segunda-feira, 3 de setembro de 2012

AS CONTRADIÇÕES


Tenho observado durante todo esse tempo muitas pessoas que se mostram radicalmente contraditórias em suas atitudes.

Até eu me enquadro nessa mercurialidade.

Notei, por exemplo, que há pessoas que não arredam de serem vingativas, no entanto se mostram comoventemente amorosas no fulcro de sua emotividade.

São capazes de ódios repentinos e passageiros, mas no cerne de sua personalidade revelam-se generosas, dadivosas, românticas e se entregam em atitudes de amor e paixão de modo devotado.

Já, não por outra razão, o estudo psiquiátrico colheu nesse campo da inclinação humana o fenômeno que denominou de bipolaridade.

O bipolar, muito frequente nas relações humanas, se caracteriza por uma variação permanente: ora está deprimido, arrasado, no mais completo baixo-astral, ora está em euforia, num êxtase mental que beira o delírio deleitoso.

A euforia é muito rica – e pobre – em suas reações.

A pior reação da euforia é a irritabilidade. Por ela, uma pessoa tanto pode indignar-se com raiva de outra como até se atirar à destruição de seu semelhante.

Não queira ser alvo da irritação de quem está em euforia.

No entanto, a euforia se alterna periodicamente com a depressão, esta um estado mórbido de prostração que derruba o indivíduo a ponto de, na maioria das vezes, querer encerrar-se em seu quarto e não encontrar-se com ninguém, nem com seus próprios familiares, dentro de sua casa.

O deprimido estende os limites de sua solidão e se priva de todas as relações humanas que não forem essenciais, eliminando as triviais.

Chega a ser fenomenal que uma mesma pessoa pareça ser duas, uma aberta e estuante para a relação com os outros, a outra taciturna e avessa aos contatos humanos, embora o primeiro tipo se muna por vezes de agressividade.

A psiquiatria tem atacado com relativo sucesso a bipolaridade, através de medicamentos químicos.

O estado normal e saudável da pessoa humana é um ponto equilibrado, distante claramente da euforia e da depressão.

Este ponto é mais suscetível de felicidade.

 
Paulo Sant`Ana
ZERO HORA
03/09/2012

EM BUSCA DA VAGINA PERFEITA

Cirurgia plástica íntima é mania mundial que preocupa ginecologistas

Lábios vaginais recauchutados e outros retoques na genitália feminina não podem ser facilmente exibidos como peitões de silicone ou barriguinhas lipoaspiradas. Mesmo assim, são o último fenômeno no cardápio moderno das intervenções plásticas.

Nos EUA, são feitas mais de 1,5 milhão de cirurgias íntimas. No Reino Unido, 1,2 milhão. No Brasil, médicos apontam um crescimento de 50% nos últimos dois anos.


Jamie McCartney/Divulgação
Um dos painéis que compõem o "Grande Mural da Vagin", do artista plástico inglês Jamie McCartney
Um dos painéis que compõem o "Grande Mural da Vagin", do artista plástico inglês Jamie McCartney

O ginecologista Paulo Guimarães é expert em "design vaginal". Dá cursos de formação em cosmetoginecologia para médicos. Nos treinamentos, diz, 900 mulheres são operadas por ano, a preços menores. No consultório, "com atendimento personalizado e sigilo", afirma fazer 15 cirurgias íntimas por mês.

O cirurgião plástico Marcelo Wulkan, que atende em São Paulo e tem trabalhos sobre redução de lábios vaginais em publicações internacionais, diz fazer cem desses procedimentos por ano.
Mesmo médicos mais conhecidos por outros tipos de cirurgia, como implantes mamários e plástica de nariz, estão vendo a procura crescer.

"Nos últimos dois anos, passei de uma cirurgia íntima para três por mês", conta Eduardo Lintz, chefe de cirurgia plástica do hospital HCor, de São Paulo, e professor do Instituto Ivo Pitangui, no Rio. No total, Lintz faz cerca de 40 cirurgias plásticas mensais.

TAMANHO-PADRÃO

Como não há evidências de que os lábios vaginais cresceram nos últimos anos, especula-se que o aumento de cirurgias redutoras esteja ligado à uma nova busca de medidas genitais "padrão".
E o que é uma vagina normal? Assim como as estatísticas brasileiras sobre cirurgia íntima, as medidas são imprecisas. "Isso é um pouco subjetivo. Quando o lábio menor não ultrapassa 2 cm de largura pode ser considerado normal", diz Wulkan.

Está longe de ser consenso. Segundo estudo no "British Journal of Obstetrics and Gynaecology", a diversidade de tamanhos observada nos lábios vaginais da população é imensa, o que amplia o espectro de normalidade.

O mesmo estudo aponta que trabalhos anteriores definiram como acima do normal lábios com mais de 4 cm de largura, mas essa medida deve ser revista e ampliada.

Quando os lábios menores ultrapassam os maiores, a tendência é serem considerados candidatos à cirurgia. Mas não se trata de uma imperfeição física.

"É constitucional, a mulher nasce com essa característica, como nasce com um nariz grande", diz Lintz.

No entanto, o que é natural já não é o normal.

Imagens de nus femininos, reportagens e material didático criam o modelo de normalidade, diz a antropóloga Thais Machado-Borges, do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Estocolmo, Suécia.

No estudo "Um olhar antropológico sobre a mídia, cirurgia íntima e normalidade", ela diz que as mulheres consideram atrativas as formas que correspondam a esse modelo, criadas por técnicas cirúrgicas. "Será que essas cirurgias podem transformar zonas erógenas em 'paisagens' onde reina o prazer?", questiona.

Como em relação a narizes, peitos e bundas, o padrão estético muda conforme a época e o país. "Nos EUA, as mulheres querem vagina pequena, cor-de-rosa. As brasileiras querem no mesmo tom de pele do das mãos, com lábios de 1 cm a 1,5 cm", diz o ginecologista Paulo Guimarães.
"É o modelo imaginário do órgão de menininha, o formato 'sou virgem'", interpreta a psicóloga Rachel Moreno.

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia alerta seus membros sobre riscos dessa onda.

"É preciso muito cuidado para mexer em locais com tantas terminações nervosas. As cirurgias íntimas são vendidas como soluções para dificuldades sexuais, mas, se você mexer onde não era para mexer, você piora o que era para melhorar", diz Gerson Lopes, presidente da comissão de sexologia da entidade.
 
03 de setembro de 2012
IARA BIDERMAN, DE SÃO PAULO