terça-feira, 10 de março de 2015

O QUE VOCÊ QUER SER QUANDO MORRER - ÁRVORE OU VINIL? PARTE 2


“Quando eu morrer, quero virar árvore” é um comentário comum dos empolgados com o anúncio de um projeto italiano chamado “The Capsula Mundi”. Desenvolvido por dois designers, Anna Citelli e Raoul Bretzel, consiste na substituição de caixões por cápsulas biodegradáveis, em formato de ovo. O corpo é enterrado em posição fetal, dentro dessas cápsulas, e servirão de nutrientes para uma árvore que crescerá a partir de sua decomposição. 


Pode-se plantar uma semente de árvore ou a própria árvore em cima do casulo. O site do projeto disponibiliza algumas opções de árvores para escolha, dependendo da região, e afirma que “a árvore representa a união entre a terra e o céu, o material e o imaterial, o corpo e a alma”.

Ainda não funciona na prática, porque as leis italianas não permitem esse tipo de enterro. Quando houver a permissão, seu objetivo é criar um cemitério cheio de árvores ao invés dos túmulos tradicionais. E oferecer um impacto positivo no meio ambiente, já que estaríamos adicionando uma árvore no mundo ao invés de usarmos uma para fazer o caixão.

Outra ideia inovadora é a opção de “virar um vinil” ao morrer. Os restos mortais são prensados num disco de vinil que toca músicas de sua escolha. O pacote básico custa U$3.000 dólares e inclui decoração e gravação de até 30 discos com duração máxima de 24 minutos cada, 12 minutos cada lado. 
Pode-se gravar depoimentos, sua própria voz, o testamento falado, músicas ou mesmo nada, para apenas escutar o som produzido pelas cinzas no vinil. O site da empresa que faz esse tipo de serviço diz: “quando o disco da vida finalmente chega ao fim, não seria bom mantê-lo rodando por toda a eternidade?”.

Opções alternativas para o destino de nossos restos mortais têm surgido a cada dia, e podem ser utilizadas para animais de estimação também. No post O que você quer ser quando morrer”, exploro alguma delas. Citei a transformação de cinzas em diamantes (para fazer um colar ou uma anel, por exemplo) ou em tinta para a pintura de um quadro escolhido ainda em vida (ter o vovô pendurado na sala, misturado ao “O Beijo” de Klimt, por exemplo). Também é possível mandar suas cinzas para o espaço. Veja as empresas que fazem esse tipo de serviço e os custos no post.

Acredito que a tendência de escolhermos o que será feito com nossos restos mortais está relacionada à abertura da discussão sobre o tema da morte. A própria possibilidade de editarmos um blog como o “Morte sem Tabu” mostra que esse assunto já pode ser debatido hoje com maior naturalidade.

Há a possibilidade de pensarmos na morte e no morrer além do que um discurso religioso proporciona e assim surgem ideias próprias sobre rituais fúnebres. A religião se coloca não mais como algo pré-determinado e de conceitos inquestionáveis, mas abre a possibilidade para certa autonomia. Assim, quem sabe podemos personalizar nossa ideia de morte, recortando informações de várias fontes, misturando dogmas, religião com filosofia e ciência, e permitindo a expressão de desejos pessoais, sem o rótulo de profano ou desrespeito que existia antigamente.

10 de março de 2015
Camila, Morte sem Tabu

O QUE VOCÊ QUER SER QUANDO MORRER?

Novas alternativas surgem para o destino do corpo após a morte. São métodos que se propõem a serem mais ecológicos, como a biocremação, ou possibilitar a reutilização dos tecidos, como a plastificação,  mumificação ou criogenia (congelamento). Há também alternativas criativas para o destino das cinzas, como uma empresa especializada em levá-las ao espaço ou jogá-las na superfície da lua, e outra que as transformam em diamantes e quadros. Brincando com o título desse post, você pode virar uma múmia, uma joia, um quadro, um astronauta, ou desaparecer na natureza. São possibilidades mais acessíveis do que se imagina. Confira abaixo.

Legado acadêmico
Esse não é novo, mas é uma alternativa: Pode-se doar o corpo para estudo científico. Ele vai, por exemplo, para o Laboratório de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) a ser estudado pelos alunos de graduação e pós-graduação em Anatomia Humana. Veja como doar o corpo e perguntas mais frequentes nesse link. Também veja informações no site da prefeitura de SP, via esse link.

Biocremação
É um processo que ganha popularidade nos Estados Unidos. Ele se baseia em liquefazer o corpo, com hidróxido de potássio. A cremação ocorre com água e não fogo, por isso é chamado de “Flameless Cremation” (cremação sem fumaça). Os ossos, que não se tornam líquidos no processo, são cremados no processo normal. É mais ecológico, por soltar 75% menos dióxido de carbono na atmosfera e usa 30% menos energia, mas é mais caro. A funerária Anderson-MacQueen, na Flórida, já está usando o modelo de liquefação e coloca o impacto ambiental como sua maior justificativa. Outra forma que se propõe a ser uma alternativa mais ecológica é o “Promession”, já disponível na Grã Bretanha. Criado por Susanne Wiigh-Masak, ele congela o corpo a -18°C e depois o imerge em nitrogênio líquido a -196°C. O corpo se despedaça e os metais, como obturações dentárias e próteses, são extraídos e reciclados.

Criogenia
O futuro está aqui. A criogenia, congelamento do corpo, é um processo muito caro e ainda não é visto como uma alternativa real. Mas existem instituições procurando avançar nesse sentido. A ONG Alcor, nos Estados Unidos, congela corpos de pessoas com doenças incuráveis na expectativa de que no futuro, quando a cura for encontrada, a pessoa seja reavivada. Parece filme de ficção científica, mas a organização existe e já tem mil membros.

Plastificação
Outra maneira de preservar o corpo é a plastificação. Ela foi criada por Gunther Von Hagens e é possível doar o corpo através desse site para ser plastificado e usado em escolas de anatomia ou em  exposições como a que chegou ao Brasil em 2007, “Corpo Humano: Real e Fascinante”. A exposição foi polêmica e muitos se surpreendiam em ver o corpo humano do avesso, de forma tão real. O próximo pode ser o seu.

Mumificação
Se você é apaixonado pelos egípcios e não entende porque não existe mais o hábito de mumificar corpos, conheça a Summum (org) ou Summum (EUA), uma ONG americana especializada em mumificação. Apresentam-se como a única instituição especializada em mumificação moderna no mundo e fazem o serviço com pessoas e animais. A mumificação de pessoas custa US$67.000 e a de um gato de 4kg, por exemplo, US$4.000. Algumas agências funerárias americanas já oferecem essa opção, em parceria com a Summun.

Cinzas siderais
Ter suas cinzas lançadas no espaço não é tão inacessível quanto se imagina. A empresa americana Celestis, é especializada em levar as cinzas do morto para o espaço. Já fizeram 13 lançamentos, cada um levando várias urnas. Um deles, em 2009, levou as cinzas do criador de Star Trek Gene Roddenberry e sua esposa. Os custos partem de US$1.000 e dependem do tipo de lançamento: no mais barato, as cinzas passeiam ao redor da Terra e voltam para a família, nos mais caros, partindo de US$12.500, as cinzas são lançadas na órbita da Terra, na órbita ou superfície da lua ou no espaço profundo. Seu sonho de ser astronauta agora pode ser realizado, só que depois da morte.

Jóia rara
Uma empresa suíça, Argodanza, inovou ao transformar as cinzas em diamantes, possibilitando parentes e amigos levarem um  pedaço do ente querido em forma de pingentes, pulseiras ou anéis. No Brasil, ela trabalha em parceria com o Crematório Vaticano, em Santa Catarina. A descrição do procedimento e perguntas frequentes podem ser conferidas aqui.
O Cemitério e Crematório Horto da Paz em Itapecerica da Serra (SP) cria diamantes a partir do cabelo do falecido. São três opções de cores: champanhe, azul e incolor. Os valores  começam em R$1.800 (0,05 pontos, cor champanhe) até R$14.000 (0,70 pontos, cor champanhe).A alquimia é feita em parceria com a empresa Brilho Infinito, submetendo-se o carbono do cabelo a altas pressões e temperaturas. Um vídeo sobre esse serviço pode ser visto aqui, clicando em “ Diamantes Brilho Infinito” na aba esquerda.

Obra de arte
O Cemitério e Crematório Horto da Paz também oferece a transformação das cinzas em quadros. O método é chamado de arte Picto-Crematória. A artista plástica Cláudia Eleutério mistura as cinzas da cremação à tinta e pinta um quadro de preferência da família ou que o falecido escolheu antes de morrer. Um quadro custa em média, R$ 4.000 reais (tela de 50 X 70cm e moldura padrão) Um vídeo sobre essa técnica pode ser conferido aqui, clicando em “arte picto-crematória” na aba esquerda. Imagine ser fã de Gustav Klimt e pedir para ser eternizado nos contornos de “O Beijo” junto com sua esposa. Romântico, não?

10 de março de 2015
Camila, morte sem tabu