sem atribuição de graus.

§ 2° Observado o disposto no parágrafo único do art. 18, uma medalha de prata, com a inscrição “Medalha do Mérito de Rio Branco”, poderá ser outorgada para premiar outros serviços relevantes prestados à Nação.

Condecoração por quê?
Quem é Marisa Letícia Lula da Silva?

Resposta: Até o DIA DO DIPLOMATA (20 de abril), nada além de mulher de presidente. Depois, a detentora da condecoração Ordem de Rio Branco, no grau de Grã-Cruz, o mais elevado distribuído pelo Ministério das Relações Exteriores. Recebem também tal honraria, juntamente com Marisa do Bolsa Netinho, Marisa Gomes da Silva, esposa do Vice-Presidente (de quem ninguém sabe, ouviu ou viu) e a esposa do chanceler, Ana Maria Amorim.

Condecoradas Marisa e "cumpanheras" de comenda.. U Pudê é baõ!

Para não dar na vista e causar protestos, a distinção, que normalmente é feita por Lula ou Celso Amorim- será entregue por substitutos, pois não pegaria bem receberem a homenagem dos “maridões” Lula e Celso viajaram para os EUA.

Celso Amorim- entusiasticamente - Justifica:

“VOCÊ NÃO PODE IMAGINAR UMA ATUAÇÃO COMO A DO PRESIDENTE LULA SEM O APOIO DE SUA MULHER”

“Também para Dona Marisa é reta final: ela vive os últimos meses dos oito anos como a primeira dama mais discreta do Brasil”. (Cristiana Lemos)

Realmente as esposas do Presidente e do seu Vice, quando o assunto é obra social, são muito, mais muito discretas, mesmo!
Traduzindo: Inexpressivas, adoradoras do próprio umbigo!

(Excertos do site O TOMBO DO SACY http://aguapotavel.wordpress.com/ )

M. AMERICO

sábado, 1 de maio de 2010

O QUE ACONTECEU COM A IGREJA?

Como dizia W.Churchill, "Pode-se enganar todo mundo um certo tempo, mas não se pode enganar todo mundo, todo o tempo..." Há um momento, tanto na vida de um homem, quanto na vida de uma instituição, que a invisibilidade da túnica termina, e o menino, daquele conto de Hans Christian Andersen grita: "o rei está nu!"
Os escândalos sexuais que desabam agora sobre as catedrais, é o resultado de uma política de tolerância com padres que destroçaram a credibilidade e mancharam a dignidade de uma instituição. Sabemos que a nódoa de uma túnica, e no caso de muitas túnicas, contaminam as demais, por imaculadas que sejam. E os escândalos denunciados em todo o mundo, agora mancham também a credibilidade do Vaticano, de sua imagem maior, o Papa, e pode marcar uma revolução na Igreja.
Quando em 1996 o padre americano Lawrence Murphy, acusado por colegas de hábito, de práticas sexuais com crianças, a Congregação para a Doutrina da Fé, uma espécie de corregedoria interna do Vaticano, que decide que punição adotar para o crime ou ato denunciado, o comando da Congregação optou pelo silêncio e pela omissão. Segundo o New York Times, o homem do comando era nada menos que Joseph Ratzinger, que nove anos depois, tornar-se-ia o Papa Bento XVI.
O desastre da pedofilia ganha uma proporção desmedida, porque atinge a maior religião do mundo, com cerca de um bilhão de fiéis e quatrocentos mil sacerdotes. E a imprensa internacional não cala. Vem de longa data as denúncias de pedofilia contra padres católicos. Em 2009 veio à tona na Irlanda um dossiê relatando o abuso de 15.000 crianças, em mais de 250 instituições da Igreja no país, entre 1930 e 1990. A maioria meninos...
Aí o circo pegou fogo: 350 denúncias na Holanda; 300 na Áustria e na Alemanha...
Um relatório encomendado pela Conferência de Bispos Católicos dos EUA, apurou que 4% dos padres foram denunciados por abuso sexual de menores no país, entre 1950 e 2002. No resto do mundo, ainda segundo o relatório, a média estaria entre 1,5% a 5%. Enfim, pelos índices apontados, parece que o Vaticano admite que a proporção de pedófilos entre padres é maior do que na sociedade leiga.

O ano de 1976 assinala, diante dos fatos, o início de uma mudança dentro da Igreja: ocorria a transferência da questão, da ordem espiritual para a científica, admitindo-se que tais comportamentos eram frutos de distúrbios psicossexuais, o que apontou para a necessidade de avaliações psicológicas dos candidatos ao celibato religioso.
Mas a principal mudança veio agora, em 12 de abril, quando o Vaticano instruiu os seus Bispos, a tratar a pedofilia como um caso de justiça comum.
Se realmente isso acontecer, será uma revolução, considerando que a Igreja sempre se manteve afastada do poder do Estado.
O silêncio sobre os crimes internos foi ratificado até o século XX, No documento Crimen Sollicitationes, 1962, o Papa João XXIII, determinou que os abusos de crianças deveriam ser tratados pela Igreja em segredo total, sob pena de excomunhão.
Preservava-se o espírito corporativo da Igreja, com a destruição de todos os documentos que apresentavam provas, caso a denúncia fosse considerada infundada.
Em 2001, o cardeal Joseph Ratzinger ratificava o poder da Congregação para a Doutrina da Fé que continuaria a ter competência exclusiva em relação aos crimes de pedofilia.
Não se ventilava em hipótese alguma, a intervenção do Estado laico nos assuntos internos da Igreja.

Agora, ao admitir a intervenção da Justiça do Estado no crime de pedofilia, Bento XVI deu um pequeno grande passo, ao tirá-lo do jugo da divina justiça e passá-lo a justiça dos homens.
Será que a Igreja saberá lidar com a justiça dos homens, depois de milênios, apenas respondendo diante das leis divinas?
Acredito que será feito um grande projeto de remodelação do cânone católico, para salvaguardar a própria sobrevivência da Igreja... Resta saber se o projeto dará certo...
Lembro-me de Voltaire: "écraser l'infâme!"
Alguma coisa muito próxima daquele senador romano, Catão, que em toda sessão do Senado bradava: "delenda Cartago! "
"Há mais coisas entre o céu e a terra, do que sonha a nossa vã filosofia..."

M. AMERICO